NEGÓCIOS SOBRE RODAS PARA TODOS

 




   Os tempos estão a mudar e da mesma forma os métodos de trabalho também mudam com o tempo e adaptam-se ao presente. Estamos no início de um Ano Novo e nestes dois últimos anos que passaram, muita coisa mudou e ainda vai haver mais mudanças. Quem se atreve hoje a prever o que vamos viver e experimentar neste ano 2022? Já nos demos conta que a vida neste planeta é curta e o que é seguro e certo hoje, amanhã já pode não ser. Quem ainda se lembra dos almocreves? Com o tempo a mudar, já se chamaram vendedores ambulantes. E algumas artes populares desenvolveram-se com o contributo destes homens e mulheres que iam de terra em terra oferecer os seus serviços em que a habilidade era fundamental. Desde ferreiros, latoeiros, amoladores de facas e tesouras, arranjos de guarda-chuvas ou sapatos, vindo mais tarde juntarem-se os padeiros, os peixeiros (vendedores de peixe e não arruaceiros), talhantes e nestes últimos tempos, juntaram-se os merceeiros e os barbeiros.
   Na nossa aldeia há muitos anos que as pessoas se acostumaram a esperar pelo padeiro e outros vendedores sobre rodas. E diariamente se ouve o som das buzinas e algumas cantigas populares, invadindo o silêncio deste paraíso. Vêm todos com os mesmos propósitos e o que desejam é vender e deixar os clientes com o essencial à vida do dia a dia.
   As aldeias e cada vez mais, precisam de oferta deste género de serviços. As pessoas que vivem na nossa aldeia são gentes de idade avançada, muitos nunca se deslocaram por meios próprios e só dali saem para ir ao médico ou aos mercados. E agora com o avançar da idade, menos gostam de sair daqui e apreciam a vinda destes senhores o pão e companhia.
   Durante o Verão e no tempo que andei a percorrer as terras do nosso concelho, dei-me conta que os vendedores ambulantes andam por todo o território e mesmo naqueles lugares mais pequenos e com meia dezena de almas, encontrava-os a prestar os serviços com o mesmo afinco. Um dos dias encontrei uma barbearia ambulante. O homem teve a ideia de transformar uma carrinha em barbearia. E com toda a simpatia e gentileza, lá me mostrou a sua barbearia e as terras por onde tem andado a cortar cabelos e barbas. Quem olha de fora para a porta e o tolde fica com curiosidade de espreitar e ver o barbeiro a usar a tesoura e pente. Daquela vez fiquei-me pela visita e explicação e disse-lhe que um dia, quando não sei, se o encontrasse em Malcata e estivesse a precisar de uma aparadela ao cabelo, ia mesmo marcar vez. Mal sabia eu que não buzinava pelas ruas da minha aldeia e portanto também não seria lá que me cortaria o cabelo. Mas então o senhor está aqui tão perto, vi ali no seu registo que percorre uma série de freguesias e lugares aqui do Sabugal, não vai a Malcata? Estranho amigo, é que lá não conheço nenhum barbeiro! Silêncio e calma...ouvi esta frase:
olhe amigo, eu queria ir, mas não vou, pergunte lá na junta!
   Termino esta crónica com uma pergunta: porque não vai o barbeiro sobre rodas prestar os seus serviços aos cidadãos que vivem na nossa aldeia?
                                                    José Nunes Martins






  
  


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