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21 março, 2025

MALCATA: SEXTA-FEIRA DE SAUDADE

  
Rua do Carvalhão em 1994

   Só quem mora longe do lugar
que sempre gostou, é que sente saudades. Quem está fora continua a levar a sua vida da forma que melhor é capaz. E andamos meses e semanas a pensar naquele dia em que, faça chuva ou sol, rumamos em direcção ao nosso pequeno mundo secreto e ao qual pertencemos. Foi nesse pequeno cantinho do mundo, longe do mar e perto da floresta, que a nossa vida começou. É nessa pequena aldeia serrana, protegida dia e noite dos ventos que sopram do lado da Espanha, que por amor,
pela água fresca, pela liberdade que se vivia, muito afastados das preocupações que muitas famílias tinham que ultrapassar, sempre com todos os cuidados e cumprindo todas as leis do regime, que as frágeis árvores que nós eramos, se agarraram à terra e cujas raízes nos mantêm
para sempre ligados e agradecidos.

Os meus dois amigos fieis


    Vivemos com essa ideia de chegar aquele dia em que nós regressaremos. E o que parece fácil e rápido de resolver, demora anos a concretizar esse desejo. E de todas as dores que uma pessoa pode sentir, as da alma são aquelas que custa mais a passar. Não sei se convosco acontece o mesmo, comigo é duro e difícil. E talvez seja por sentir o que sinto que guardo em casa tudo o que se identificar com a aldeia onde nasci e que cada vez estou a visitar menos.

  




Rua da Moita

  Eu sei que é uma aldeia igual ou pelo menos, com muitas parecenças a outras aldeias do nosso país, do nosso concelho.

   A vida é feita de mudanças. E o nosso mundo responde e abre as suas janelas para sermos criativos, trabalhadores e ainda arranjar tempo para contemplação. Esse cantinho da aldeia, na rua com carvalhos gigantes e figueiras de figos lambões, numa casa sem electricidade, sem água nem torneiras, com uma loja cheia de vivo e dois porcos no cortelho por baixo das escaleras, nasci eu, João, na Rua do Carvalhão e um mês depois registado com nome de José. Um dia conto esta história de fio a pavio. Sei que há estórias bem piores!!!

  

 

    Saúdo todos aqueles que, tal como eu, optaram por conhecer mais mundo, caminham por estradas e céus bem distantes e que às vezes apanham uma ensaboadela por terem vergonha de se apresentar e revelar as suas origens. O trabalho, a resistência e algumas réstias de brutalidade beirã, que vem e faz parte das características dos beirões, inconscientemente, funcionam muitas vezes como os códigos de barras ou dos dados biométricos e não vale a pena esconder. Somos malcatenhos. 

                                                                  José Nunes Martins

    

 

 

 

 


15 março, 2025

EM MALCATA HÁ MAIS MÁQUINAS E MENOS VIVO!

    O Mundo rural está a mudar e mais rápido daquilo que muitos pensam. 
    Recordo-me dos meus tempos de infância e adolescência e do mundo rural que fervilhava na nossa terra. Nós, as crianças e adolescentes, não sabíamos descrever uma ida à praia e muito menos falar das sensações provocadas pela água salgada e a areia que queimava os pés. Quem sabia e vivia junto ao mar é que falava do mar, das ondas e da praia. Nós, os garotos do campo, brincávamos uns com os outros, com os animais que havia em todas as casas. Nenhum nos assustava e desde cedo que estabelecíamos  boas relações de confiança e adecto, chegando a pegar nos filhotes das cabras ao colo, ou andar a tentar ensinar a galinha a jogar à macaca...na aldeia havia galinhas e pintainhos, cabras e cabritos, vacas e vitelos, burros, ovelhas, coelhos, patos, porcos, éguas e cavalos, muitas aves e raposas, lobos, javalis...nós, as crianças, crescíamos entre o reino animal irracional mas muito útil nas tarefas do campo. Todos os rapazes e raparigas sabíamos de onde vinha o leite que bebíamos ao pequeno almoço, sabíamos como era feito o queijo e porque alguns cheiravam tão mal, mas todos gostávamos de pôr por cima da fatia de pão.  

