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sábado, 19 de abril de 2025

NA PÁSCOA EM MALCATA TOCAVAM AS CAMPAINHAS E OS SINOS:ALELUIA!

 

   O mês de Abril tem sido bastante chuvoso, com ventos fortes nos montes e grande ondulação no mar. Neste Sábado de Aleluia o sol já deu um pequeno ar da sua graça. Agora mesmo, ouço a água da chuva a bater com força nas vidraças das janelas, um final de dia bastante invernal. Para assustar só falta ouvir os trovões.
   Lembra outras Páscoas que passei na aldeia, com muita chuva e relampejos que assustavam toda a gente. Na Páscoa, as pessoas , mesmo as que estavam longe, apareciam na aldeia para assistir às cerimónias religiosas e passar o domingo de Páscoa com a família.
    A Páscoa era antecedida da quaresma e os três dias anteriores ao Domingo da Ressurreição, eram vividos como se estivéssemos a participar num funeral, com cantos e rezas tristes, as pessoas andavam os dias mais recolhidas, com roupas escuras sobre o corpo, de lenço preto na cabeça e xailes pretos, todas as mulheres eram iguais, dificultando imenso saber-lhes os nomes sem falar com elas.
   As minhas lembranças de criança guardo-as como se fossem um filme a preto e branco, das cerimónias dos Passos do Senhor e da Procissão do Enterro do Senhor, que despia por completo o interior da igreja paroquial. Não ficava um santo, todos eram retirados e a luz das velas criavam um ambiente que a mim me metia medo. Detestava o som das matracas, aquilo não era nada bom de ouvir, nada a ver com o som dos sinos, mas o sacristão estava proibido de subir ao campanário, tinha que andar a tocar as matracas, os sinos só depois da missa da Aleluia, a missa da vigília pascal, em que levávamos para a missa campainhas e chocalhos para fazer barulho assim que o senhor prior desse o sinal lá do altar! Aquilo sim, campainhas e chocalhos, sinos e sinetas anunciavam a Vida, a Ressurreição e cantava-se Aleluia, Aleluia.
   Os rapazes, no final da missa de Sábado de Aleluia, corriam para o campanário e esperavam a sua vez de agarrar nos dois badalos e tocar os sinos até dar a vez a outros. O tocar dos sinos da igreja era a forma mais audível de anunciar a Ressurreição, a vitória da Vida sobre a Morte.
   Nas minhas memórias de infância não se encontram cenas da Visita Pascal ou do Compasso. Essa tradição que, é antiga em muitas terras, na nossa aldeia não assisti e penso que nunca fez parte das celebrações da Festa da Páscoa. Mas a propósito do Compasso ou da Visita Pascal, tenho
lembranças de um Domingo de Páscoa em que vesti a batina e com mais dois homens que me acompanharam, durante o dia entrámos nas casas das pessoas desejar boas festas. E lembro-me que o homem da cruz, a certa altura, já o dia ia a meio, saiu-se com estas palavras para mim: “Ó sr. Padre,
tenha cuidado porque pode tombar”. E em minha defesa veio o dono da casa e disse: “Parece-me que ali o Manel Coxo já não se equilibra lá muito bem! Olha se tendes que ir todos ao balão…
   De facto o homem já andava com alguma dificuldade e às vezes notava que ele perdia o equilíbrio, mas ele replicou e disse:
_ Ó Kim, fica tranquilo e descansado porque eu já sou coxo há muitos anos…                          


quinta-feira, 17 de abril de 2025

AS MATRACAS QUE NOS ASSUSTAM

 


