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7.4.23

MALCATA: O ENTERRO DE J.N.R.J.

 


   Que memórias tenho da Sexta-feira Santa em Malcata?
   As minhas são as de um jovem, nascido nos anos 60, que até aos 11 anos vivia na comunidade malcatenha.
   Nesses tempos, a religião católica é que determinava e orientava os comportamentos dos aldeões, pessoas trabalhadoras, respeitadoras das leis da Igreja e dos políticos que mandavam no nosso país. Quem sabia escrever e ler, por vezes entendia a vida de modos diferentes da maioria, por eles não saber ler e escrever.
   O povo era muito crente e muito devoto. A igreja, aos domingos e nas festas religiosas, enchia-se de fiéis, rezavam, cantavam, iam às procissões e às confissões. Eram tempos bem diferentes!
   E na Sexta-Feira Santa, tudo era escuro e triste. Os adultos cumpriam os preceitos decretados pela Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, mesmo os mais ricos, que não se importavam de pagar a bula e assim ter carne na mesa. Já nessa época, o pobre obedecia e o rico buscava forma de mostrar quem mandava na vida dele. Eu, nunca entendi essa diferenciação de religiosidade e de catolicismo.
   Nesta Sexta-Feira Santa, entrar na igreja matriz era como se estivesse a entrar numa catacumba escura e só de ver o caixão em cima do altar-mor, assustava qualquer um que ali fosse sozinho ao meio da tarde. Não se via nenhum dos santos dos altares, porque estavam cobertos com panos escuros, penso que roxos. O enorme caixão preto e os véus rendilhados de tecido também preto e umas rendinhas brancas, parecia mesmo que estávamos a participar no enterro de Cristo.
   E as mulheres? Lembro a figura da minha mãe e das outras santas mulheres, vestidas de roupas negras, da cabeça aos pés, algumas seguravam nas mãos, o seu terço de contas preto e crucifixo prateado, entravam devagar, paravam junto à pia de água benta e mergulhavam nela os dedos da mão direita e benziam-se para depois seguir pela coxia central e sentarem-se no banco.
   As cerimónias marcavam ainda mais a celebração e à medida que a narração da História se ia desenrolando, aumentava o desconforto emocional dos participantes. E a procissão do enterro? Tudo se tornava difícil de levar até ao fim. Os homens que levavam o caixão sabiam o quanto ele era pesado e tinham que parar várias vezes para colocar uns paus que lhes permitia ganhar fôlego para continuar. Dar voltas à aldeia era doloroso e a entrada na igreja faziam-no num silêncio sepulcral. As pessoas iam para as suas casas de cabeça baixa, de cara tapada com o xaile preto, subiam as escaleras e entravam mudas. Os lavradores ainda passavam pela loja, ver como estava o ambiente e depois de dar um jeito na cama do gado, despejam um punhado de feno para a manjedoura e iam descansar para junto da mulher.
   Mas que dia este de Sexta Feira Santa!
   E hoje, ainda será assim ?

17.4.22

AINDA ONTEM...LHE SORRI!

 

   Hoje quero lembrar-me do Tó ( António), um primo ainda que de forma afastada, pertence aos membros da minha família. É que ao lembrar-me dele, lembro-me também do seu filho, o rapaz com quem me divertia e que na igreja ajudávamos o padre Lourenço a limpar os dedos das mãos e no fim de tudo, pegar na cana e ir de altar em altar, de vela em vela para as apagar, deixando que a luz da lua entrasse pelos vidros dos caixilhos das janelas.
   O pai do meu amigo foi homem de trabalho, de ir para o campo e levar com ele o burro e as cabras. Há uma imagem que me ficou gravada e um dia até registei para memória das minhas paixões de andar com máquina de fotografias. Aquela terra foi tantas vezes cavada, lavrada, tractorada e ali passou muito do tempo da sua vida de agricultor.
   Quando me encontrava na rua da Fonte, dirigia-me sempre a palavra:
   - Então João, como andas tu? Bem, não é? 
Olha, o Augusto lá anda pela França! Ele assim quis...a vida...não é aquilo que muitas vezes pensamos, mas foi o que ele quis! O mal foi dele... 
     