Vaca


Agora, o mundo está diferente. Estão coisas novas a acontecer e tudo o que é velho, vira lixo e atiramos com as coisas para dentro dos contentores de "resíduos domésticos". 


Ovelhas

O mundo parece estar a dar uma volta e está muita coisa a ficar ao contrário. Hoje, os meninos e as meninas das cidades é que nascem perto dos animais. Agora são os garotos das aldeias que têm que pedir aos pais deles para os levarem até às cidades ver ao vivo o gado: as vacas, os burros, as cabras, as ovelhas, os cavalos...salvam-se as galinhas e os porcos. Não sei por quanto tempo os vão poder ver ao vivo na aldeia, as mudanças estão a suceder muito mais depressa que há uns anos atrás...



JMAL-Sabugal(Sortelha)

Aprender andar na albarda do burro foi das primeiras experiências que eu tive quando era um jovem adolescente. Os pais ensinavam os filhos a equilibrar o corpo em cima da albarda. Quem não adorava ir às cavalitas do "Preto" ou do "Russo" ? Até as raparigas gostavam!

Estão a ver como o mundo está diferente!!!!

              José Nunes Martins



01 novembro, 2024

QUANDO NADA PARECE ACONTECER

 


   Há tradições e costumes que os católicos repetem todos os anos. Hoje, 1 de Novembro de 2024, é para a Igreja Católica, o Dia de Todos os Santos.
   Esta celebração serviu durante muitas gerações para evocar todos os santos e mártires
da Igreja Católica. Atualmente, como é feriado e véspera do dia dos Fiéis Defuntos, a grande maioria das pessoas vão aos cemitérios rezar e prestar homenagem aos familiares e amigos já falecidos. E a Igreja Católica agora celebra os dois dias num só.
   O que importa é comprar flores, das mais variadas cores e espécies, até podem ser de plástico. Comprar velas ou lampiões a pilhas, uma vassoura, um balde, uma esfregona e ir ao cemitério alindar a campa ou jazigo, gaveta ou gavetão. São gestos que são feitos em silêncio e com muitas paragens a olhar para o alto e para as fotos dos familiares ou amigos que tantas saudades deixaram. Eu não consigo ir ao cemitério no dia de hoje e de amanhã. Conheci pessoas que procuraram em vida, ser boas almas, levando uma vida normal, com dias alegres e festivos, no meio de angústias, traições, sofrimentos…e partiram deste Mundo a pensar que ressuscitariam.
   E estes dois dias são importantes na agenda das pessoas que homenageiam os falecidos.
    Hoje todos os santos são homenageados e lembrados. E cada terra tem os seus usos e costumes. Há perguntas que é preciso fazer:
    Porque homenagear todos os santos?
    Será que os santos precisam de ser elogiados?
    O interesse de elogios e rezas (mesinhas) não serão por nosso interesse e não
  dos santos?
     Eles, os santos, uns conhecidos e outros não, esperam que através dos seus testemunhos de vida já vivida, nos tornemos em melhores pessoas.

     Há momentos e fases da vida que parece que nada está a acontecer. E nestes dias iniciais de Novembro, podem servir para cada um de nós procurar o essencial da vida, sem qualquer justificação ou pretexto que nos tirem da normalidade. Lutar pela verdade e autenticidade vai-nos fazer mudar como pessoas. Aceitar que a vida é uma passagem, um dia a seguir a outro dia que passou, fazer o que há por fazer e não fazer para sermos vistos e aplaudidos apenas pelas nossas ambições pessoais.  Hoje celebramos em comunidade os feitos dos santos e celebramos a fé cristã em que acreditamos. Quem celebra a fé e o partilha com todos só interessa mesmo, quando é verdadeira, autêntica e genuína. Passa a ser um teatro se apenas nos preocuparmos com o que representamos, com o lugar que ocupamos, com a nossa aparência na rua e a nossa presença em eventos festivos.
    Celebrar com a comunidade aquilo que é a nossa vida diária é partilhar aquilo que fazemos e em que acreditamos.
    Bom seria sentir o desejo de mudar o nosso coração e ganhar mais força e vontade de viver em fraternidade e em comunhão com todos.
    Nós simplesmente estamos de passagem para…a outra margem!

