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terça-feira, 12 de agosto de 2025

MALCATA É O MEU NINHO



 

   As andorinhas costumam chegar ao nosso país na Primavera, quando o frio do Inverno dá lugar a temperaturas mais amenas. Elas chegam sem avisar e voltam normalmente ao ninho onde já procriaram nos anos passados. Vêm sem saber se está tudo igual, voam para a aldeia confiantes nos bons ventos, na convicção que encontrarão casa para descansar e passar os meses de mais calor.
   O silêncio e as pessoas não incomodam, regressam porque se sentiram bem das outras vezes. O importante é conseguir voltar.
   Muitos dos malcatenhos partimos da aldeia e vivemos durante anos, longe da terra. Alguns foram com os bolsos vazios e o cérebro cheio de sonhos e promessas. O trabalho que encontravam nunca custava tanto como aquele que faziam nos campos, agarrados ao arado, à charrua para lavrar as terras. Os dias de trabalho eram mais bem divididos. Tinham horas para começar e para terminar a jornada, não estavam dependentes da luz do sol, apesar de alguns começarem muito cedo ou trabalharem durante toda a noite.
   Lembro algumas das cartas que recebia dando conta de que “as andorinhas já chegaram” ao ninho da varanda do Tio Zé Pires. Eu sorria e imaginava a varanda da casa dos meus tios povoados de andorinhas. Ainda este ano elas regressaram ao ninho. Quem já não regressa mais a esta casa são os meus tios, os dois voaram livremente para outros mundos infinitos, levando consigo as memórias das andorinhas.
   Quando este ano cheguei à aldeia, as casas estavam ainda mais velhas, vazias, sem vidros nas janelas e com as portas entre abertas, nada impedia que eu entrasse. O que eu vi nalgumas dessas casas, não foram pessoas, foram andorinhas. Nos beirais das casas, do minimercado Armindo, lá andavam elas de um lado para o outro. Chilreavam como se estivessem a conversar umas com as outras, pareciam todas da mesma família e raramente desciam ao chão, lá se equilibravam nos beirais e cabos que atravessam o espaço aéreo e em todas as direcções.
   Ao passar pela Torrinha, lá estavam os rostos de gente que se habituou às andorinhas.    
    Aceno com a mão e abro um sorriso a um grupo de gente que não esconde as rugas do rosto que testemunham cada ano de vida. Depois de subir a rua, cheguei à casa da minha infância, ao ninho onde nasci. Porque as minhas memórias também voam e o meu coração sabe o caminho, lá vou enfrentando os ventos e as pedras que me vão aparecendo quando ando pelas ruas e caminhos da aldeia. Tal como as andorinhas, sou pequeno em tamanho, mas teimoso o suficiente, persistente e enfrento aqueles pássaros que se acham donos de tudo e lutam por manter o seu domínio sobre os mais frágeis. Que nunca me falte a coragem para regressar, porque também pertenço ao ninho onde nasci e se as andorinhas são capazes de regressar, eu também nunca terei medo de voltar, porque as minhas asas sabem sempre onde pousar.

  

                                                          José Nunes Martins