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24.3.23

SALVAGUARDAR É PRECISO

   

                                    Como era a vida do campo
                               dos nossos pais e nossos avós?

  

   Gostaria de vos lembrar alguns apetrechos da vida quotidiana, das ferramentas que as gentes da nossa aldeia utilizavam para fazer as tarefas agrícolas e as outras ligadas à vida rural.
   Sempre se cultivou na nossa aldeia e ao longo dos séculos, tem sido a base económica da freguesia. Hoje, é praticada uma agricultura de subsistência. Cultiva-se de tudo um pouco, o suficiente para o autoconsumo doméstico. Por sempre existir tanta variedade de culturas, existem diversas ferramentas para amanhar as terras e culturas, enfim, uma inúmera diversidade de afazeres, mas que aos poucos vão deixando de se fazer e as ferramentas vão ficando encostadas a um canto, substituídos por tractores e as alfaias que os acompanham. Até o pipo e a dorna, onde se guardava o vinho novo, foram postos de lado porque as cubas de inox é que são boas.
   Quando andamos pela aldeia e tropeçamos nas velhas ferramentas, antes de as cortar para o lume ou enfiá-las no caixote do lixo, a nossa obrigação é verificar se a podemos salvar. Há que olhar uns minutos para a peça ou peças e se por falta de espaço, ou porque não interessa guardar porque já não tem uso, deixo aqui um apelo para os entregar, por exemplo, à Junta de Freguesia ou a mim, quando por aí estiver. Eu terei o cuidado de guardar tudo para uma exposição permanente aberta a todos.
   Para avivar a memória aqui ficam as imagens:

   
Arca 
                                              


Banca de protecção dos joelhos
durante a lavagem da roupa no ribeiro


Arado


Canga


Ancinho


Ancinho e cesta
      E há tantas em falta: sachos, forquilhas, engaços, sacholas, peneiras, bancas, bancos, mochos, mesas, cantareira, cântaro, candeeiro, candeia, vara, chambaril, alforges, albarda, cabresto, bornal, alguidar, penico, lavatório, panelas de ferro, grelhas, dedeiras, gadanha, guilhos, francela, botelha para o vinho ou água, bilha de barro e o seu irmão de quem agora não lembro o nome...tanto para salvaguardar!
                                                               José Nunes Martins

4.7.14

O PÃO DAS BOCHAS




Bocha de pão ainda em crescimento

      Todos conhecemos a importância do pão na alimentação. Conheço até quem não coma a refeição se faltar pão na mesa. Hoje para comer uma fatia de pão não dá lá assim muito trabalho, há muitas padarias próximas de Malcata que diariamente nos levam o pão a casa. Antigamente era necessário pôr mãos à obra e começar a trabalhar em  Novembro para em Junho ou Julho se poder ceifar o pão, malhá-lo, entregar as sacas ao moleiro e depois marcar um dia para o cozer no forno do povo.
   Sendo eu filho de Malcata e não sendo a minha família muito abastada em terras agrícolas nem por isso deixou de semear pão e trigo, nomeadamente ao Poceirão e na Relva das Casas, terrenos cuja área e clima eram propícios para cereais.
   José Rei, no seu livro "Malcata e a Serra" no capítulo "As actividades de subsistência" na página 44 dedica a sua atenção à Ceifa. Durante os meses de Junho e Julho poucas horas de descanso havia para as gentes da nossa aldeia. Quase todas as famílias semeavam a sua bocha com pão ( centeio ) ou trigo.
   A ceifa era uma actividade que dava trabalho a muita gente. Em Malcata apareciam pessoas vindas de outras terras, vindas do lado de Castelo e que trabalhavam em grupo até acabar a ceifa. Mas em Malcata acontecia algo que merece ser lembrado e que mostra uma característica singular da vida comunitária da aldeia: como alguns agricultores não tinham dinheiro para pagar a esses ranchos de ceifeiros, "o mais comum era o rancho ser feito em modo de torna-dia, sendo o dia pago com outro dia de trabalho".("Malcata e a Serra, pág.44,José Rei).
   E então pelo raiar da manhã, todos se reuniam à porta do lavrador e após o matabicho partiam para o trabalho. 