10 fevereiro, 2023

O MUNDO É COMPOSTO DE MUDANÇAS

 

Malcata - Primeiro P.T. Aéreo de energia eléctrica 
 

  
   
   O sonho dos malcatenhos eu não conheço. Mas o meu é poder viver numa aldeia tranquila, segura e com sinais de futuro. E tudo aquilo que fizermos para e pela nossa aldeia deve ser apoiado. Os tempos são de muitas mudanças e de desafios novos. O amor à nossa terra vê-se também com o coração e temos que criar relações como aquelas que precisamos de sentir com os nossos pais, as nossas mães: relações de respeito, de aceitação das várias opiniões e nunca esquecer a gratidão. Devolver o que nos oferecem e manter uma aldeia com vida sustentável.

   Cabe à comunidade malcatenha e a cada um de nós fazer o caminho e percorrer o caminho a pensar na vitória, porque se damos o primeiro passo já derrotados, a caminhada será muito mais difícil e dura.
   A Comunidade de Energia vai ajudar-nos a interiorizar melhor as razões de caminhar juntos e a ultrapassar todos os obstáculos que forem surgindo. Quando o homem sonha, o mundo pula e avança. Estamos inseridos num mundo em que as energias fósseis se estão a esgotar. O petróleo, o carvão, o lítio, a água, o vento e o sol, são um enorme desafio para o futuro da energia. A falta de alguns destes recursos veio colocar a nu as nossas fragilidades e as nossas dependências. Esta é a nossa oportunidade e a altura certa para tomarmos consciência que as alterações do clima, do aumento do consumo de bens e serviços, vai mudar o nosso mundo. Mesmo que não seja o nosso desejo, por muito que estejamos contra a mudança, isso é uma certeza que vai acontecer. Quem conscientemente aceita as mudanças e se envolve na construção de um mundo melhor, vai aceitar e desejar viver numa comunidade viva, visionária, sonhadora e com futuro.
                                               
  José Nunes Martins

20 outubro, 2017

MUDAM-SE OS TEMPOS;MUDAM-SE AS VONTADES





“Mudam-se os tempos; mudam-se as vontades”

   Depois de um período de tempo cheio de acontecimentos sociais e políticos a nível local, regional, nacional e internacional que nos obrigam a uma reflexão profunda, é nosso dever não ficarmos indiferentes a tudo o que se tem passado. Quero, como qualquer outro cidadão que pensa, partilhar o meu ponto de vista em relação ao passado, ao presente e ao futuro mais particularmente a nível local. Tive a sorte de ter nascido em Malcata, terra da Beira interior, que por ser o meu torrão natal muito amo e tenho defendido. Embora considerando-me cidadão do mundo, pois ao longo dos meus setenta anos de vida já muito mundo percorri, guardo uma afeição especial pela nossa terra, pela nossa região, pelo nosso concelho Sabugal. Com os dons que Deus me deu, tenho-me entregado voluntariamente em ações e serviços que levam ao desenvolvimento e engrandecimento do nosso território, e por isso estou à vontade para tirar as minhas conclusões. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Hoje estou, por opção própria, envolvido noutros projetos, noutros mundos. A minha ausência física é um imperativo que me leva a deixar de fazer parte de estruturas ou instituições locais. Mas juro que nunca deixarei de me preocupar com a vida e o desenvolvimento local, particularmente de Malcata.
   Com respeito por todos os poderes instalados, através de eleições democráticas que ao longo destes anos decorreram, tenho a afirmar que as associações e instituições existentes em Malcata (ASSM, ACDM, ACPM, AMCF, F. da IGREJA e outras) com relevo para a Associação Cultural e Desportiva, têm sido determinantes na defesa e promoção dos nossos valores, do nosso património. As pessoas passam, as instituições permanecem, pelo menos enquanto houver servidores (voluntários). Pouco interessam as quezílias, os maus entendidos, as fricções que haja ou tenha havido. É mais o que nos une que aquilo que nos separa. Porquê ostracizar esta ou aquela? Não tem cada associação os seus objetivos definidos pelos seus estatutos? É mesquinho deixar-se dominar por rancores ou ódios, vinganças (eu sei que as há), mexericos ou conversas de café. Sou daqueles que se recusam a olhar só para o chão, não vendo o que está para trás nem o que está em frente. Precisamos de uma visão global de passado, de presente e de futuro. Porquê não aceitamos as mais valias de cada uma? Porque não colaboramos todos em pé de igualdade, com respeito e consideração mútua? 
    Enterremos os machados de guerra e sejamos soldados da paz!
   De minha parte farei o possível para procurar entendimentos. Dentro de pouco terei de deixar todos os cargos que ainda exerço ( vice-presidente da direção da ACDM, presidente da Assembleia Geral da AMCF), pois aproxima-se o dia do regresso a Timor onde estou envolvido no projeto de solidariedade de construção e funcionamento de uma escola nas montanhas de Liquiçá. O meu futuro está em Timor Lorosa’e.
   Ainda que longe, terei um enorme orgulho de constatar que Malcata vai continuar a afirmar-se pelos seus valores, pelas suas gentes, pelos seus projetos, aproveitando os saberes de todos, concretizando projetos que lhe darão vida e dinamismo no presente e no futuro. A resignação e o conformismo são atitudes passivas que levam à extinção. E nem quero pensar que a nossa terra, à semelhança de outras tantas no interior do país está condenada ao desaparecimento por falta de compromisso e de ação dos poderes e dos seus cidadãos que, não sabendo defender o presente e preparar o futuro, pouco ou nada fizeram pela sua continuidade e evolução.
   Pelo bem de todos, da nossa terra, SEMPRE!... Como diz o ditado
 “ A VIDA E A LUTA CONTINUA! ”


