19.2.23

DOMINGO GORDO E GALOS

 

Quem tem lembranças desta tradição?
                                                                                 ( Morte do galo)

   

   Hoje é um domingo como muitos outros domingos do ano. Em tempos que já lá vão, o último domingo antes do início da Quaresma, era um domingo diferente, além de ser dia de descanso, era dia de comer bem. E o que era comer bem na aldeia? Se tivermos em conta a tradição da matança, as mulheres quando guardavam a carne do porco já o faziam a pensar nos dias mais importantes, como é este dia de Domingo Gordo.
   Há na minha memória umas imagens muito ténues sobre as coisas que aconteciam na nossa aldeia na tarde de Domingo Gordo. Dessa cerimónia, recordo-me que a rapaziada pendurava uma corda de um lado ao outro da largura da estrada e a meio penduravam um galo. O povo juntava-se na tarde de Domingo Gordo e assistia ao jogo que consistia em acertar no galo, com uma vara e de olhos vendados.  Não sei se também o faziam montados num cavalo ou num burro. O objectivo seria acertar no pobre galo e mais tarde, depois de cozinhado, era o rei do jantar do grupo vencedor.
   Ora este jogo se chegou à minha infância, foi uma tradição passada de geração em geração. E por alguma razão esse jogo ganhou popularidade na nossa aldeia. Alguma importância tinha na vida comunitária, pois os jogos populares traziam consigo a celebração e o convívio.
   E hoje tenho a certeza, que se isso voltasse a ser feito, no dia seguinte a nossa aldeia e os maus tratos aos animais abririam os telejornais. Nesses tempos era um festejo normal e não incomodava as autoridades. Imaginem a cena do jogo, para o povo um jogo inofensivo e para os defensores dos animais, um crime!
   Quem se lembra destas tradições?
                              José Martins

16.2.23

CUIDAR DO PATRIMÓNIO DE MALCATA

Um património bem cuidado e respeitado
pela Junta de Freguesia de então.

        

   Quando é que a Junta de Freguesia olha para o património que existe na aldeia com mais cuidado e dignidade? Já nos esquecemos que este local esteve bem cuidado e as obras que a então Junta de Freguesia ali realizou e perante a situação que hoje existe, não tem termo de comparação. Olhando para as imagens não há mais nada a dizer. O que era aquele lugar e o estado em que está hoje, é mau para ser verdade, mas é assim que se encontra. Que justificação terá a Junta de Freguesia para ter esquecido a fonte velha? Há anos que aquelas paredes não são restauradas! Quando é que olham para o legado que lhes foi entregue para ser bem cuidado?

Estado em que hoje se encontra dá pena.
E isto já dura há tempo demais!
                                             
                                                                               José Martins





15.2.23

FAZER OMELETE SEM OVOS É POSSÍVEL ?

 

   


   Os compartes dos baldios da Freguesia de Malcata, há uns anos atrás, pois não sei precisar a data certa, decidiram delegar no executivo da Junta de Freguesia a gestão desses terrenos.
   A Assembleia de Compartes da Freguesia de Malcata está constituída e todos os órgãos estão eleitos e em funções. Periodicamente, o senhor presidente da mesa da Assembleia de Compartes, senhor Carlos Nabais, tem convocado as sessões de reunião da assembleia.
   Os baldios actualmente são geridos segundo o que consta na Lei nº75/2017, de 17 de Agosto. Segundo esta lei,  a Junta de Freguesia de Malcata, excepcionalmente, pode aceitar a gestão e ter presente que, para além da existência da deliberação da Assembleia de Compartes,  nesse mesmo acordo escrito também deve constar o prazo e demais condições da delegação aprovada. Também a Junta de Freguesia, porque aceitou gerir os baldios, não deve integrar no orçamento da Junta, receitas e equipamentos pertencentes à Assembleia de Compartes.
A delegação concedida para gerir os baldios não pode naturalmente implicar a apropriação dos bens inerentes à sua administração pela Junta de freguesia. Tanto as receitas, as despesas e os bens e equipamentos, pertencem aos compartes. Isto leva-me a que, considero estranho e carece de esclarecimentos de algumas dúvidas que, como comparte, tenho neste momento.
E começo por me interrogar sobre as máquinas e bens ao cuidado dos sapadores e do conselho directivo dos baldios. Na verdade, que maquinaria possui a Assembleia de Compartes? A equipa de sapadores sabemos que trabalham e usam um determinado tipo de máquinas. Nos relatórios de contas, que vão sendo apresentados e aprovados, apercebemo-nos que as roçadouras necessitam de manutenção, de algumas reparações. A viatura de transporte circula e muito auxilia o trabalho de toda a equipa. Até aqui, todos entendem e sabemos que máquinas e viatura existem. As minhas dúvidas vêm a seguir. Onde guardam a viatura e as máquinas, bem como as outras pequenas ferramentas? E o armazenamento de óleos lubrificantes, combustível? Já fiz esta pergunta noutras alturas e não li qualquer resposta. Como é que se trabalha na limpeza florestal sem tractor e as suas respectivas alfaias adaptadas a esse mesmo trabalho? Este ano, na última reunião da assembleia de compartes, os presentes foram informados que os Compartes iam poder contar com um tractor novo, bem como as várias outras ferramentas (reboque e outras). Para tal, foi feita uma parceria com uma entidade do nosso concelho e que também executa o mesmo género de trabalho florestal. A Assembleia de Compartes foi constituída em 2004 e 19 anos depois decidem que faz falta o tractor e seus apetrechos!
   A pergunta é óbvia: como têm procedido durante estes 19 anos?
                                                 
