O futuro da cidade do Sabugal passa por pôr a trabalhar as pedras centenárias da sua zona histórica. O castelo e a zona que o envolve não pode ficar adormecido a olhar para o passado. É preciso fazer desse passado um activo, um recurso de desenvolvimento.
A "Casa do Castelo" e o ciber-bar "O Bardo" são dois fantásticos exemplos da afirmação e valorização da zona histórica da cidade do Sabugal. Tratam-se de dois projectos criados por gente criativa, inovadora e empreendedora. O último exemplo desta criatividade é o compromisso que assumiram com a realização da "Feira Franca" no Largo do Castelo. A iniciativa tem sido um êxito e muitas pessoas têm marcado presença nessas feiras. A valorização do património também se faz com estes eventos e com este tipo de projectos. São a demonstração da força daqueles que, para além do negócio, reconhecem o valor e a riqueza que os nossos antepassados nos legaram.
O Sabugal necessita de adoptar uma estratégia de desenvolvimento que não passe exclusivamente pela criação de infra-estruturas e equipamentos ( obras físicas ) e que, pelo contrário, invista na captação de "talentos"- pessoas com capacidade e projectos para enriquecer económica e socialmente a cidade e o concelho. Quem defende este pensamento é o investigador de Planeamento Regional, José Mendes, actual reitor da Universidade do Minho.
"Durante décadas, as cidades portuguesas investiram quase exclusivamente em infra-estruturas. Mas só conseguirão sobreviver. As cidades estão a cair no "vale da morte" e só uma mudança de prioridades e de discurso, no poder local, poderá ajudá-las a ultrapassar essa fase terrível". diz José Mendes numa conversa que teve com o jornalista Paulo Coentrão, publicada neste domingo no jornal "Público".
"Há vários aspectos que me preocupam: que o discurso autárquico continue centrado nas obras; que tenhamos rede, mas pouca sociedade a trabalhar em rede; que, em suma, cidades onde até existem plataformas de conhecimento - como universidades e politécnicos, mas não só - não consigam transformar o investimento feito nessas áreas em factores de competividade, em algo que as distinga das demais e as torne atractivas num mundo cuja fronteira não é sequer a que separa concelhos vizinhos, porque essa, como na economia, deixou de existir. E, neste cenário, o que devem as cidades atrair? "Talentos". Ou seja, "pessoas que, nas mais diversas áreas, sejam criativas, abertas à inovação e que tenham ideias capazes de enriquecer, económica e socialmente, o espaço onde vivem".
O investigador continua dizendo que "os autarcas portugueses já deveriam estar a utilizar o dinheiro dísponível no quadro comunitário de apoio menos em obras físicas e mais em iniciativas imateriais que fomentem a qualidade de vida e uma identidade própria; que identifiquem e fixem as pessoas interessantes".
Interessante a conversa que este investigador teve com o jornalista.
No mesmo artigo também Fernando Ruivo, coordenador do Observatório de Poderes Locais, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra,afirma que "a mentalidade do autarca português não está assim tão avançada. A partidarização do sistema político, muito dependente do imediatismo dos resultados eleitorais, somada à fraqueza da própria sociedade civil, dá este resultado".
Percorram as ruas na cidade do Sabugal e perguntem a cinco cidadãos qual é a visão que os responsáveis da Câmara Municipal têm para a cidade. Qual ou quais são as estratégias para mudar a cidade e transformá-la numa cidade criativa, com qualidade de vida e orgulhosa do seu passado.