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quarta-feira, 14 de maio de 2025

MALCATA: A PROCISSÃO VAI NO ADRO

                                                               Igreja Paroquial e adro em Malcata
 

   A requalificação do adro penso que é pacífica para a maioria das pessoas de qualquer aldeia. E no caso do nosso adro da igreja paroquial, vai ficar mais amplo, mais desafogado e mais aberto e coloca a nossa igreja mais em harmonia com o espaço envolvente.  Para que isso seja assim, os familiares que eram os donos legítimos da casa que vai ser demolida, por muitas saudades e nostalgias possam ainda sentir, merecem um agradecimento e consideração de todos.
   Quando foi apresentada a ideia da requalificação do adro, todos os que participavam na reunião concordaram e apoiaram a iniciativa. A intenção e as ideias para as obras que ali irão decorrer, devem ser coordenadas por pessoas credíveis e com experiência na área de planeamento e arquitectura. Um dos elementos que vai fazer parte das obras é uma escultura alusiva aos carvoeiros de Malcata. Esse elemento tanto pode ser uma estátua, como até um painel exposto e integrado num suporte, por exemplo, na parede da casa que vai ali
continuar a existir e que tem entrada pela Rua da Ladeirinha. Assim se pode transformar o adro valorizando o património da freguesia. Como sabem, o adro noutros tempos era o palco das festas, da arrematação de bens para as pagar, era lugar de encontro e conversas. Hoje é um espaço vazio, confinado e sem grandes vistas para o horizonte. Tal como no passado, acreditamos que depois das obras,
voltaremos a ter ali um espaço de encontro, de conversas, de manifestações culturais.
   O adro para além do seu símbolo religioso que representa, ao ter melhores acessibilidades das pessoas à igreja, à Casa Mortuária e sanitários, vai também servir de homenagem aos carvoeiros, uma das actividades que tanta dinâmica e importância trouxeram à freguesia.
    O primeiro passo já foi feito com a compra da casa que vai ser demolida. O local já mereceu a visita de uma arquitecta credenciada e bem-conceituada neste género de obras. Depois de reunir com a AMCF e a Fábrica da Igreja, estando presentes todos os membros, incluindo o sr. Padre Eduardo, mesmo debaixo da chuva, fomos visitar o lugar e recolheu informações e imagens, que mais tarde a ajudarão na elaboração do projecto. Falta só dizer o nome da arquitecta que, achamos ser uma boa escolha: Andreia Garcia Rodrigues.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O CALOR DO NATAL TRADICIONAL


   As festas de Natal lembram as prendas do Menino Jesus, as filhós com e sem abóbora mas não podem faltar na mesa. A Missa do Galo e a Fogueira no adro da igreja é outra das tradições que ainda continuam vivas.
   "Noutros tempos competia aos mancebos que já tinham ido à inspecção militar arranjar os madeiros para a fogueira e garantir que a mesma ardia até ao nascer do sol. Habitualmente, os madeiros ( grandes troncos e raízes de castanheiro ) eram colocados no adro da igreja com antecedência, sendo a lenha de atear arranjada ao fim da tarde da noite da Consoada. Uma vez que a lenha escasseava, quando a hora de fazer a fogueira se aproximava, os donos das casas tratavam de acautelar os paus que tinham nos currais, deixando apenas à vista o molho de lenha, palha ou carqueja que queriam dar. Caso o dono da casa não deixasse contributo, podia haver retaliações gravosas. Casos se contam em que foram arrancados portões de madeira, roubadas e queimadas cancelas, charruas e arados, assim como abatidas cerejeiras e nogueiras, árvores estimadas. A rapaziada também não admitia que alguém se assomasse à janela e ou viesse à porta. Quando tal acontecia, retaliava à barrocada ( pedrada )." escreve José Rei, no seu livro Malcata e a Serra, defendendo que "esta forma estranha de louvar o Menino Jesus integrava uma espécie de ritual de passagem dos mancebos para o estado adulto. Mostravam eles a sua força e determinação substituindo vacas dos carros. Eles próprios puxavam o carro das vacas". revela-nos José Rei.
   
 Fazendo a fogueira de Natal

  " Carrada atrás carrada, o monte de lenha ia crescendo em cone. Essencial para uma boa combustão, era a incorporação de palha centeia e carqueja seca. Quando o monte de lenha parecesse superior ao do ano anterior, os rapazes iam cear. Alguns ceavam em casa, outros iam petiscar e bebericar para as tabernas, onde normalmente já estava activo um acordeonista, contratado para animar a festa depois da Missa do Galo. Por norma, quando chegava a hora de atear a fogueira, havia lugar a uma ronda à volta da aldeia, para anunciar que o evento ia ter lugar. A passagem da ronda sinalizava que o evento estava próximo.
   Ainda que o atear da fogueira fosse da competência dos rapazes, anos havia em que alguns atrevidos o faziam, provocando deste modo alguma confusão antes da Missa do Galo. Tudo acabava, contudo, em concórdia, tanto mais que a noite era de paz e de alegria".


Arder até ao nascer do sol
   A Missa do Galo era sempre uma celebração alegre e festiva. Continuando a ler a descrição escrita pelo José Rei, ficamos a saber que no fim da Missa do Galo "era a altura de festejar o Natal. Por isso toda a gente fazia tributo ao Deus Menino e  cantavam :
                                             Eu hei-de dar ao Menino
                                             Uma fitinha pro chapéu

                                             E Ele também me há-de dar
                                             Um lugarzinho no Céu.


   
Saída da Missa do Galo
   E a festa de Natal continuava com a malta jovem a cantar e a beber à volta da grande fogueira. A igreja era fria e as pessoas rodeavam a fogueira para se aquecerem. E a rapaziada continuava  a festejar porque a noite era de festa e "as casas estavam fartas . Uns levavam chouriças e morcelas, outros massas de cabrito ( pernas ), queijo mole (fresco), febras de porco. Ao som do acordeão, os rapazes, só os rapazes, porque as raparigas não estavam autorizadas pelos pais a participar, dançavam e cantavam. Também não faltava o vinho e as bebidas destiladas.Quando o sono e o cansaço apertavam , a festa esmorecia e, num último esforço, os mais resistentes, que os outros dormiam ao lado da fogueira, ainda faziam a habitual ronda pelas ruas da aldeia. Ao som do acordeão, lá iam cantando roucamente as cantigas de Natal" escreveu José Rei no seu livro " Malcata e a Serra".

Nota: Há por aí algum rapazote que tenha vivido estas tradições e que deseje partilhar connosco a sua história?