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21.1.23

O SACRIFÍCIO NECESSÁRIO

      Cada vez que sei de notícias de que na aldeia se vai fazer qualquer coisa que ajude a manter e a preservar as tradições, os costumes e as memórias da aldeia, fico contente. Infelizmente faz-se muito pouco nesse sentido.
      Desta vez na aldeia vão recordar uma das tradições mais marcantes para as famílias do mundo das aldeias, a matança do marrano (porco). E nada melhor que uma fatia de pão com uma fêvera  por cima e um copo de vinho que ajude a empurrar!

      

Trabalho fundamental para tudo aproveitar

   Tenho ainda memórias das matanças que se faziam na aldeia onde nasci. Lembro-me das horas que era preciso para fazer a matança, era tão demorada que levava um dia inteiro.
   Actualmente quase que desapareceu esta tradição familiar de criar um porco para matar. E quando alguém decide criar o porco, a matança é feita em moldes diferentes e os métodos já não são os mesmos. Continua a ser dia de festa e de muito trabalho e por aqui fica.
   A tradição e o costume de sacrificar um animal só o compreendemos se enquadrarmos essa tradição e esse costume no tempo e nas circunstâncias da época, conhecer o modo de vida familiar e comunitário de uma aldeia rural. Quem não nasceu na aldeia, quem cresceu fora de uma comunidade rural, com facilidade acha uma matança uma acto condenável, uma tradição que pouco tem de boas-práticas e sim uma atitude cruel das pessoas para com o animal. Quem vive no meio “civilizado” das cidades, estão habituados a comprar carne nos talhos, seja no da sua rua ou o do supermercado. Compram todo o tipo de carne e nem se interrogam dos procedimentos que foram necessários para os produtos chegarem aos pontos de venda.
   A sociedade sempre acompanhou a evolução do mundo. Adaptamo-nos a novos métodos, a novos hábitos alimentares, a consumir sem ter que assistir ou conhecer a origem do que comemos.  E esta adaptação acontece não apenas na alimentação, mas também assumimos modas novas de vestir-nos, de viajar, de criar e de sobreviver…
   Mas, a carne de porco que compramos no talho, é diferente da carne de porco que uma família obtém de um porco criado e alimentado durante um dado período e fazer a matança quando chega o momento? Quando vamos comprar carne, paramos o carro para reflectir ou pensar se o método de abate para matar o porco no matadouro é indolor, é prazeroso para o animal e para o trabalhador do matadouro? Provavelmente a morte é rápida, sem dor e sem faca. E quem faz o acto é herói ou assassino? Na aldeia, ao homem que metia o facalhão directo ao coração, chamavam-lhe “matador”! Não conheci matador que tenha sido preso ou condenado pela justiça! O povo ficava descansado e tranquilo quando o matador fazia um bom trabalho e o animal ficava-se à primeira.
   Os meus parabéns à iniciativa levada a cabo pela preservação das memórias dos nossos antepassados.
   Na nossa aldeia ninguém mata um porco por prazer. Antigamente a necessidade de ter carne para todo o ano, para uma família, o dia da matança era dia de festa e de convívio. E poder ter carne para todo o ano, desde carne branca, chouriças, chouriços, morcelas, farinheiras, bucho, presunto, pernil, tudo naquele animal era aproveitado. 
   Numa terra como é a nossa, a matança do porco é parte da nossa identidade e da nossa memória. Espero que esta tradição continue por muitos e muitos anos, a bem da nossa identidade cultural. Saibamos todos preservar bem o que é mais importante na nossa aldeia.
                                                       
                                                        José Nunes Martins

18.12.13

OS LABURDOS




 

Dia festivo, de grande comesaina e promissor

Manuel Leal Freire - © Capeia Arraiana
Quadro bárbaro, a matança do porco, é, no quadro familiar, um significativo acontecimento. É que o porco, chegado ao chambaril, garante tempero anual para o caldo, peguilho para almoços, jantares e merenda e ainda meia dúzia de refeições de arromba.
Leia mais aqui:

http://capeiaarraiana.pt/2013/12/18/dia-festivo-de-grande-comesaina-e-promissor/

22.11.11

A LENDA DO PORCO




  « No tempo em que os animais falavam, certo dia o porco, vendo entrar na loja o cavalo e o burro com uma grande carga de lenha, de batatas, milho, a transpirar, cansados e desejosos  que lhes tirassem quanto antes, aquela carga, o porco, todo contente, sorridente e satisfeito batia palmas, grunhia de contentamento e, de uma maneira orgulhosa e vaidosa dizia-lhes:

