QUEM VAI EMBARCAR RUMO AO FUTURO?
A nossa aldeia é em quase tudo, igual a outras aldeias vizinhas.
Cada ano que passa, vive menos gente, aumenta o
número de pessoas a precisar de descansar, por ser de idade avançada e só
souberam trabalhar durante a vida.
Os casamentos diminuíram e também baixou o número de nascimentos. O crescimento não avança como noutras eras da história, não há condições para criar muitos filhos e hoje em dia, vivem o presente com preocupação.
Nesta terra, a vida é levada com muita calma, sem grandes preocupações e as notícias só aquelas que as televisões e redes sociais divulgam a toda a hora. Mas às vezes, lá aparece uma notícia local, que diz respeito à nossa terra, à nossa freguesia e ao mundo calmo e tranquilo, dos que nasceram aos pés da serra.
Quando isso acontece é porque
alguma coisa e pouco habitual, aconteceu ou está para acontecer. Até
compreendo o entusiasmo e os sentimentos de alegria das pessoas e aumentam as
esperanças e os desejos em participar e estar presente, ajudar a difundir essa boa notícia. Até a própria autarquia (junta)tem necessidade de anunciar a notícia, em forma de apelo à participação, à união das pessoas e assim, garantir que a Freguesia consegue mostrar ao mundo a vida bela que se tem na aldeia esquecida.
Pergunto a todos se a vida normal na aldeia, é a que estão a querer mostrar numa manhã de Dezembro?
Sempre que um paisano anda pelas ruas poucos se aproximam e apenas
observam os seus passos. Ouve-se um bom dia ou boa tarde e pouco mais do que
essas palavras. Portas e janelas mantêm-se encerradas e fazem com que o paisano se sinta estranho, um estrangeiro que não compreende esta gente da serra e do interior profundo.
É bom e compreendo até certos limites o interesse manifestado pela Junta de Freguesia, em preparar bem o evento do próximo dia 28 de Dezembro. Recusar esta oportunidade que a Câmara Municipal oferece, era bem pior que correr contra o tempo e fazer tudo o que estiver ao alcance para Malcata fazer boa figura. Há certamente um
compromisso com o Município e agora é necessário chamar as pessoas a colaborar com a Junta e um canal de televisão, para fazer acontecer um momento
especial e marcante para todos. Empenho vai haver e de coração aberto, haverá gente disponível para o que for preciso, nem que seja para aplaudir ou pegar na pá do pão e esperar que o calor do forno coza bem. Fico feliz se as pessoas
colaborarem e desfrutarem do momento que ajudaram a criar.
Bem diferente, é aceitar que a união, a
colaboração, a ajuda e participação se pode mostrar como um valor identitário da
nossa aldeia, pois mesmo mostrando as tradições, que mais não são as memórias
da vivência dos nossos antepassados, cujo êxito e longevidade se devem às suas vivências de verdadeira união, amor ao genuíno e à força comum. Promover os valores, tão fundamentais da vida comunitária, como a união, a alegria, as cantigas, as tradições, só quando há a presença da televisão, é querer fazer esquecer que há mais vida e mais dias do ano que também é preciso mostrar por palavras e obras como são os beirões.
O dia 28 vai ser um dia especial,
marcante para a freguesia, para os que nela vivem todos os dias do ano e para as crianças. Também
é satisfação para os malcatenhos que longe seguem o pulsar da vida da nossa
terra. Valha a existência da internet e de diversas ferramentas de comunicação,
é graças a elas, que todos sabem que vai acontecer a magia natalícia na aldeia. Quem conhece o dia a dia na freguesia, sabe bem que é diferente e quase não acontece nada, porque se acontece alguma coisa boa ou má, dali não sai e ninguém se dispõe a divulgar. Não interessa ser divulgada ao mundo. Eu o que não compreendo é a mudança das pessoas em relação aos mensageiros dos nossos dias. Quem foi assinante e leitor do semanário "AMIGO DA VERDADE", que trazia um suplemento dedicado ao concelho do Sabugal, lembrar-se-á do desejo de receber esse jornal em casa e não descansava para ler as novidades das aldeias e da nossa Malcata. Tudo era importante publicar para se dar a conhecer ao mundo. Aquele suplemento dedicado às aldeias do Sabugal, comparo-o aos actuais blogues ou publicações nas redes sociais, com maior lentidão mas sabiam bem à alma e matavam muitas
saudades dos que viviam longe a trabalhar ou a cumprir o serviço militar.
Há que aprender a caminhar com os pés no
chão e ao mesmo tempo subir ao cimo da torre do relógio ou ir ao alto da
Machoca e observar o que a vista alcança, entender as mudanças no mundo.
Vai ser uma manhã excelente e
aplaudo a decisão demonstrada pela Junta . Ficamos a saber que sempre que há uma oportunidade e interesse, o mundo sabe o que se passa na aldeia. Saibamos todos retirar bons conselhos e lições para o futuro da freguesia.
Construir uma comunidade unida, forte, aberta à inovação, com visão e ambição de alcançar êxitos que a todos beneficie, é o que nos pode impulsionar a nossa canoa e se não queremos ir à toa, temos de decidir para onde vamos. São os malcatenhos que, como comunidade, não querem continuar no cais porque são eles que têm de tomar a decisão para onde querem ir.