                                                                                        Rui Chamusco

10 setembro, 2017

AMANHÃ DE MANHÃ



        "O IMPOSSÍVEL 
           É AQUILO QUE NINGUÉM FAZ
   ATÉ QUE ALGUÉM FAÇA."




 


 



   Uma vez, numa conferência sobre “Sucesso” um senhor sentado na primeira fila levantou-se e interrompeu o orador e disse:
- Concordo com tudo o que você disse até agora, mas eu conduzo uma carrinha de entrega de pão há trinta anos; acordo todos os dias às cinco horas da manhã, pego no minha carrinha e vou às aldeias; volto e e lavo a carrinha, preparo tudo para o dia seguinte. Estou quase na reforma e pretendo continuar a conduzir a minha carrinha: não quero coisas novas e difíceis a partir de agora.
   O orador respondeu:
- Parabéns, alguém tem que vender o pão. O que não é acertado é ficar a conduzir a carrinha do pão e ao mesmo tempo culpar o Estado, a inflação, o desemprego, os inimigos ou qualquer outro motivo, por você não fazer outras coisas na vida. Assim não se anda para a frente. Não devemos culpar os outros por não sermos felizes. Devemos sim, olhar para nós próprios e retirar dentro de nós a ambição positiva, a vontade de ter sucesso. Se o senhor continuar a conduzir a sua carrinha, se o senhor continuar a fazer o que sempre fez, o que vai conseguir é conseguir o que sempre conseguiu. Mas se o senhor quiser coisas diferentes, tem é que fazer alguma coisa diferente.
   Ouça amigo, não lhe estou a dizer que mude da noite para o dia, mas apenas que assuma novas atitudes e visualize um destino realmente bom.
   E comece já a pensar o que vai fazer de diferente:
   - O que vai fazer de novo amanhã de manhã?
   - Vai comer menos?
   - Vai fazer uma caminhada? Durante quanto tempo?
   Eu quando me levanto, à segunda-feira e vejo que tenho uma mão cheia de problemas para resolver, fico muto feliz, porque isso significa que a sociedade precisa de mim
   Há aqueles que dizem:
   - “Ah! Não vou conseguir fazer, isto é impossível”. E, caro amigo, quem pensa assim, mesmo que se esforce, não consegue, porque não acredita.
   O impossível sabe o que é? O impossível é aquilo que ninguém faz até que alguém faça. Há 100 anos atrás seria impossível viajar de Malcata até à Vila do Sabugal em 20 minutos, porque nesse tempo não havia estrada, ou se ia a pé ou montados num cavalo ou burro. Hoje, os automóveis fazem esse percurso nas calmas em 20 minutos. E ir à cidade do Sabugal de automóvel e demorar vinte minutos, deixou de ser notícia, é para quem conduz nas calmas, porque sabemos que há condutores que demoram menos tempo a chegar.
   Tudo é possível. Basta ousar e querer.

