8.3.19

MALCATA: CASAS DESCASADAS DA PAISAGEM


   

   Em Malcata há muitas casas abandonadas e em ruínas. Não há bêco ou rua que não tenha uma casa velha e sem as mínimas condições de habitabilidade. Também nos deparamos com muitas casas recuperadas ou a serem reabilitadas. Infelizmente nem todas têm respeitado as leis de edificação e reconstrução aprovadas pelo Governo e Regulamentadas pelos municípios.
   Seria bom que estas reconstruções contribuíssem para melhorar a qualidade do nosso património edificado. Então quando se trate de reconstruções no núcleo histórico da aldeia, aquelas áreas a que vulgarmente chamam “centro histórico”, em que as casas têm ainda muitos traços iguais, estão construídas à “moda antiga”, ou seja, em pedra de xisto, algum granito, muros também em pedra de xisto, os telhados cobertos com telha de um só canal e em barro vermelho, todos devíamos ter o cuidado e a preocupação de saber os direitos e os deveres a ter em conta para que no fim do trabalho acabado todos nos elogiem e nos digam que a obra ficou “excelente”, “fantástica”, “veio acrescentar valor económico” ao imóvel e por arrasto, às outras casas em redor; se tivermos esses cuidados e olharmos para o património comum com pleno respeito pelas tradições, pela preservação do autêntico, pelo que é natural e cultural na nossa aldeia, pelo que os nossos antepassados nos legaram,  o sonho que tivemos quando decidimos avançar para as obras vai continuar vivo e servirá de bom exemplo de melhores condições de habitabilidade, de conforto, de melhor qualidade de vida a quem lá viver.
   As decisões apressadas ou irreflectidas, como se pode verificar percorrendo algumas das obras de reconstrução pelas ruas da nossa aldeia, salta à vista de todos que as regras legais foram violadas, ignoradas ou quem sabe, mal avaliadas ou nunca mereceram a visita das pessoas responsáveis pelas fiscalizações deste tipo de obra, assinando os seus pareceres baseados nas informações que lhes foram transmitidas, não se importando minimamente pelas consequências de descaracterização do património da aldeia.
   Eu, como cidadão e malcatenho, penso que o património edificado em Malcata, a continuar como até agora, está em risco e estamos a assistir à destruição de riquezas singulares, únicas, que outras terras não possuem igual.  Haja coragem para parar estes atentados ao nosso património edificado. Apesar das casas, na sua grande maioria, serem propriedade privada, as ruas são públicas, o património edificado é parte integrante da aldeia, caracteriza e identifica o povo de Malcata. Aos habitantes da freguesia cabe a defesa e a preservação do património edificado.
   Eu acredito naquelas pessoas que, se quisermos e trabalharmos juntos, seremos capazes de escrever a história de uma aldeia que nunca ninguém nos contou, a história que nos faz continuar a viver.  

                                                                                
                                                                                 José Nunes Martins


2.3.19

MALCATA: JUNTAR PESSOAS E ÁGUA



   
Visita à aldeia de Malcata

   O concurso de ideias “Juntar água para a autossustentabilidade” é parte integrante de um projecto muito mais ambicioso conhecido pelo nome de “Malcata-Aldeia Autossustentável”, apresentado em Dezembro de 2016.

   Da autoria de José Escada Alves da Costa, presidente da AMCF ( Associação Malcata Com Futuro), homem formado em engenharia, com uma ligação de longa data com a EDP. Entre 1982 e 1995 foi quadro superior do grupo e entre 2004 e 2006 foi também adjunto do conselho de administração da EDP Produção e vogal em sete conselhos de administração de empresas participadas do grupo EDP, nomeadamente a Turbogás, a LBC tanquipor,a Soporgen, a Energin, a Enerfin, a carriço Cogeração e Centro de Biomassa para a Energia.  Licenciado em Engenharia Mecânica, pelo Instituto Superior Técnico, e mestre em Política, Economia e Planeamento Energético pelos ISEG/IST, este responsável foi ainda, entre 2011 e 2004, vogal executivo do Conselho de Administração da REN. Escada da Costa foi ainda, entre 1995 e 1996, adjunto do Secretário de Estado da Indústria e Energia do Governo de António Guterres. É desde 2015 presidente da Associação Malcata Com Futuro e tem sido nesse âmbito que continua a acreditar no futuro autossustentável para Malcata.

   Trata-se de uma ideia ambiciosa e todos sabemos que até alcançar esse objectivo teremos que vencer etapas intermédias. E uma dessas etapas é esta ideia de um concurso com a participação da secção de arquitectura da Universidade da Beira Interior e nesta primeira fase envolver os alunos do primeiro ano do curso de arquitectura. Foi o que aconteceu no passado dia 20 de Fevereiro. Com certeza que as pessoas em Malcata se aperceberam da presença de 80 jovens a visitar a aldeia. Esses jovens vieram acompanhados dos seus professores de curso e tiveram a oportunidade de ficar a conhecer a nossa aldeia e os espaços onde poderão criar um anfiteatro ao ar livre e um auditório multi-usos, tendo em conta a existência do plano de água da barragem. Foi a pensar nessa ideia que decorreu a visita pelos sítios mais significativos a nível do património material e imaterial, tendo ficado a conhecer a Praça do Rossio, a Rua da Ladeirinha, a Igreja e o Adro, o moinho de água e a barroca do Bradará, o quartel da Guarda Fiscal, a Rua do Cabeço, a Rua da Moita até ao Calvário, a Rua da Fonte e a Fonte de Mergulho, o busto de Camões, a Zona de Lazer de Malcata (praia fluvial), Senhora dos Caminhos e Capela de São Domingos.

   Esta foi a primeira visita de trabalho e os alunos levaram os seus blocos de notas os primeiros rabiscos dos locais e também algumas fotografias de cenários que lhes chamou a atenção.

   Esta iniciativa mereceu o apoio da Junta de Freguesia de Malcata. Ambas as entidades, Junta de Freguesia e Associação Malcata Com Futuro, estiveram bem representadas e à altura da importância deste evento. Tenho informação segura que o presidente da Junta de Freguesia, João Vítor, ofereceu os levantamentos topográficos e outros elementos necessários para o conhecimento dos terrenos onde os alunos irão trabalhar nos próximos seis meses. Já o presidente da Associação Malcata Com Futuro, assinou o protocolo com a Universidade da Beira Interior, tendo participado em várias reuniões na universidade para preparar as acções no terreno, preparou textos e memorandos descritivos da nossa aldeia e manteve sempre a via aberta do diálogo entre todos.

   Dada a importância desta iniciativa, ambas as entidades concordaram em partilhar os custos associados e ambas disponibilizaram os seus espaços e pessoas para que no fim da jornada, se sentissem recompensados pelo trabalho.

   A cooperação entre todas as instituições existentes em Malcata é de suma importância e crucial para que as grandes iniciativas e projectos inovadores sejam realmente realizados. Alguém um dia escreveu que “os homens passam e as instituições ficam”. Temos todos a ganhar, não se trata de cantar vitória, trata-se de celebrar o bem comum.


Recepção aos alunos da Universidade
Reforço alimentar ao meio da visita
   
                                          por   José Nunes Martins