   Malcata já foi uma aldeia cuja população era de pessoas remediadas, viviam daquilo que as suas terras produziam. A maioria da população passava os dias a trabalhar nos campos a que chamavam “chão” e se havia grandes lavradores, com grandes áreas de terra arável, a maioria cultivava pequenas leiras e até as juntas de vacas tinham dificuldade em fazer uma boa sementeira, dadas as pequenas dimensões do “chão”. As famílias mais abastadas precisavam de mão de obra e havia algumas pessoas que trabalhavam aos dias, ou à jorna, por isso lhes chamavam jornaleiros. Estas pessoas trabalhavam para outros porque não tinham terras como possuíam os lavradores.
   Além destas duas actividades, lavradores e jornaleiros, havia muitos pastores de cabras, carvoeiros, carpinteiros, sapateiros, moleiros, tecedeiras, costureiras…
   Hoje as coisas são bem diferentes e a festa que se fazia na Páscoa, por exemplo, vestir roupa nova, é um costume já esquecido. Umas semanas bem antes da Páscoa, as costureiras começavam a receber os pedidos para um vestido novo, uma saia ou um par de calças. O processo começava na compra do tecido nos comércios, na ida à costureira, nas duas provas, como se pode ver, era um processo demorado, mas o importante de tudo, era estar pronto a tempo de o vestir no dia da festa.
   Era assim o dia a dia dos habitantes da aldeia. E sempre que morre alguém, toda a aldeia comenta com tristeza a perda, mostram-se tristes pelo que aconteceu. Então durante a Semana Santa, quando amanheciam os dias a tristeza tomava conta dos rostos e das nossas próprias acções.
      As tradições de Páscoa em Malcata são carregadas de simbologias religiosas. De Quinta-Feira até Domingo, nos meus tempos de meninice e que eu vivia na aldeia noite e dia, a Procissão do Senhor dos Passos e a Procissão do Enterro do Senhor, que acontecia entre a igreja paroquial e percorria as principais ruas da freguesia, destaco aquele momento evocativo do encontro de Jesus “Senhor dos Passos” com a sua Mãe “Nossa Senhora das Dores”, que o pregador convidado, fazia de viva-voz durante uns 20 minutos, pelo menos.
   Guardo ainda na minha memória em que também participava nas cerimónias da Semana-Santa na aldeia. As procissões, as canções e as roupas negras escuras, ainda mais tristeza se sentia no ar, no olhar e falar das pessoas.
   Havia um som que ouvia pelas ruas da aldeia que só acontecia pela altura da Páscoa. O barulho era tão arrepiante que se ouvia ao longe, rompia o silêncio e a calma até dos gatos.
Lembram-se do tocar das matracas? E do sacristão que andava pelas ruas a chamar as pessoas para as cerimónias religiosas na igreja? Como é que as matracas conseguiam fazer tanto
barulho e muito estranho de ouvir? Por muito que o sacristão ensinasse como se deviam tocar, poucos lhe ganhavam o jeito para abanar um bocado de tábua e fazer bater o ferro na madeira.
Como não se tocavam os sinos, era ao som das matracas que o sacristão fazia aquele sacrifício de percorrer as ruas e no fim da terceira volta, o padre dava início às cerimónias na igreja.
   A Páscoa é celebrada em tempo de Primavera, com dias mais compridos, mais quentes, os campos começam a renascer do frio do Inverno, veem as flores, as papoilas e as árvores enchem-se de flores. Também a própria natureza costuma vestir roupa nova.
   Um olhar atento ao que se está a passar na natureza e a participação consciente e de desprendimento, podem ser sinais externos da nossa ressurreição. Basta olhar e captar o que Jesus nos quer dizer com a morte, o sofrimento, a paixão pela vida, pelas flores, pelos sinos a tocar em rebate festivo. Porque a vida na Terra se constrói com coisas simples…alegres e belas também. 
                                                                        José Nunes Martins

sexta-feira, 7 de abril de 2023

MALCATA: O ENTERRO DE J.N.R.J.