  José Nunes Martins





12.2.23

CUIDAR DE MALCATA

   



  Na aldeia de Malcata há casas, muitas casas velhas, de meia idade e modernas. Umas aguentam-se iguais desde que foram construídas, outras foram refeitas segundo os gostos dos seus proprietários, outras acabaram derrubadas e no seu lugar foram construídas casas de estilo “maison” porque o seu dono é emigrante.

Janela ou porta





A Rua do Cabeço já foi assim


  Percorrendo as ruas do núcleo mais antigo, ainda podemos observar casas de pedra de xisto, janelas de madeira e portas também de madeira, as portas das lojas ainda fechadas com a cravelha e ao lado a argola para ajudar a fechar a porta.



Rua da Moita, a mesma  casa antes
de restaurada.

Rua da Barreirinha, um dia vem tudo ao chão


E a janela resiste


    
 
   E pensar que assim nasceram tantas crianças e que se tornaram em adultos…é um encanto ver e recordar algumas cenas desta aldeia.
                                                                                                                     
                                                                  
Rua da Escola Primária



Um nevão branqueia a aldeia.


   A mim o que me preocupa é que ninguém quer colocar fim a estas situações. É que a fotografia da nossa aldeia está cada vez mais descaracterizada e feia de se ver. Não aprendemos com os erros. A nossa aldeia não pode perder a sua identidade e há situações que têm de terminar, isto se nós quisermos salvar o passado da freguesia! 
 

Travessa do Calvário sem céu e sem paraíso

  Vivemos numa terra que não é só nossa, não é tua e não é minha, é de todos. 
  Acabar com os abusos e os maus exemplo é uma necessidade. Está nas mãos de todos e não devemos fazer de conta que não sabemos, que não vemos a tristeza que cresce dia a dia.
                                                                                 José Nunes Martins
                                                                    

10.2.23

O MUNDO É COMPOSTO DE MUDANÇAS

 

Malcata - Primeiro P.T. Aéreo de energia eléctrica 
 

  
   
   O sonho dos malcatenhos eu não conheço. Mas o meu é poder viver numa aldeia tranquila, segura e com sinais de futuro. E tudo aquilo que fizermos para e pela nossa aldeia deve ser apoiado. Os tempos são de muitas mudanças e de desafios novos. O amor à nossa terra vê-se também com o coração e temos que criar relações como aquelas que precisamos de sentir com os nossos pais, as nossas mães: relações de respeito, de aceitação das várias opiniões e nunca esquecer a gratidão. Devolver o que nos oferecem e manter uma aldeia com vida sustentável.

   Cabe à comunidade malcatenha e a cada um de nós fazer o caminho e percorrer o caminho a pensar na vitória, porque se damos o primeiro passo já derrotados, a caminhada será muito mais difícil e dura.
   A Comunidade de Energia vai ajudar-nos a interiorizar melhor as razões de caminhar juntos e a ultrapassar todos os obstáculos que forem surgindo. Quando o homem sonha, o mundo pula e avança. Estamos inseridos num mundo em que as energias fósseis se estão a esgotar. O petróleo, o carvão, o lítio, a água, o vento e o sol, são um enorme desafio para o futuro da energia. A falta de alguns destes recursos veio colocar a nu as nossas fragilidades e as nossas dependências. Esta é a nossa oportunidade e a altura certa para tomarmos consciência que as alterações do clima, do aumento do consumo de bens e serviços, vai mudar o nosso mundo. Mesmo que não seja o nosso desejo, por muito que estejamos contra a mudança, isso é uma certeza que vai acontecer. Quem conscientemente aceita as mudanças e se envolve na construção de um mundo melhor, vai aceitar e desejar viver numa comunidade viva, visionária, sonhadora e com futuro.
                                               
  José Nunes Martins

5.2.23

LAR DE MALCATA: VERDADE OU BOATO ?