- Vós sois uns autênticos desgraçados, sempre com a carga em cima de vós! Eu aqui como de tudo o que de melhor há e vós, infelizes, puxais pelo coirão, dia e noite sem descanso.
   O cavalo cansado e desanimado mas não convencido daquilo que o porco dizia, presunçosamente, respondeu-lhe:
 
- Olha porquinho duma figa, há-de chegar o dia em que tu, à noite, não vais comer nada, porque os teus patrões te vão negar seja o que for. Sabes porquê, rico porquinho? Não sabes? Mas vais saber, agora e vais ficar cheio de inveja de nós. Um dia, de manhazinha, o teu patrão vai abrir-te a cancela da cortelha. Sabes para quê? Tu vais pensar que é para ir passear, mas, enganas-te! Vão pegar-te pelas pernas, colocam-te em cima de um banco, mais ou menos do teu comprimento, espetam-te um facalhão na goela tu esperneias ali uns segundos, gritas por socorro com toda a força dos pulmões e começa a cair para o barrelhão o teu sangue em jacto...Olha, vaidoso e orgulhoso porquinho, termina nesse dia a tua boa vida. Nós, apesar de cansados, fatigados e, muitas vezes, desanimados, cá vamos andando, roncando, rosnando, algumas vezes, pinoteando, mas continuamos vivos!

  


Diz a lenda que o porco, depois deste diálogo, ficou muito triste e apreensivo, sempre à espera da noite em que lhe iriam negar a ceia. Lá se animava mais quando via entrar, à noite, o caldeiro de vianda e o despejavam na habitual pia de pedra. Então dizia para as suas longas orelhas:
   "Ainda não é amanhã, o meu último dia!"»
Autor deste texto: Manuel Martins Fernandes, no livro "Memórias de Infância...Raízes do Coração, pág.175a184.

13.1.08

M A L C A T A - AO SABOR DA TRADIÇÃO




"A história e tradição estão connosco.
A história e tradição estão connosco. Sendo também a história "a narração de factos ou acontecimentos sociais, políticos, económicos, intelectuais, etc, que mais ou menos influíram na existência dos povos" (sfr. grande dicionário da língua portuguesa de Cândido de Oliveira) e a tradição "a transmissão desses factos, de idade em idade, através da transmissão oral ou de hábitos", (sfr. grande dicionário da língua portuguesa de Cândido de Oliveira), podemos dizer que Malcata fez história e tradição neste Natal de 2007. Foi uma véspera de Natal em cheio. A ACDM e a Junta de Freguesia organizaram a festa da matança da porca, com os rituais sobejamente conhecidos e o almoço aberto a toda a povoação. Muita gente participou nas tarefas exigidas. De tarde, homens e rapazes ocuparam-se alegremente em acarretar os madeiros e a fazer a fogueira que, diga-se a verdade hà anos não se via tão grande. Depois vem a ceia de Natal em família seguindo a tradição. Pelas 11 horas pega-se o lume à fogueira, e perante a expectativa geral comenta-se a direcção do vento, a orientação do fumo e das "mechanas", a queda dos grandes cepos, etc ... etc ... À meia-noite em ponto é o auge: A missa do galo com cânticos, representações, celebrando o nascimento do menino Jesus. Ao beijar do menino canta-se desalmadamente ("até que a voz me doa"), e este fervor é transportado depois para junto da fogueira. Culmina com a ronda do Menino Jesus, (pena é que este ano pouca gente tenha aderido) e o convívio no largo da igreja ao calor do lume e saboreando alguns petiscos e bebidas (as carnes da matança e as castanhas assadas). É com momentos assim que a tradição se mantém, que se transmitem valores do passado e se vive o presente. Em Malcata respeitou-se e viveu-se a tradição, fazendo história para o futuro (os novos que o digam)."
Por: Rui


Texto retirado do Jornal Cinco Quinas.

3.1.08

A MATANÇA DO PORCO E A ASAE


António Nunes, o responsável máximo da ASAE afirmou no dia 29 de Dezembro de 2007, numa entrevista ao semanário "Sol" isto:


"Tudo o que se fazia antigamente, dentro das casas das pessoas, continua a fazer-se; tudo o que diga respeito ao consumo público, tem que estar protegido por normas de inspecção sanitária. Se eu matar o meu porquinho, convidar uns amigos, e tudo isso se mantiver no domínio privado, não há problema nenhum".




Entenderam? Está claro como a água que bebemos na fonte de Malcata. A matança do porco do Ti Manel, do Ti João e de todos os tios e tias, primos e primas, vizinhos e amigos, desde que seja para consumo em casa desses familiares ou amigos, a Asae, através do seu dirigente máximo, diz que não há problema nenhum, desde que se coma em casa. Nada de fazer negócio de carne, de enchidos ou de presuntos...é que aí já a Asae entra em acção.