 


   Que memórias tenho da Sexta-feira Santa em Malcata?
   As minhas são as de um jovem, nascido nos anos 60, que até aos 11 anos vivia na comunidade malcatenha.
   Nesses tempos, a religião católica é que determinava e orientava os comportamentos dos aldeões, pessoas trabalhadoras, respeitadoras das leis da Igreja e dos políticos que mandavam no nosso país. Quem sabia escrever e ler, por vezes entendia a vida de modos diferentes da maioria, por eles não saber ler e escrever.
   O povo era muito crente e muito devoto. A igreja, aos domingos e nas festas religiosas, enchia-se de fiéis, rezavam, cantavam, iam às procissões e às confissões. Eram tempos bem diferentes!
   E na Sexta-Feira Santa, tudo era escuro e triste. Os adultos cumpriam os preceitos decretados pela Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, mesmo os mais ricos, que não se importavam de pagar a bula e assim ter carne na mesa. Já nessa época, o pobre obedecia e o rico buscava forma de mostrar quem mandava na vida dele. Eu, nunca entendi essa diferenciação de religiosidade e de catolicismo.
   Nesta Sexta-Feira Santa, entrar na igreja matriz era como se estivesse a entrar numa catacumba escura e só de ver o caixão em cima do altar-mor, assustava qualquer um que ali fosse sozinho ao meio da tarde. Não se via nenhum dos santos dos altares, porque estavam cobertos com panos escuros, penso que roxos. O enorme caixão preto e os véus rendilhados de tecido também preto e umas rendinhas brancas, parecia mesmo que estávamos a participar no enterro de Cristo.
   E as mulheres? Lembro a figura da minha mãe e das outras santas mulheres, vestidas de roupas negras, da cabeça aos pés, algumas seguravam nas mãos, o seu terço de contas preto e crucifixo prateado, entravam devagar, paravam junto à pia de água benta e mergulhavam nela os dedos da mão direita e benziam-se para depois seguir pela coxia central e sentarem-se no banco.
   As cerimónias marcavam ainda mais a celebração e à medida que a narração da História se ia desenrolando, aumentava o desconforto emocional dos participantes. E a procissão do enterro? Tudo se tornava difícil de levar até ao fim. Os homens que levavam o caixão sabiam o quanto ele era pesado e tinham que parar várias vezes para colocar uns paus que lhes permitia ganhar fôlego para continuar. Dar voltas à aldeia era doloroso e a entrada na igreja faziam-no num silêncio sepulcral. As pessoas iam para as suas casas de cabeça baixa, de cara tapada com o xaile preto, subiam as escaleras e entravam mudas. Os lavradores ainda passavam pela loja, ver como estava o ambiente e depois de dar um jeito na cama do gado, despejam um punhado de feno para a manjedoura e iam descansar para junto da mulher.
   Mas que dia este de Sexta Feira Santa!
   E hoje, ainda será assim ?

domingo, 17 de abril de 2022

AINDA ONTEM...LHE SORRI!

 

   Hoje quero lembrar-me do Tó ( António), um primo ainda que de forma afastada, pertence aos membros da minha família. É que ao lembrar-me dele, lembro-me também do seu filho, o rapaz com quem me divertia e que na igreja ajudávamos o padre Lourenço a limpar os dedos das mãos e no fim de tudo, pegar na cana e ir de altar em altar, de vela em vela para as apagar, deixando que a luz da lua entrasse pelos vidros dos caixilhos das janelas.
   O pai do meu amigo foi homem de trabalho, de ir para o campo e levar com ele o burro e as cabras. Há uma imagem que me ficou gravada e um dia até registei para memória das minhas paixões de andar com máquina de fotografias. Aquela terra foi tantas vezes cavada, lavrada, tractorada e ali passou muito do tempo da sua vida de agricultor.
   Quando me encontrava na rua da Fonte, dirigia-me sempre a palavra:
   - Então João, como andas tu? Bem, não é? 
Olha, o Augusto lá anda pela França! Ele assim quis...a vida...não é aquilo que muitas vezes pensamos, mas foi o que ele quis! O mal foi dele... 
     
  As gentes da aldeia conheciam bem este ser humano, simplório, trabalhador e que durante anos agarrou as rédeas deste povo. Como presidente de junta não lhe conheço grandes obras, não porque não tenha feito nada, mas simplesmente por eu estudar longe, naqueles anos era tudo mais distante e as notícias não havia tantas como há agora.

