As andorinhas
costumam chegar ao nosso país na Primavera, quando o frio do Inverno dá lugar a
temperaturas mais amenas. Elas chegam sem avisar e voltam normalmente ao ninho
onde já procriaram nos anos passados. Vêm sem saber se está tudo igual, voam
para a aldeia confiantes nos bons ventos, na convicção que encontrarão casa
para descansar e passar os meses de mais calor.
O silêncio e as pessoas não incomodam,
regressam porque se sentiram bem das outras vezes. O importante é conseguir
voltar.
Muitos dos malcatenhos partimos da
aldeia e vivemos durante anos, longe da terra. Alguns foram com os bolsos
vazios e o cérebro cheio de sonhos e promessas. O trabalho que encontravam
nunca custava tanto como aquele que faziam nos campos, agarrados ao arado, à
charrua para lavrar as terras. Os dias de trabalho eram mais bem divididos.
Tinham horas para começar e para terminar a jornada, não estavam dependentes da
luz do sol, apesar de alguns começarem muito cedo ou trabalharem durante toda a
noite.
Lembro algumas das cartas que recebia
dando conta de que “as andorinhas já chegaram” ao ninho da varanda do Tio Zé
Pires. Eu sorria e imaginava a varanda da casa dos meus tios povoados de
andorinhas. Ainda este ano elas regressaram ao ninho. Quem já não regressa mais
a esta casa são os meus tios, os dois voaram livremente para outros mundos
infinitos, levando consigo as memórias das andorinhas.
Quando este ano cheguei à aldeia, as
casas estavam ainda mais velhas, vazias, sem vidros nas janelas e com as portas
entre abertas, nada impedia que eu entrasse. O que eu vi nalgumas dessas casas,
não foram pessoas, foram andorinhas. Nos beirais das casas, do minimercado
Armindo, lá andavam elas de um lado para o outro. Chilreavam como se estivessem
a conversar umas com as outras, pareciam todas da mesma família e raramente desciam
ao chão, lá se equilibravam nos beirais e cabos que atravessam o espaço aéreo e
em todas as direcções.
Ao passar pela Torrinha, lá estavam os
rostos de gente que se habituou às andorinhas.
Aceno com a mão e abro um sorriso a
um grupo de gente que não esconde as rugas do rosto que testemunham cada ano de
vida. Depois de subir a rua, cheguei à casa da minha infância, ao ninho onde
nasci. Porque as minhas memórias também voam e o meu coração sabe o caminho, lá
vou enfrentando os ventos e as pedras que me vão aparecendo quando ando pelas
ruas e caminhos da aldeia. Tal como as andorinhas, sou pequeno em tamanho, mas
teimoso o suficiente, persistente e enfrento aqueles pássaros que se acham
donos de tudo e lutam por manter o seu domínio sobre os mais frágeis. Que nunca
me falte a coragem para regressar, porque também pertenço ao ninho onde nasci e
se as andorinhas são capazes de regressar, eu também nunca terei medo de
voltar, porque as minhas asas sabem sempre onde pousar.
José Nunes Martins