20.7.17

NEM SÓ DE BOLOS SE CELEBRAM OS ANIVERSÁRIOS

   No próximo domingo, 23 de Julho, assim que forem as 18:00, vai ter início um concerto musical na igreja Matriz de Malcata.
   A Associação Malcata Com Futuro volta este ano a celebrar o seu 2ºaniversário proporcionando aos seus associados e a todos os malcatenhos momentos de elevado nível cultural e artístico, prestados mais uma vez, pelo Virtuoso Soloists Of New York. Sendo a AMCF um dos parceiros do Bendada Music Fest, cuja direcção artística está a cargo da jovem artista Inês Andrade, Malcata vai poder uma vez mais desfrutar de momentos de elevado nível artístico e tal como no ano passado, será uma experiência que vai ficar gravada na memória dos malcatenhos.
   Este ano, na abertura do concerto vamos poder ver e ouvir uma jovem que nos é muito familiar e que tem as suas raízes na nossa aldeia, berço da sua mãe e avós. Os artistas, para além de tocar o que gostam, estão ainda numa fase de amadurecimento e aperfeiçoamento constante da sua perfomance artística. Todos eles sonham com uma vida ligada à música. A presença do público para ouvir e ver estes jovens artistas a entregarem-se de corpo e alma à música, prima pela criação de momentos de verdadeira emoção e de reconhecimento dos seus talentos e através das palmas dos presentes e das vénias de agradecimento dos artistas, vamos todos viver esta festa de aniversário invulgar, mas que faz tanto sentido realizá-la na nossa aldeia.
   Então no próximo dia 23 de Julho lá nos encontraremos todos.

15.7.17

EU QUERO IR À SERRA VER O LINCE DA MALCATA

                                       Inês, Sara e Sofia, à procura do lince da Malcata


   - Mãe, Carmo, eu quero ir ver um lince! Quando é que vamos à serra ver o lince?
   Esta foi a pergunta que a Sofia fazia à Olga, mãe da criança e que naquele mês de Agosto aceitou o nosso convite para deixar o Porto e ir até Malcata. A verdade é que eu sabendo que já não havia linces na Reserva Natural da Serra da Malcata, mas a insistência da Sofia em ir à serra e talvez encontrar um lince pelo caminho levou-nos a ir à procura daquilo que não íamos encontrar.
  Depois de umas horas a subir e descer, de olharmos para tudo o que mexia e andava, a Sofia um pouco desanimada disse:
- Zé vamos para casa! Sara e Inês o lince está escondido, ele deve ter medo de nós e não aparece. Vamos regressar e vimos amanhã mais cedo. Está bem?
- Tens razão Sofia. Vimos amanhã outra vez, quem sabe o lince apareça!
  Depressa chegámos a casa, porque a descer todos os santos ajudaram a andar mais depressa e o burro não tropeçou.
  Chegados a casa a Sofia disse-me ao ouvido:
- Ó Zé, prometes que amanhã vamos encontrar um?
- Sim Sofia, vamos lá amanhã outra vez!

2.7.17

O QUE FAZER COM TANTA ÁGUA?


Albufeira da barragem
   
   Desde os anos sessenta, setenta e seguintes a aldeia de Malcata está bem diferente nalguns aspectos e igual noutros. Quando vamos hoje a Malcata, basta deixarmos a EN233 e entrar na M542 e as mudanças ocorridas na paisagem do nosso território estão à vista de todos. Ao nosso lado direito surpreende o Parque Eólico que se estende ao longo das Ferrerias e até quase à Machoca. A água da albufeira da barragem quase nos faz desviar por um daqueles caminhos em terra à nossa esquerda, pois o calor faz suar e a água hidrata e mata a sede.
   Longe vão os tempos em que conheci essas terras cheias de espigas douradas de centeio e trigo. Vinham ranchos de homens e mulheres e de foice na mão direita, dia após dia, entre cantigas e merendas, lá ceifavam até à última espiga.
   Poceirão, Ferrerias, Gorgulão, Chãos da Serra, Rasa, Ninho das Corças, Curral dos Porcos e outros lugares cheios de “pão e trigo” (centeio e trigo).
   Hoje todas estas terras deixaram de produzir cereal e encheram-se de pinhos bravos e carvalhos, outros são autênticos matagais totalmente improdutivos. 
   Em 1997 começaram as obras da construção da Barragem do Sabugal e em 2000 a água começou a sua subida até fazer cobrir os terrenos de muitas famílias da aldeia. Quem tinha terras na Fontacal, Ribeiro Grande, Várzea, deixaram de poder cultiva-los. Boa terra para produzir batata de excelente qualidade, lameiros com erva verde e fresca, moinhos movidos com a água do rio Côa, pontões e poldras para atravessar as margens de um lado para o outro, freixos, sabugueiros e amieiros, altos e frondosos, ao longo das duas margens do rio, sem dó nem piedade, foram literalmente engolidos pela subida das águas. 




                                                               Pego-Rio Côa

   Foi assim que se acabou aquela boa tradição de “ir para a ribeira tomar banho”, carregados de mantas e boas merendas. Nem o pó que se apanhava no regresso a casa, subindo a pé aquele caminho de pedra e muito pó, até chegar ao princípio da rua da Moita, fazia desistir de viver esta aventura de Verão em Malcata. Há uns tempos desci por este caminho, agora mais largo e menos poeirento e senti-me num pego invisível e irreconhecível. Muita água, mas não é a mesma água do pego, nem sequer os velhos amieiros deixaram e os barrancos também desapareceram.
   Malcata mudou e ainda hoje me pergunto se valeu o sacrifício. Hoje a maioria das pessoas que vive na aldeia são de idade avançada. Poucos são os que ainda vão para os campos trabalhar. A falta de saúde e a idade já não os ajuda a sair para os campos.
Os filhos e netos foram para longe ganhar a vida. Por isso há muitos terrenos ao abandono e não produzem riqueza.
   Como vamos mudar o estado destas coisas?
   A construção da barragem foi um alívio ou a oportunidade que Malcata precisa para se desenvolver?
   São perguntas que faço a mim mesmo e a cada um dos malcatenhos. Como vêem, vou a Malcata e dou comigo a pensar nestas coisas.
   A vós também vos acontece o mesmo?