  
  O Ti Tó Peneira, assim foi conhecido na aldeia,  ontem, foi ter com o Augusto Afonso, o seu filho mais velho. Este homem, coisa que nunca teve foi "peneiras", foi o pai do rapaz aventureiro e sonhador que andou por onde foi mandado ir e por lugares que ele escolheu. 
   É dia de Páscoa, sim é verdade. Sei o que as pessoas pensam do Natal e outras festas religiosas, como esta da Páscoa. Depois dos acontecimentos deste ano, a Páscoa passa a ser sentida de forma diferente, assim como aconteceu comigo naquele Natal de 2018. Mãe e filho sabem melhor que eu como é importante continuar a viver.
   Aleluia!



   
   
    
  

   

sexta-feira, 15 de abril de 2022

A PÁSCOA E AS TRADIÇÕES

   SONS DA PÁSCOA

   A Semana Santa está cheia de sinais e sons que ainda hoje alguns nos fazem arrepios. Esta é uma semana carregada de simbologia, de sofrimentos e de penitência. Em tempos não muito longínquos, a Igreja Católica pegou numa série de símbolos e sinais que remetia os fiéis para momentos incríveis e até com alguns medos. E as matracas, que substituíam o tocar dos sinos, faziam-se ouvir pelas ruas da aldeia. Som estranho, som incómodo quando o sacristão passava na minha rua.
    Em sinal de luto, não se tocavam os sinos e todos os altares da igreja eram tapados com panos roxos, dando ainda mais uma imagem triste, sombria, mesmo de terror.
   Pelas ruas da nossa aldeia o sacristão chamava as pessoas para as cerimónias que iam decorrer na igreja e à volta do povo. Não dava para esconder o ambiente pesado e macambúzio que se vivia na aldeia até ao Sábado de Aleluia. Eram rostos de tristeza e pesar que se viam pelas ruas da povoação e quando a noite se aproximava na sexta-feira, o momento de ir "fazer o enterro do Senhor" arrepiava qualquer criança. A igreja ficava diferente, para além de serem tapadas as imagens dos altares, o Cristo do altar Mor era (e ainda hoje) retirado da cruz e colocado num enorme e pesado caixão de madeira que se coloca em cima do altar e depois percorre as ruas da aldeia num cortejo fúnebre, como se tratasse de um funeral de verdade.

O sacristão a tocar as matracas

  


sábado, 31 de março de 2018

SÁBADO DE ALELUIA EM MALCATA

Os sinos do campanário da igreja de Malcata
 
   
   Chegou o Sábado de Aleluia. Na aldeia de Malcata no Sábado de Aleluia era costume celebrar-se uma missa por volta da meia-noite. Era uma cerimónia bastante participada e animada. As pessoas levavam consigo campainhas e chocalhos que ainda hoje os ouço a badalar ao mesmo tempo que os sinos do campanário da igreja repinicavam e se anunciava a Ressurreição de Jesus Cristo, enquanto os fieis cantavam “Aleluia, Aleluia, Aleluia, Cristo Ressuscitou”.
   E no fim da Missa de Aleluia toda a gente regressava a suas casas alegres e bem-dispostos.
   Era assim o Sábado de Aleluia na minha aldeia, quando eu ainda era garoto.
   Em 2007 a Marta comentava com estas palavras o tocar dos sinos:
   "
O raio dos sinos que não nos deixaram dormir...
   Tocaram toda a noite, os sinos de Malcata!"

   E hoje como vai ser?

 
    CRISTO RESSUSCITOU!
    ALELUIA, ALELUIA,ALELUIA!

sábado, 26 de março de 2016

A PÁSCOA EM MALCATA

  A igreja de Malcata antes de Domingo de Páscoa
apresenta-se despida 


    A Páscoa é um dos mais importantes eventos cristãos. Nesta época, comemora-se a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação no dia de Sexta-Feira Santa.
   Quero saber o que costumam fazer os malcatenhos nesta quadra e/ou as experiências que vivem ou viveram nesta Páscoa ou noutras já passadas.