                   
                                                            Rio Côa (pego em Malcata)

                                                                                           Texto baseado num livro de Lair Ribeiro
                                                                                                            

17 agosto, 2017

MALCATA UMA TERRA DE SONHOS?


  Toda a gente deseja que uma aldeia tenha vida, pessoas com trabalho, bem-sucedidas e com muita esperança no futuro. Está nas mãos de cada um de nós contribuir para um desenvolvimento sustentável da nossa terra. O sucesso da nossa aldeia é o de todos. O mérito também é de cada malcatenho, da nossa paróquia, das nossas associações e também daqueles cidadãos que ao longo dos anos têm exercido funções na Junta de Freguesia.
   Na aldeia de Malcata não conheço nenhuma pessoa que faça milagres e o mesmo digo em relação a todas as instituições. Contudo, era bom que não nos esqueçamos ou apaguemos da nossa memória aquilo que era a aldeia de Malcata há 40, 50 anos atrás. E essa é mesmo a pergunta importante que devemos fazer:
   Sabemos o que queremos?
   Queremos uma aldeia que faz jus à sua tradição autêntica de uma aldeia ligada à serra e à floresta, aos rebanhos e ao cabrito, ao queijo e ao mel?
   Queremos uma aldeia que aproveita e valoriza uma albufeira e um parque eólico que proporcionam uma atração invulgar a quem nos visita?
   As infraestruturas existem, mas há muito trabalho por fazer para que a albufeira, a floresta e o parque eólico sejam efectivamente bem aproveitadas e sejam fontes de rendimento. Para além do paredão, que permitirá a manutenção do nível da água junto ao Parque de Lazer junto à aldeia, a construção de alguns ancoradouros para pequenas embarcações, a construção de um parque de campismo, a melhoria da ASA de Malcata (Área Serviço Autocaravanas junto ao campo de futebol), são elementos de valorização e de aproveitamento da albufeira, uma beleza natural que ninguém fica indiferente, fazendo de Malcata uma aldeia também voltada para o turismo de natureza, com tranquilidade, com sítios onde dormir e comer um delicioso cabrito assado, um naco de saboroso pão cosido no forno comunitário e uma não menos deliciosa fatia de queijo entregue pela queijaria da rua do Meio.
   Ou então queremos uma aldeia cada vez mais velha, com os seus idosos acomodados confortavelmente num lar e a guardar para si próprios todo o seu saber viver, deixando que todas as suas memórias, ricas de experiências, de conhecimento da vida da aldeia desapareça assim como estamos a deixar cair as casas mais antigas, aumentando o número de casas vazias e o silêncio nas ruas porque não há crianças a correr acima e abaixo, nem precisamos de baloiços no parque infantil, uma terra vencida, sem ambição e sem futuro?
   Eu não tenho dúvidas sobre a aldeia que sonho e desejo. E este desejo não começou com aminha participação numa associação, mas aumentou em muito essas minhas esperanças porque também acreditam que é possível dar a volta a nossa terra. E mesmo longe, ao longo destes anos, tem sido pelos malcatenhos que continuo a falar e a escrever sobre o passado, o presente e o futuro de Malcata.
   É urgente e importante trabalhar em conjunto, em rede, como dizemos agora. O longe torna-se mais cerca porque hoje temos ferramentas que nos permitem uma maior aproximação.
   Para mim e para muitos malcatenhos, quando a liberdade de pensamento e acção ligada a um associativismo activo, sério, visionário em união com o poder local e os cidadãos, será aquele tão desejado milagre de Abril.
   Este verdadeiro milagre só será realidade quando cada um de nós entender e agirmos de forma diferente do passado. O dia de amanhã será bem diferente quando hoje fizer algo diferente daquilo que ontem fiz. Porque se hoje faço o mesmo que ontem fiz, o dia de amanhã será igual ao dia de hoje. Temos que mudar o paradigma e pensar, acreditar, trabalhar para o futuro diferente.

