16.2.20

TOPONÍMIA: Rua do Carvalhão

Rua do Carvalhão, em 1994
 
   Encontrei esta fotografia e através dela recordo momentos de um tempo passado, de um lugar que foi um marco importante na história da minha vida e na história da aldeia de Malcata. A tão conhecida ‘’Rua do Carvalhão”, um lugar com passado e com história, uma rua que já foi cheia de vida e que agora não o é. Nasci e vivi nesta rua, ela faz parte de mim e do Porfírio, do Joaquim António, do Domingos e do David.  Todos fomos felizes nesta rua. Tenho na minha mente boas lembranças desta gente da minha idade, da outra gente mais velha mas muito sociável, eramos todos do Carvalhão. No Verão quando as pessoas vinham passar férias juntava-se muita gente à noite, sentavam-se em bancos de pedras, à sombra da figueira do Ti João e ali contavam as suas histórias de vida. Agora quando vou para ali, sinto cada vez mais o silêncio na rua do Carvalhão, pois cada vez há menos gente e sobram muitas casas vazias e sem viva alma no seu interior.
                                                                                                                                                 José Martins

MALCATA TEM MEMÓRIAS COM ALMA





    Em tudo na vida, de tempos a tempos, a pessoa precisa parar para ver, para ouvir, para conversar e reflectir sobre aquilo que se está a passar na zona onde ela se encontra. O mesmo devemos nós, os cidadãos que vivem ou têm alguma ligação importante a Malcata fazer uma pausa e olhar com mais cuidado e tempo para o que se vai passando na nossa aldeia. E esse olhar deve estender-se para lá do perímetro urbano, olhar para as zonas à volta da aldeia, porque também por lá aparecem situações que têm a ver com a alma da aldeia, com a história e a identidade das pessoas e dos lugares.
   Malcata é hoje uma aldeia com uma alma e uma identidade construída ao longo de muitos anos, pelas pessoas que nela nasceram, viveram e morreram. Também há que juntar a estes construtores todas as pessoas que nasceram e partiram em busca da felicidade. Todos juntos constituímos a alma da nossa pequena aldeia e ninguém deve ser ignorado nesta história.
   Estamos a viver o segundo mês deste ano de 2020 e precisamos de fazer uma pausa. Como vemos e sentimos o bater do coração da nossa aldeia? Há sinais de vitalidade ou de cansaço?
E como vamos de projectos? Que existem alguns projectos no papel e outros em andamento, nós até sabemos que é verdade. Trata-se de investimentos em favor da comunidade, como investimentos colectivos que são, vão consumir recursos económicos da comunidade, da freguesia. Há que ter alguns cuidados e não esquecer que todos os que residem na freguesia, que nela trabalham e também toda a gente que daqui saiu, precisam de estar ao corrente do que se está a pensar construir ou quase a começar. É importante as pessoas se identificarem com as obras que se estão a construir, porque são também essas obras que ajudam a construir a nossa freguesia, a servir de identificação da alma malcatenha. Não vamos repetir alguns erros do passado, por exemplo, com o que aconteceu aos moinhos, ao nicho da Senhora dos Caminhos, aos sinos da igreja Matriz ou ao relógio da torre.
   Há um património em Malcata que tem de ser preservado, custe o que custar, pois se não o fizermos, estamos a ignorar os lugares onde viveram as pessoas da nossa terra, estaremos a desrespeitar as nossas memórias e a negar as nossas origens.
   Veja-se o que se está a passar com o património edificado no centro mais antigo da aldeia, aquele quarteirão abrangendo a Rua de Baixo, o início da Rua do Cabeço, a Rua da Ladeirinha e a Rua do Meio. Sendo aquela zona a mais antiga da aldeia, se nada for feito, em poucos anos nada de identitário vai estar em pé. Por ignorância e falta de acompanhamento técnico especializado, a alma identitária da aldeia vai sendo substituída por almas de outros mundos.
E por muito pequena, baixa ou só com uma porta e um janelo, acreditem que é tão importante como uma fonte, uma torre ou um moinho. É que essas casas com chão em terra, telhas e lascas no telhado, apesar de pequenas e baixas, acolheram durante séculos os nossos antepassados, os construtores e guardiões da alma de Malcata.
   Por isso é tão importante a construção do Núcleo Identitário de Malcata e a obra tem mesmo de ser terminada. No seu espólio contam-se as memórias de pessoas, de objectos, de saberes e de crenças, de tradições e costumes.
   Tudo isto, mesmo que muitos achem que é velho e muito antigo, já não serve para nada a não ser para queimar no Inverno, merece o devido respeito, porque ainda lá moram as memórias de muitos malcatenhos.                          
                                                                                                                             José Martins



Escaleira da Ladeirinha. antes das obras.
Escaleiras da Ladeirinha, depois das obras.


