sábado, dezembro 20, 2025

O NATAL NÃO É COMO O HOMEM QUER

 



“O dia 25 de Dezembro não celebra o aniversário histórico do nascimento de Jesus de Nazaré. Foi a Igreja de Roma que fixou esta data como réplica pastoral à festa solar pagã do Natalis Invicti, festa de Inverno no Hemisfério Norte.

 Foi uma bela astúcia. Procurava destronar a heliolatria, o culto ao sol, pela celebração do nascimento de Jesus Cristo, o verdadeiro Sol Invencível, a luz da justiça e da graça.
 Se o Natal é decisão romana, a Epifania, a 6 de Janeiro, é de origem oriental: celebram ambas a mesma realidade, a manifestação do Deus humanado”.

Frei Bento Domingues O.P.

 Nos nossos dias, a sociedade em geral vive o Natal centrado na figura bonacheirona do Pai-Natal. Tudo se vende e o comércio cria emprego, gera lucros para as empresas e receita de impostos para o Estado. O que todos os empresários querem é atrair multidões de pessoas e através de marketing comercial levar a um aumento do consumo.
 Desde crianças que todos nós somos levados a gostar do Natal, seja pelas prendas, pelos almoços da empresa, da distribuição de subsídios, da entrega de cabazes alimentares, festas de Natal com desfiles, comboios, animações, iluminações, mercados e feiras, divertimentos gratuitos…das boas refeições em casa com a presença da família, das batatas e do bacalhau, rabanadas, filhós, sonhos e aletrias, creme e muitos bolos, mais o bolo-rei, o bolo rainha, o bolo escangalhado…
 A vida dá tantas voltas que os anos vão correndo e o Natal deixa de ser tão especial como era quando tinha menos de 10 anos. O Natal não desapareceu e quero conservar um pouco do espírito do Natal da minha infância.
 A 25 de Dezembro foi quando a minha mãe faleceu, estava internada no Hospital da Guarda e partiu por volta das 20h, a confiar nas palavras que ouvi no telefone da extensão 1481 do Hospital de São João, no Porto. Aguentei a perda, escondi a dor e as lágrimas até à meia-noite. Era dia de Natal e as enfermarias estavam cheias de homens a precisar de cuidados de saúde e palavras de conforto. Não aguentei mais e depois da primeira ronda pelas enfermarias, simplesmente desabafei com a equipa de enfermagem e
num gesto de solidariedade e carinho, convenceram-me a ir para onde tinha que ir e estar. Mais, asseguraram que fosse em paz e com coragem para viver o acontecimento, eles, os enfermeiros(as), tratavam dos doentes e do que fosse preciso. Nunca vou conseguir pagar-lhes este gesto. Foram uma espécie de anjos que vieram ao meu auxílio e me ofereceram o que outros poderosos se recusaram a dar. Nesse Natal de 25 de Dezembro não dormi e não dormiu ninguém em nossa casa, partimos de noite e antes do amanhecer, chegámos junto do lugar onde a minha mãe se encontrava. Um frio de me fazer tremer, mas também a certeza da tranquilidade e paz em que a minha mãe estava.
 O Natal é igual todos os anos, mas também cheio de contradições e é uma festa desgastante, mesmo que para muitos seja uma quadra de forte angústia.
 É assim que eu sinto o Natal de 2025, um Natal mais familiar, com a família.

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