PESSOAS TORTAS COM DIREITOS A MAIS


Hoje ando revoltado com meio mundo. Às vezes tenho pena de não ser dono de um canal de televisão ou de uma estação de rádio. O que anda a acontecer está a dar-me uma volta no meu interior que só me dá vontade de vociferar e pegar numa corneta e causar aos nossos governantes uma daquelas enxaquecas que nem o escuro e o silêncio faz aliviar.

Acontecem coisas no meu país que não deviam acontecer. Enquanto há pessoas que usufruem de subsídios estatais como seja o Rendimento de Inserção Social ( Rendimento Mínimo Garantido ), têm casas taxadas com rendas de quatro euros mensais ( mas que nunca pagaram ), com dívidas de água no valor de 145 mil euros, provávelmente passar-se-á o mesmo com a luz e com telemóveis, não digo telefone, porque isso já não usam e eles gostam de liberdade de movimentos. Têm as suas casas mobiladas, possuem máquinas de lavar roupa, televisores de plasma, leitores de dvd, playstation para os filhos brincarem, provávelmente deslocam-se de mercedes ou passat's e não deixam de beber a sua imperialzita e de fumar o seu malboro. Para viverem em segurança e talvez para que a Segurança Social os não incomodem, dormem de arma ao lado para o que der e vier.
No mesmo país e não muito longe do sítio onde esta gente vive e que não quer continuar a viver, é encontrado um homem de meia idade, sem nome, sem vida, sem parte da perna direita, dentro de um apartamento da Póvoa de Santo Adrião, o mesmo concelho de Loures. Foi o cheiro a cadáver que alertou os vizinhos e ao lado do corpo humano permanecia o seu fiel amigo que depois foi entregue à Câmara de Loures para ser abatido. Será que o animal foi o culpado da morte do seu dono? Ou apenas sentiu que não devia abandonar aquele que sempre lhe passou a mão pelo pêlo e com ele, porque não havia mais ninguém, partilhou as suas angústias, os seus medos, as suas alegrias e os seus sonhos? O cão foi o único que sabia e soube estar onde devia estar e só não acompanhou o seu dono porque o encontraram a tempo. Mas o animal merecia outro destino e não aquele que, geralmente, nestes casos, os humanos crús e secos pensam.
Mas a via sacra não acaba aqui. Em pleno centro da cidade do Porto, a D.Guidinha, já com 95 anos, reformada, com uma pensão de 400 euros, foi encontrada, já cadáver, no meio das suas coisas. A sua cabeça já estava cansada e às vezes chateava os vizinhos. O sr.Américo, o merceeiro da D.Guidinha, dizia que não foi por falta de dinheiro, pois, sempre lhe vendeu o leite, o pão de forma, os iogurtes e umas bolachinhas. Diz ele que a D.Guidinha necessitava era da Segurança Social, para onde ele e os vizinhos, tantas vezes telefonaram e escreveram, mas apoios concretos nunca os viram, apenas promessas de o problema ser solucionado assim que possível.
Agora a Segurança Social fica mais rica. Pode continuar a distribuir os subsídios aos senhores necessitados do bairro de Loures ou do Porto ou do Japão. Para o senhor da Póvoa de Santo Adrião e para a D.Margarida Correia da Silva(D.Guidinha, para os vizinhos) já não faz falta nenhuma, muito menos para o cão que sofreu com a morte do dono.
Compreendem, agora, a minha revolta?
Com certeza que no concelho do Sabugal também vivem pessoas na mesma situação da D.Guidinha e do homem de meia idade. Estarão também fora da lista de pessoas referenciadas pela assistência social? Quem conhecer situações destas, por favor, denunciem-nas a toda a gente e a todas as televisões. Porque não basta esperar pela solução "normal" dos técnicos e técnicas que têm como missão transformar vidas tristes, sós e oprimidas em pessoas, em seres humanos que ainda têm o direito à Vida.

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