31.1.10

MALCATA: QUE FUTURO?


   O malcatense  tem tanto amor à sua terra que é bem capaz de defender as suas leiras até à morte. Estes últimos anos, principalmente nos meses de Verão, a Repartição de Finanças do Sabugal  fica atulhada com as  pessoas à procura do que lhes pertence.
   A predominância de uma agricultura de minifúndio e as dificuldades de comunicação com os grandes centros do país, forjaram o carácter individualista dos habitantes da aldeia. Ainda hoje, tentam por todos os meios, bastar-se a si próprios e cultivam tudo aquilo que precisam para o seu sustento. O desconhecimento de melhores condições de vida, de cultivar a terra, faz com que se considerem ricos com o pouco que têm. Todos têm casa própria e a regra hoje é cada um ter um tractor e as respectivas alfaias e ferramentas. Já não há juntas de vacas, nem sequer uma vaca leiteira. O tractor substituiu a força animal e na aldeia vêem-se mais tractores do que os necessários para o trabalho. Apesar do regresso de alguns emigrantes, a acelerada diminuição do número de habitantes continua e as terras continuam a ficar abandonadas, podendo observar-se as vinhas e algumas hortas sem ninguém que as trate.
   Na altura das sementeiras e das colheitas, apesar de reformados, têm que trabalhar porque o que a reforma lhes oferece não dá para sobreviver sem umas batatas, umas couves, uns pimentos e uns tomates.
   Os rostos dos malcatenses, mulher ou homem, à medida que avançam os anos, tornam-se enrugados e queimados pelo sol e os dedos das mãos ficam tensos e tortos por tanto trabalharem no campo. Horários é coisa que nunca tiveram, trabalham quando o tempo deixa e até que as forças físicas e a saúde deixar. A partir daí, não demora muito a que as suas vidas se extingam rapidamente.  Férias nunca tiveram, nem sabem lá muito bem o que isso é. Muitos conhecem a cidade do Sabugal, a Senhora da Póvoa ou o Santuário de Fátima. Sabem que o mar existe em Portugal, mas nunca molharam os pés nas praias da nossa costa. As maiores deslocações que fazem são feitas em  ambulância para as consultas médicas, exames ou tratamentos para os quais o Centro de Saúde do Sabugal não tem resposta. E algumas pessoas nunca foram ao cinema ou ao teatro. Os jornais e revistas de informação quase que não existem, havendo quem leia o “Amigo da Verdade”, por assinatura, ou o “Cavaleiro da Imaculada” oferecido aos domingos à saída da missa. Acabam por ver as novelas transmitidas pela televisão e os telejornais que elas difundem. As novas tecnologias não lhes dizem nada, apesar da Junta de Freguesia disponibilizar tempos para, gratuitamente, se afeiçoarem aos computadores e à internet, tendo mesmo instalada uma rede Wirless por toda a aldeia. É que a gente mais velha que frequentou a escola, no seu tempo, estudaram até à 4ªClasse que era o fim da escolaridade obrigatória. Quem nos anos 60, 70 ou parte dos anos 80 queria estudar mais teve que sair para as grandes cidades e por aí ficaram. Os outros que não quiseram estudar mas que sentiam que valiam, emigraram para terras  francesas e agora são os filhos e os netos dos filhos que por lá ficam. Todos eles produzem riqueza que não vai para Malcata, terra que visitam nas férias, mas para onde não querem ir viver.
   Quem fica ocupa-se naquilo que sabe fazer: trabalhar a terra ou nas obras de construção civil. Para lá disto há na aldeia quatro cafés, um mini-mercado, uma queijaria tradicional, uma serrelharia e uma empresa de isolamentos e afins para a construção civil.


   
















 O nível cultural e escolar baixo não ajuda quando é preciso inovar para tornar a agricultura rentável. Com um espírito empreendedor tão baixo, um espírito que não vai muito para além do que se aprendeu pela experiência da escola da vida, o futuro da aldeia revela-se bastante mortífero e arrasador.

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