7.2.20

A MELHOR VINGANÇA É A NÃO VINGANÇA



   Sentados na mesa da esplanada do Café Lince, tinham acabado de servir-nos o nosso café enquanto planeávamos o que íamos fazer nesse dia, quando se abeirou da nossa mesa. Cumprimentou e logo iniciou uma conversa que tinha a ver com as obras que mandou fazer no logradouro da sua casa da aldeia, sobre as quais eu sempre mostrei discordância e disso mesmo dei a conhecer aos leitores do meu blog, que desde 2006 mantenho na internet. Desta abordagem sobraram algumas palavras e alguns desacordos. Pelo meio, a intromissão totalmente descabida e sem sentido por parte da esposa que, contrariamente ao seu marido, estava visivelmente exaltada, se intrometeu na conversa que estávamos a ter, falando de assuntos que nada tinham a ver com o
tema da nossa conversa, originando um aumento do tom de voz, em autêntica gritaria e proferindo palavras em frases sem sentido, criticando os meus gostos pela fotografia, lançando para o ar em alto e bom som, afirmações e juízos falsos sobre a minha vida privada, pessoal e profissional. Perante as injúrias, a minha esposa pediu para terminar a conversa, pedido que ignorou, levando a que a minha esposa abandonasse o local justificando essa atitude dizendo que não tinha ido ao café para ouvir e assistir aquelas coisas, mas que apenas queria tomar café e estar em sossego. A dita mulher e aos gritos e só parou com a chegada do seu cunhado que, após ter sido atendido no interior do café, dali saiu e veio na minha direcção, com gestos e palavras muito duras e cheias de impropérios, como se estivesse a ser atacado por um cão raivoso, proferindo ameaças de morte e esforçando-se para me agredir fisicamente. A  agressão física só não aconteceu porque foi barrado e imobilizado pelos seus familiares presentes.Teve a intenção clara e consciente de me agredir e provocar, para que eu respondesse também com recurso à violência e ameaças.

 Eu mantive a calma e a serenidade suficiente e não reagi, nem por palavras ou actos.   O homem agressivo acabou por ser levado para a rua pelos seus familiares, que nada satisfeitos com o acontecido, a mulher olhou para mim gritando que eu não conhecia mas que um dia ainda ia ficar a saber a família dos ….e do que são capazes.
  Ali permaneci sozinho, sentado na cadeira onde sempre estive enquanto tomava o café da manhã, como era meu costume. Levantei-me quando vi passar na rua o carro da patrulha da GNR e fui ao seu encontro porque sentia necessidade de dar conhecimento dos factos ocorridos minutos antes e a gravidade assim o exigia. 
   Uns tempos depois, fui notificado pelas autoridades dando-me um determinado período para tomar uma decisão. E desde esse dia, apesar dos conselhos e apoios que recebi e dos apelos para que eu não deixe que o caso seja esquecido, que não devo ter receio de avançar com o caso, ainda nada decidi sobre o futuro.
   O povo costuma dizer que a justiça de Deus não é a justiça dos homens. Na nossa sociedade a justiça dos homens, tem prazos a cumprir e a respeitar, os incumprimentos dos prazos são constantes, o que parecia um simples processo é muitas vezes transformado num muito maior, os erros ou omissões são motivos para fazer justiça e quem tiver conhecimentos do funcionamento do sistema judicial e no interior do sistema, leva a muitas idas e vindas e nada fica decidido, apenas prolonga o sentimento de ansiedade e mal-estar e sempre a pensar numa absolvição ou num arquivamento.
   Ainda acredito que tenho liberdade para viver, acredito que gozo de liberdade de expressão, de pensar por mim e de sentir que é neste mundo que, como ser humano, quero viver feliz, alegre e essa aldeia do interior também faz parte do meu mundo.
   Tenho a consciência de ser uma pessoa de bem e que deseja o bem para o próximo. O bom nome dos meus pais e familiares, aliado à minha vontade de ajudar a construir um mundo melhor, com pessoas mais felizes, leva-me a pensar que também o posso conseguir através das minhas tomadas de posição, das minhas ideias e das minhas acções e ambições, apesar de pensar de forma diferente das outras pessoas, mas com a certeza que o faço com o sentido de responsabilidade de querer ajudar.
   Para mim, a vingança comparo-a aos remédios que o médico me receita: ele receita um remédio, mesmo em pequenas doses,  mas se eu o tomar em grandes quantidades, pode causar-me consequências muito graves para a minha saúde, pode até causar a morte.
   Quem me dera ter a força de responder como uma pessoa minha amiga que, às vezes, em certas situações como esta que se passou comigo, se sai com esta de dizer que
 “o pobre pode ir sem esmola, mas não vai sem resposta”!
                                                                 José Nunes Martins