  As gentes da aldeia conheciam bem este ser humano, simplório, trabalhador e que durante anos agarrou as rédeas deste povo. Como presidente de junta não lhe conheço grandes obras, não porque não tenha feito nada, mas simplesmente por eu estudar longe, naqueles anos era tudo mais distante e as notícias não havia tantas como há agora.

  
  O Ti Tó Peneira, assim foi conhecido na aldeia,  ontem, foi ter com o Augusto Afonso, o seu filho mais velho. Este homem, coisa que nunca teve foi "peneiras", foi o pai do rapaz aventureiro e sonhador que andou por onde foi mandado ir e por lugares que ele escolheu. 
   É dia de Páscoa, sim é verdade. Sei o que as pessoas pensam do Natal e outras festas religiosas, como esta da Páscoa. Depois dos acontecimentos deste ano, a Páscoa passa a ser sentida de forma diferente, assim como aconteceu comigo naquele Natal de 2018. Mãe e filho sabem melhor que eu como é importante continuar a viver.
   Aleluia!



   
   
    
  

   

15.4.22

A PÁSCOA E AS TRADIÇÕES

   SONS DA PÁSCOA

   A Semana Santa está cheia de sinais e sons que ainda hoje alguns nos fazem arrepios. Esta é uma semana carregada de simbologia, de sofrimentos e de penitência. Em tempos não muito longínquos, a Igreja Católica pegou numa série de símbolos e sinais que remetia os fiéis para momentos incríveis e até com alguns medos. E as matracas, que substituíam o tocar dos sinos, faziam-se ouvir pelas ruas da aldeia. Som estranho, som incómodo quando o sacristão passava na minha rua.
    Em sinal de luto, não se tocavam os sinos e todos os altares da igreja eram tapados com panos roxos, dando ainda mais uma imagem triste, sombria, mesmo de terror.
   Pelas ruas da nossa aldeia o sacristão chamava as pessoas para as cerimónias que iam decorrer na igreja e à volta do povo. Não dava para esconder o ambiente pesado e macambúzio que se vivia na aldeia até ao Sábado de Aleluia. Eram rostos de tristeza e pesar que se viam pelas ruas da povoação e quando a noite se aproximava na sexta-feira, o momento de ir "fazer o enterro do Senhor" arrepiava qualquer criança. A igreja ficava diferente, para além de serem tapadas as imagens dos altares, o Cristo do altar Mor era (e ainda hoje) retirado da cruz e colocado num enorme e pesado caixão de madeira que se coloca em cima do altar e depois percorre as ruas da aldeia num cortejo fúnebre, como se tratasse de um funeral de verdade.

O sacristão a tocar as matracas

  


31.3.18

SÁBADO DE ALELUIA EM MALCATA

Os sinos do campanário da igreja de Malcata
 
   
   Chegou o Sábado de Aleluia. Na aldeia de Malcata no Sábado de Aleluia era costume celebrar-se uma missa por volta da meia-noite. Era uma cerimónia bastante participada e animada. As pessoas levavam consigo campainhas e chocalhos que ainda hoje os ouço a badalar ao mesmo tempo que os sinos do campanário da igreja repinicavam e se anunciava a Ressurreição de Jesus Cristo, enquanto os fieis cantavam “Aleluia, Aleluia, Aleluia, Cristo Ressuscitou”.
   E no fim da Missa de Aleluia toda a gente regressava a suas casas alegres e bem-dispostos.
   Era assim o Sábado de Aleluia na minha aldeia, quando eu ainda era garoto.
   Em 2007 a Marta comentava com estas palavras o tocar dos sinos:
   "
O raio dos sinos que não nos deixaram dormir...
   Tocaram toda a noite, os sinos de Malcata!"

   E hoje como vai ser?

 
    CRISTO RESSUSCITOU!
    ALELUIA, ALELUIA,ALELUIA!

26.3.16

A PÁSCOA EM MALCATA

  A igreja de Malcata antes de Domingo de Páscoa
apresenta-se despida 


    A Páscoa é um dos mais importantes eventos cristãos. Nesta época, comemora-se a Ressurreição de Jesus Cristo depois da sua morte por crucificação no dia de Sexta-Feira Santa.
   Quero saber o que costumam fazer os malcatenhos nesta quadra e/ou as experiências que vivem ou viveram nesta Páscoa ou noutras já passadas.