O PAÍS ESQUECIDO
"Quando iniciei a subida para a Beira, aconteceu o milagre: redescobrir a vida. Soltava-me, libertava-me. À minha volta, o mundo reanimava-se. Havia árvores, espaços, silêncios, intimidade. ...Trazia comigo todas as infecções e defeitos da "civilização". Claro que revi o afortunado Jacinto (o do Eça), a subir a serra e a exclamar: "Que beleza!". Mas eu ia de automóvel e vinha poluido. Não merecia. Arriscava-me a estragar tudo e a espalhar por ali infames, implacáveis, o betão e os centros comerciais e soltar por montes e vales as filas deprimidas, escanzeladas, cinzentas, destruídas, a massa desolada dos que constróem o "progresso"- o cortejo resignado dos novos escravos. E no entanto, eu atravessava o Interior abandonado, o tal Portugal que o poder esqueceu. O ra, em vez de o lam entar, pensei, pensei isso!, que a Beira deveria proclamar, urgentemen te, a independência, estabelecer mais do que uma fronteira, um cordão sanitário - e salvar o que