O QUE FAZER COM TANTA ÁGUA?
Albufeira da barragem
Desde os anos sessenta, setenta e seguintes
a aldeia de Malcata está bem diferente nalguns aspectos e igual noutros. Quando
vamos hoje a Malcata, basta deixarmos a EN233 e entrar na M542 e as mudanças
ocorridas na paisagem do nosso território estão à vista de todos. Ao nosso lado
direito surpreende o Parque Eólico que se estende ao longo das Ferrerias e até
quase à Machoca. A água da albufeira da barragem quase nos faz desviar por um
daqueles caminhos em terra à nossa esquerda, pois o calor faz suar e a água hidrata
e mata a sede.
Longe vão os tempos em que conheci
essas terras cheias de espigas douradas de centeio e trigo. Vinham ranchos de
homens e mulheres e de foice na mão direita, dia após dia, entre cantigas e
merendas, lá ceifavam até à última espiga.
Poceirão, Ferrerias, Gorgulão, Chãos da Serra, Rasa, Ninho das Corças,
Curral dos Porcos e outros lugares cheios de “pão e trigo” (centeio e trigo).
Hoje todas estas terras deixaram de
produzir cereal e encheram-se de pinhos bravos e carvalhos, outros são
autênticos matagais totalmente improdutivos.
Em 1997 começaram as obras da
construção da Barragem do Sabugal e em 2000 a água começou a sua subida até
fazer cobrir os terrenos de muitas famílias da aldeia. Quem tinha terras na
Fontacal, Ribeiro Grande, Várzea, deixaram de poder cultiva-los. Boa terra para
produzir batata de excelente qualidade, lameiros com erva verde e fresca,
moinhos movidos com a água do rio Côa, pontões e poldras para atravessar as
margens de um lado para o outro, freixos, sabugueiros e amieiros, altos e
frondosos, ao longo das duas margens do rio, sem dó nem piedade, foram
literalmente engolidos pela subida das águas.
Foi assim que se
acabou aquela boa tradição de “ir para a ribeira tomar banho”, carregados de
mantas e boas merendas. Nem o pó que se apanhava no regresso a casa, subindo a
pé aquele caminho de pedra e muito pó, até chegar ao princípio da rua da Moita,
fazia desistir de viver esta aventura de Verão em Malcata. Há uns tempos desci
por este caminho, agora mais largo e menos poeirento e senti-me num pego
invisível e irreconhecível. Muita água, mas não é a mesma água do pego, nem
sequer os velhos amieiros deixaram e os barrancos também desapareceram.
Malcata mudou e ainda hoje me pergunto se
valeu o sacrifício. Hoje a maioria das pessoas que vive na aldeia são de idade
avançada. Poucos são os que ainda vão para os campos trabalhar. A falta de
saúde e a idade já não os ajuda a sair para os campos.
Os filhos e netos foram para longe ganhar a vida. Por isso há muitos terrenos ao abandono e não produzem riqueza.
Como vamos mudar o estado destas coisas?
A construção da barragem foi um alívio ou a oportunidade que Malcata precisa para se desenvolver?
São perguntas que faço a mim mesmo e a cada um dos malcatenhos. Como vêem, vou a Malcata e dou comigo a pensar nestas coisas.
A vós também vos acontece o mesmo?
Os filhos e netos foram para longe ganhar a vida. Por isso há muitos terrenos ao abandono e não produzem riqueza.
Como vamos mudar o estado destas coisas?
A construção da barragem foi um alívio ou a oportunidade que Malcata precisa para se desenvolver?
São perguntas que faço a mim mesmo e a cada um dos malcatenhos. Como vêem, vou a Malcata e dou comigo a pensar nestas coisas.
A vós também vos acontece o mesmo?
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