    

ACTUALIZAÇÃO :
"A placa continua no mesmo sítio" disse Natália Dias.

   Na minha opinião, o Lar de Malcata (ou a Associação Solidariedade Social de Malcata) é uma das entidades mais marcantes da nossa freguesia, e os malcatenhos sabem bem do que falo.
   Vem isto a propósito de um boato (mais um), que me chegou aos ouvidos, durante o tempo que estive na aldeia, no mês de Janeiro. Não quero acreditar que seja assim, como me foi contado. Segundo o tal “ouvi dizer”, a placa com o nome do pavilhão multiusos do Pólo II do lar da nossa freguesia, já lá não está. Será que isto pode ser confirmado oficialmente? Se sim, quem a retirou?
   Eu, espero sinceramente, que isto não tenha passado de uma falsa notícia, de um boato. Não me disseram quando isso aconteceu, nem quem retirou a referida placa e se realmente isto foi o que aconteceu.  O que posso afirmar, como verdade,  é que a placa que a imagem acima reproduz, foi fotografada no interior do Pólo II do lar, no hall da entrada para o salão multiusos e sempre a vi na mesma parede. Haja alguém que nos possa esclarecer sobre este assunto tão sensível.
                                                      José Nunes Martins
 



3.2.23

TODOS AO ROSSIO DANÇAR!

                                                                 Baile de domingo à tarde
 

   O Largo do Rossio enchia-se de vida com tanta gente que ali se juntava às tardes dos domingos ou feriados religiosos. Queriam todos dar um pé de dança ao som da concertina. Os bailes nessas tardes, era o principal divertimento para todo o  povo. Todos apareciam para ver a moda, ouvir as novas músicas e claro, dançar com o amor da sua vida. Os rapazes eram os primeiros a aparecer e as raparigas chegavam aos poucos, acompanhadas das mães, das irmãs ou vizinhas.
E durante todo o baile, as mães raramente dançavam. A sua principal missão era a de acompanhar as filhas, que ao longe e à volta do Rossio procuravam fazer uma vigilância não tirando os olhares de todos os pedidos para dançar. Entretanto, as crianças divertiam-se a imitar os adultos ou em loucas correrias a escaparem-se uns dos outros passando por entre os pares que alegremente dançavam. Todos à sua maneira se divertiam e quando o cansaço chegava às mães, ou o frio começava a incomodar, com um simples sinal, as raparigas iam para casa na companhia das mães, não dando qualquer hipótese de satisfazer outros desejos…eram assim as tardes com baile no Rossio.

2.2.23

A JANELA QUE NOS DAVA MÚSICA


  

Naquela janela
virada para a rua...




     Conheço uma janela de uma casa que mesmo fechada me faz pensar na pessoa que viveu na casa daquela janela voltada para a rua. Quando lá estava o seu dono, era de lá que ecoavam aquelas músicas tão conhecidas e tantas vezes fizeram grandes bailes ao Rossio e pelos largos parecidos pelas aldeias vizinhas da nossa. Às vezes ouvia-se a Rosa a arredondar a saia, o malhão malhão, aquela dos emigrantes que lá longe trabalhavam e as saudades os faziam regressar à sua amada terra...e outras mais mexidas que todos os dias se escutavam nos programas de rádio e tv. Muitos ouviam e diziam uns para os outros "olha, lá está o Carlos a tocar a concertina"! 
   Foi naquela casa modesta, tão modesta como ele sempre foi. A sala de jantar era também o seu sítio preferido para ensaiar as músicas que depois tocava nos bailes das tardes de domingo, ou na animação de um casamento ou outros eventos festivos. 
   A casa e a janela foram o seu porto de abrigo e sempre que o convidavam a animar uma festa, um casamento, uma festa no lar, estava sempre pronto a participar. Fica na minha memória a sua pronta resposta em querer participar no primeiro encontro dos naturais e descendentes do concelho do Sabugal. Quem teve a ideia de organizar esse encontro foi a Natália Bispo e surpreendeu-me que o Carlos e o José Lucas tivessem aceitado participar na animação.  Naquela janela virada para o mundo...

                                             José Nunes Martins