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4.4.08

A DESERTIFICAÇÃO DAS ALDEIAS


A desertificação e desenraizamento acontece em todo o mundo. Não se trata de um fenómeno exclusivo apenas das aldeias portuguesas. As pessoas sentem necessidade de procurar a felicidade e muitas partem da sua terra com a esperança de um dia a encontrarem.
"A desertificação significa o movimento contínuo e crescente de abandono das terras do interior por parte da sua população e a sua deslocação massiva para outras mais litorais e, sobretudo, para as duas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Não é que esse êxodo aconteça porque os lugares de origem estejam a transformar-se em desertos mas, antes, porque neles, já ninguém acredita e, pior que isso, já todos terão perdido a esperança.
..."As pessoas quando abandonam uma pequena aldeia do interior que, subitamente se viu reduzida a uma centena ou menos de vizinhos, para se ir fixar na vila mais próxima, forçasamente que deixa no sítio de onde saíu uma importante carga de memória que não vai encontrar, nem construir, nem reconstruir a curto prazo, no novo lugar que escolheu.
Outras vezes, a mudança é, porém, súbita e radical e faz-se mesmo, directamente da aldeia para a metrópole. Em qualquer caso, a mudança é, fatalmente acompanhada da alteração brusca do quadro de referência de vivências e valores, produzindo, por isso, o fenómeno que podemos designar de "desenraizamento". A característica principal deste fenómeno é, essencialmente, a não identificação do (e com o) novo lugar por parte de quem chega e desde logo, por inevitável incapacidade de leitura dos mais elementares sinais da memória da comunidade de "acolhimento" que, por sua vez, também não reconhece quem chega.
Acontece, porém, que, do fenómeno da "desertificação" resulta um outro que é possivelmente mais grave e de consequências mais destrutivas que é o do "desenraizamento". Ambos decorrem da incompreensão do novo e, simultaneamente, do apagamento(mais ou menos deliberado) do que já é passado, da não ligação aos diferentes "lugares"- aquele a que já não pertence e aquele a que ainda se não pertence - e, portanto, da importância fundamental dessa ligação para a construção da identidade individual e colectiva, como elemento essencial da cidadania que se perde quando, de pessoa se passa a um simples número que, por definição, não tem "lugar".
Este artigo foi escrito pelo arquitecto Manuel Correia Fernandes e publicado no Jornal de Notícias de 4/04/2008.

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