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12.6.14

DE MALCATA ATÉ PONTE DE LIMA


José Rei
Malcata e a Serra, obra escrita por José Rei

      A comunidade escolar de Ponte de Lima associou-se e homenagiou o nosso conterrâneo que inesperadamente nos deixou. A igreja nova do Prado, Vila Verde ali ao lado de Braga, encheu com amigos, 
alunos, professores e um grupo de malcatanhos que viajaram  em autocarro de Malcata até junto do Zé Rei e família. Também marcaram presença os malcatanhos que vivem aqui pelo norte.


      Ao Homem 
   Ao Amigo
         Ao Professor
                                                                           A nossa eterna gratidão                      


 
   A marca Malcata tem cada vez mais valor. Somos nós os malcatanhos que podemos ou não acrescentar valor à nossa terra através de várias formas e meios. E os malcatanhos que vivem fora da aldeia temos sabido fazê-lo.
   O nosso conterrâneo José Rei, Zé Rei como carinhosamente foi sempre chamado em Malcata, colheu aquilo que durante anos sabiamente semeou e hoje o grupo de malcatanhos que estiveram presentes nas cerimónias religiosas foram testemunhas do valor do homem que inesperadamente partiu para outras serras .
   Os alunos do 11º H do Zé Rei também estiveram presentes e quiseram dizer umas palavras acerca do Professor Rei:
 
 "Não estamos habituados a falar de outra vertente deste ilustre homem que não seja a de nosso mestre e orientador, porque é a única que conhecemos- e bastou para que as saudades se instalassem. Foi um grande privilégio, porque de qualquer maneira o professor não era apenas um professor: era O Professor que estava sempre do nosso lado, com uma paciência inabalável.
   "Não queiram coisas difíceis com o mínimo esforço" e "Devagar que temos pressas".
    "A vida não é fácil e se alguém vos disse que a vida é fácil, enganou-vos"
   Mas apesar das farpas da vida, ou talvez porcausa delas, também nos apelava:
   "Façam o favor de serem felizes"

17.9.08

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA


... dia 15 de Setembro de 2008
A minha filha revoltada prometeu-me “Pai, quando for grande, eu e o mano, vamos abrir a escola outra vez”. Ela só deixou de chorar pelas 11 horas da manhã, quando ouviu o seu antigo professor dizer “tem calma, eu estarei sempre aqui, na sala ao lado
Dificilmente se apagará da minha memória aquilo que vivi no dia 15 de Setembro de 2008 na freguesia de Baraçal. Algo de surrealista que nunca pensei experimentar na minha vida. Abracei a minha filha às 8 da manhã para lhe dizer que era dia de voltar à escola. Já tínhamos tudo preparado do dia anterior, mochila, livros, canetas, lápis, etc.. Ela levantou-se muito satisfeita, iria reencontrar o seu professor (aquele de quem tinha falado mais de 1000 vezes durante as férias), a sua cadeira e a sua escola. Tão feliz que ela ia…
Nada! O professor não chegou… Eram 9.30 e nada! Nem professor, nem noticias, nem NADA! Um autocarro da firma Viúva Monteiro, Lda. Chegou logo a seguir. O condutor, educadamente, comunicou que vinha buscar as crianças com destino à escola do Sabugal... A minha filha desatou aos gritos “ Eu não quero ir para o Sabugal, quero a MINHA escola!”. Ouvi da boca das crianças palavras nobres, palavras “ocas” para alguns, mas que soam como bombas nos meus ouvidos “Eles são pessoas más, pois não pensam no sofrimento das crianças”. Um homem não chora, mas as lágrimas forçaram a saída.
Arrasado foi tomar um café, na única cafetaria da aldeia, onde deparei com a dona lavada em lágrimas. Chorava pela falta das crianças, pela falta do professor (que todos os dias ali ia almoçar), pela falta dos pais que ao levar as crianças ali paravam para tomar o café. Confessei que nada mais podia fazer e as lágrimas também voltaram a assomar.
Ao sair do café deparei com uma senhora a chorar e a dizer “Já nos levaram os nossos meninos, só conheci o Alexandre, mas iam lá os outros todos. Que serás de nós, sem o barulho das crianças, sem a sua alegria?”. Para ela, avó de QUATRO das crianças, e para toda a população o choque foi grande. Acabámos de perder a única coisa que ainda tínhamos!
Para quem tem tudo não percebe este sentimento. Revoltam-se quando ouvem falar no fecho do serviço de urgências, ou no encerramento do Tribunal, mas não se compadecem daqueles que até o pouco que têm lhes é arrebatado.
Fiquei triste, amargurado e desiludido com o “sistema”. A política não é o que eu pensava, não se age a pensar no bem comum, mas sim no bem de alguns. Se são necessários alunos aqui então vamos buscá-los ali, custe a quem custar. E não me venham com a treta do costume “e a qualidade de ensino?” quando sabem perfeitamente que a escola do Baraçal tem MUITO melhores condições para o ensino que a do Sabugal. “Mas são poucos alunos, e assim não aprendem a viver em sociedade” dizem eles. Pois é, era bom que não aprendessem a viver nesta sociedade hipócrita, era bom que aprendessem o verdadeiro significado da palavra justiça e solidariedade…A minha filha revoltada prometeu-me “Pai, quando for grande eu e o mano vamos abrir a escola outra vez”. Ela só deixou de chorar pelas 11 horas da manhã, quando ouviu o seu antigo professor dizer “tem calma, eu estarei sempre aqui, na sala ao lado.” Como dizia uma menina, eles não sabem o sofrimento que causam nas crianças. Eu acrescento - eles não sabem a dor que causam quando nos sentimos pisados.
Por: Luís Carlos Lages




Este artigo foi publicado no jornal "Cinco Quinas" e não pode ficar esquecido. Eis o retrato real do estado em que está a educação no nosso país. Li, acreditei e não posso ignorar. Façam o mesmo.