                                                    José Martins

11 setembro, 2014

A FESTA DE VERÃO ( Continuação )


   A Festa de Malcata já passou, mas nós vamos continuar a falar da Festa Grande, a Festa de Verão. No anterior artigo abordámos, com a ajuda do José Rei, como se vivia a festa de Verão, a chegada da Música ( Banda Filarmónica ) e a alvorada. Depois do foguetório e da Música vem a Procissão, a Missa e o Ramo. Então vamos lá convidar novamente o nosso José Rei e ler como ele observava a Festa.

MISSA SOLENE:O GRANDE MOMENTO DA FESTA

Igreja cheia na Missa Solene


   “O momento alto da Festa acontecia com a Missa Solene, mas antes havia uma procissão, um cortejo de visível religiosidade misturado com muita vaidade. E o ar ainda cheirava a pólvora!





O RAMO, uma das maiores fontes de receitas




O Arrematador do Ramo



   "A meio da tarde acontecia o Ramo, que era feito no adro da igreja. E só na década de 1960 a parte profana da festa passou a realizar-se no Rossio. O Ramos era um momento cuidadosamente preparado pelos mordomos, pois nesse tempo, era a principal fonte de receitas para pagar as despesas contraídas. O Ramo consistia na arrematação/leilão de ofertas de diversa índole, com destaque para os doces, o pão-leve, queijos, enchidos e cabritos. E também no Ramo se misturavam religiosidade e vaidade. Uns licitavam por cumprimento de promessas e ou sentido de ajuda, outros faziam-no para mostrar riqueza. O habitual nestas situações! E os mordomos agradeciam, enquanto o arrematador de ofertas, na sua característica estratégica de incentivo à licitação, “dez escudos, uma(…), dez escudos, duas (…), dez escudos(…) quinze escudos pró Ti João Filipe, uma (…), duas (…). E a lenga lenga continuava de oferta em oferta”.....escreveu José Rei.

   Depois de ler este texto que dizer? Olho para o arrematador e vejo-o em cima da caixa de carga de uma carrinha, talvez até seja a do Ti Alberto, pois é ele a voz e o homem que sabe puxar pela oferenda e dar-lhe ainda mais valor do que o que ela realmente tem.Claro que todos sabem que quanto mais alto for a licitação, mais dinheiro entra para pagar as festas!
   Nos anos 50, 60s, o arrematador talvez subisse para cima de um carro de vacas...lá no adro da igreja!
   Nessa época, o Ramo era a principal fonte de financiamento que os mordomos tinham para pagar as despesas. Juntavam-se também as ofertas obtidas pelos mordomos durante as voltas que davam ao povoado, indo de casa em casa e de rua em rua pedir para a festa.
   Outros tempos, outras festas e que todos ansiavam por festejar!







11 junho, 2009

MEDO DE MUDAR


Ninguém quer mudar
Gostamos de dizer que o País está mal e a política pior. Acusamos, há décadas, os nossos governos de serem incapazes. Na tribuna de qualquer café ou no sofá de nossa casa, culpamos os nossos representantes de favorecerem os seus proveitos pessoais e espezinharem o interesse público. Quase todos juramos que é preciso inverter o rumo colectivo e renovar o lote de dirigentes que temos.
Mas não é verdade.
Nestas eleições apareceram novos partidos com gente boa e sem vícios: (até agora) o MEP obteve 52 815 votos; o MMS, 21 633; o PH, 16 973. Em contrapartida, 164 879 cidadãos dirigiram-se às urnas para votarem em branco, inconsequentemente.
Os portugueses têm um prazer enorme em alardear a vontade de mudança desde que esta nunca se concretize.
Carlos Abreu Amorim, Jurista
http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=A653FA58-EB42-44D6-9C6C-B886667C6C09&channelid=00000093-0000-0000-0000-000000000093