3.2.20

NÃO DEVEMOS COMER TUDO AQUILO QUE NOS QUEREM DAR


      
   Todas as pessoas gostam de caminhar por uma rua limpa. E limpar uma rua até parece um trabalho leve, fácil de fazer. A limpeza está de algum modo relacionada com as obras de construção dos pavimentos das ruas? Limpar uma ou várias ruas devia ser uma tarefa prática e rápida. Por exemplo, na nossa freguesia, os cubos em pedra de granito, tem sido o material escolhido para pavimentar as ruas. Todos sabemos que os cubos em pedra têm uma durabilidade tão longa que nos faz lembrar o anúncio das pilhas alcalinas de uma conhecida marca. Pois a pedra dura porque tem um desgaste lento, como tem muitas faces, podem ser viradas de tempos a tempos por causa do que por ali transita.
   Será esta a única razão da escolha do cubo em pedra para pavimentar uma rua?
   Nunca pensou nisto, pois não? O custo muitas vezes é que acaba por determinar a escolha dos materiais para a pavimentação. Já os benefícios são muitas vezes esquecidos. Quantas vezes há necessidade de abrir uma vala na rua para reparar uma ruptura do tubo da água, para colocar um cabo eléctrico ou uma nova ligação de telecomunicações? Poucas são as pessoas e menos ainda os comerciantes que gostam de ruas em obras.  Os trabalhos num pavimento em cubos de pedra facilitam estes trabalhos que já referi. São intervenções que podem ser realizadas com maior rapidez e menos custos.
   Portanto, a pavimentação das ruas em cubos de pedra é obra para muitos anos, abertura de valas torna-se fácil e enquadra-se bem numa aldeia com edificações antigas.
   Agora vamos às desvantagens e aos problemas que as calçadas em pedra podem causar. Nem tudo são rosas e calcetar uma rua dá muito trabalho, a maior parte dele é um trabalho manual e por isso leva bastante tempo a obra estar terminada. A resposta até parece óbvia para a demora, se a empresa construtora aumentar o número de operários calceteiros, a obra acaba mais depressa, mas ao empregar mais mão de obra, o construtor pode estar também a correr o risco de perder dinheiro no final. A segunda desvantagem é que é um piso com muitas irregularidades e desconfortável para as pessoas nela caminharem, transitar de automóvel, para aquelas senhoras que gostam de andar em belos sapatos de tacões altos e finos…
   Outra das desvantagens é que uma calçada em cubos de pedra é má de limpar, não basta uma vassoura, um apanhador ou uma vassoura e uma pá e um carro de mão. Os pavimentos de cubos em pedra levam muita areia grossa entre eles. E as intempéries normais durante o inverno, uma lavagem com água a alta pressão ou até ao utilizar a vassoura, aos poucos, essa areia desaparece e aí começam os problemas na calçada.
   Pois chegados aqui, olhando para a nossa freguesia, para o que já foi pavimentado ao longos destes anos todos e continua a surgir mais obra igual, foi apresentada a pretensão de pavimentar uma rua com recurso a outros materiais que não os cubos em pedra? Esqueçam a estrada que dá continuação à rua da Rasa até à Senhora dos Caminhos. O mesmo acontece com a Rua Carvalheira de Jorge. Aí o pavimento é em alcatrão e por lá também há tampas e tubos de águas e saneamento…mas foi alcatroado.
   Na nossa freguesia, a zona histórica e mais antiga, enquadra-se bem com a envolvente a calçada em pedra de granito ou xisto. Por outros lugares, onde a nova construção é visível, faz falta planos de urbanização que incluam todas as infraestruturas necessárias. Temo que se nada for feito e decidido, a nossa freguesia vai continuar a crescer entre travessas e becos ou ruas sem saída.
                                                                                         José Nunes Martins