        Os ceifadores iam para o campo bem aviados levando ferramentas, roupas e outros acessórios que lhes garantiam segurança e bons resultados no seu trabalho e em que destaco estes:



Dedeira e foice

Chapéu de palha

   "Chegados à bocha depois de verificada a direcção do vento e o trajecto do sol, os ceifeiros colocavam-se lado a lado, de acordo com as suas preferências  e começavam a ceifa. Alguns, metiam dedeiras na mão esquerda, a fim de se protegerem de eventuais cortes. que poderiam ocorrer a qualquer momento, dada a rapidez com que cortavam o cereal que agarravam com aquela mão". pág.46 do livro "Malcata e a Serra,de José Rei.


   
   

16.6.10

MALCATA: CÃES NO DESEMPREGO

Cão pastor no desemprego

   O animal adormeceu ao sol, apesar de ter sombra por perto. Preferiu as pedras em vez da erva. Nada o incomoda e a soneca está-lhe a saber pela vida. "Agora, disse-me a Ti Ana, o pobre só dorme. Antes, não largava as cabras, mas tive-as de vender. Sabes, João, já estou cansada e a saúde anda fraca.As pastagens são muito longe e o gado tem que comer todos os dias. Eu já não posso andar nesta vida, bem pena tenho mas que vamos fazer?!"
   Depois desta breve conversa fiquei a olhar para o cão e a pensar nos milhares de pessoas que agora têm mais tempo para dormir, para ver a selecção no mundial, porque alguém lhes retirou o trabalho. Para mim, o cão continua a ser o animal com mais sorte, pois, não precisa de trabalhar para viver, comer e dormir. O ser humano, necessita de trabalhar para poder viver e satisfazer as suas necessidades básicas. A boa vida está para os cães, mesmo aqueles que nasceram com o "faro" para guardar cabras e ovelhas.

18.1.09

SISTEMA DE REGA DO SABUGAL

Barragem do Sabugal



Desde 1966, tinha eu 6 anos, que a ideia de regar os campos da Cova da Beira surgiu. Muitos anos já se passaram e já foram construídas duas barragens, uma na Meimoa e outra no Sabugal.

Os autores da ideia diziam que poderia ser o motor de desenvolvimento da região abrangida e iria contribuir para fixar as populações e eventualmente fazer regressar à terra alguns que a abandonaram por falta de expectativas.

Os anos foram passando e as expectativas desfizeram-se porque o projecto nunca mais está pronto. Com tanto tempo perdido, muitos já foram trabalhar para terrenos celestiais, outros fugiram para aterras urbanas e quem ficou viu as terras cada vez mais abandonadas, assaltadas por giestais e pinheiros bravos.

Foram construindo alguns canais de rega, construíram o túnel entre a Barragem do Sabugal e a de Meimoa e agora chegou a vez de anunciarem as obras da Rede de Rega do Sabugal. Os estudiosos de hoje dizem que esta rede de rega vai beneficiar cerca de 300 agricultores. Há quem queira testar o sistema na próxima campanha de rega. Se o teste obtiver resultados como os que tiveram em Maio do ano passado quando testaram o Túnel de Malcata para Meimoa, não vai haver rega para nenhum campo.

É claro que hoje as pessoas estão com receio da “utilidade” deste sistema de rega que vai abranger a freguesia do Sabugal e das Quintas de S. Bartolomeu. Eles sabem que é água a mais para as “hortas” que hoje em dia cultivam. Para quê cultivar mais quando depois não têm para onde e nem quem lhes compre as culturas? A idade já não está para grandes hortas e ao preço a que a vida anda, os nossos agricultores de subsistência, ficam-se sentados no banco da cozinha e ao menos vão aquecendo as pernas e a cara.

Razão tem Manuel Rasteiro, o presidente da freguesia do Sabugal, quando diz que “com a agricultura de rastos, o que temos hoje são pequenas propriedades, uns “quintais”, porque quem produz em quantidade não consegue vender”.

Mas há trabalho para fazer, há mentalidades que precisam de alterações e estímulos.

Assim queiram os responsáveis da região. O futuro pode mudar. O futuro será diferente caso o Presente seja também alterado.

Ver mais sobre este tema em:

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Guarda&Concelho=Sabugal&Option=Interior&content_id=1073412