Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 9 de abril de 2025

MALCATA: PARA MEMÓRIA DE TODOS

   

Rui Chamusco e Zé Lucas em modo
de concerto à sua maneira.



   Para uma pessoa compreender o presente ela precisa também de conhecer o passado. Por isso, recordar ou observar o que foram durante muitos anos alguns lugares de Malcata, os costumes, as tradições, todas elas e não apenas aquelas que se gostaram ou se defendem agora:

Malcata-dados
- Corela- ACDM- Ribeira- Malhas do pão - Maçarocas de milho – Janeiras…
Festas e procissões-Acompanhamentos – Tabernas – Comércios...
Alcabuz – Raiola – Pião – Boneco de neve…Candeia…Vacas – Cabras…
  
Malcata-dados


   Mesmo que não pareça, sou da Beira, eu nasci na aldeia de Malcata. Os meus pais nasceram também em Malcata, trabalharam na agricultura e sempre estiveram ligados à aldeia, à vida do campo, tempos bem diferentes dos que hoje vivemos. Nos anos da minha infância a aldeia estava cheia de crianças, as pessoas iam e vinham do trabalho, tratavam da vida e ainda tinham tempo para se divertirem. Recordo-me que a vida na aldeia corria com alegria, com o barulho dos carros de vacas, com as galinhas em plena calçada ou mesmo nas ruas de terra batida, que naquele tempo, havia muitas ruas que no Inverno enlameavam os sapatos e no Verão enchiam-nos de poeira.  Eu nasci em Malcata mas, depois, com 12 anos mandaram-me a estudar para bem longe, mais longe que a Guarda e Coimbra, mesmo ao lado do Porto, para Vila Nova de Gaia.
   A aldeia, passados estes anos, está mais triste, já não se ouvem os carros de vacas, nem nas ruas se veem galinhas, cabras ou burros. Estes ruídos davam ainda mais prazer escutá-los misturados com as correrias dos garotos. São as memórias que ainda guardo na minha memória de infância.



Banda da música em dia de festa

  Se não tenho retratos desses tempos é porque não era de família abastada. Infelizmente, as máquinas fotográficas só estavam ao alcance de algumas pessoas. Na nossa aldeia havia algumas, eram pessoas com mais dinheiro, gente trabalhadora, gente boa. E como é que eu sei que tinham máquina fotográfica? Porque encontro muitas fotografias de há muitos anos, são registos dessas pessoas, das suas famílias, das suas vidas e dos lugares por onde viviam e vivem. São verdadeiros tesouros documentais e que muitos contribuem para matar saudades, para hoje as pessoas conhecerem a aldeia onde nasceram, ou os seus pais, avós…eu aqui neste espaço só desejo que quem o lê, compreenda a história da aldeia e das pessoas a ela ligadas e que estejam onde estiverem, têm coração malcatenho.



    



Porquê construir muros 
quando uma corda bastava?





Malcata presente e com ofertas
            
          PS: Quem tiver em sua posse imagens antigas, podem enviar para aqui e terei todo o gosto
                 em divulgar. Enviem via e-mail: josnumar@gmail.com ; por Messenger ou Face Book 
                 em mensagem privada e claro, com as vossas indicações a ditar o tratamento das imagens,
                  por exemplo, indicar os rostos a desfocar ou cortar na foto. Obrigado.

                                                             José Nunes Martins

domingo, 6 de abril de 2025

MALCATA: AS MINHAS PRIMAS QUE GOSTAM DE BORBOLETAS SEM NOME

 


   Há borboletas muito bonitas, há amarelas, brancas, castanhas, amarelas e castanhas, são tantas as cores que ao olhar para elas e para a sua leveza e beleza, fico em silêncio e atento aos seus movimentos. Dizem que as borboletas vivem pouco, um dia nascem e no fim desse dia, voam para o céu delas. É preciso ser corajoso e querer viver um dia.
   Sabem, tenho umas primas que apreciam muito a vida e gostam de apreciar o reino das borboletas. Gostam muito de viver e encontraram no reino das borboletas o sentimento maravilhoso de amar outras crianças, outras mães e pais. Tal como as borboletas que são corajosas e ultrapassam os problemas que aparecem na vida, as minhas primas amigas de borboletas construíram uma obra e foi a forma encontrada para partilhar o amor de viver alegre e feliz enquanto respiram neste grande jardim que é o mundo.  E a obra está muito bem desenhada, escrita, tem tantas janelas e portas que as borboletas entram e saem quando lhes apetece, é só desejar.
   Ah! Ainda não vos revelei que obra se trata, onde e como a podem conhecer?! Que falta de educação a minha! Se quiserem conhecer ou apenas espreitar pela frincha da porta, vejam por este buraquinho:
https://www.atlanticbookshop.pt/7-aos-10-anos/a-procura-da-borboleta-que-nao-tinha-nome


Malcata-terra das borboletas sem nome !


José Nunes Martins

 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

MALCATA: CARVALHÃO SEM CARVALHOS E SEM VIZINHOS

 

Carvalhos deram o nome ao Carvalhão

   Na nossa aldeia a maioria das pessoas dedicava-se à agricultura e era dos chãos que tiravam o sustento para a família. Como acontecia em todas as aldeias, havia famílias que eram donos de muitas terras e encontravam-se espalhadas por toda a área da freguesia. Possuíam uma ou duas juntas de vacas, um carro de transporte, uma casa de habitação grande e com um bom curral, com lugar e espaço para nele caber tudo e mais não sei quê, desde o carro de vacas, a lenha e o tronco para a cortar, a estrumeira, a cortelha dos porcos, a capoeira das galinhas, flores e até uma cerejeira ou figueira, quando não era uma videira encostada à frente da casa.
   Nesses tempos em que ainda não havia máquinas e todo o trabalho se fazia manualmente ou recorrendo à força dos animais que puxavam a charrua, o arado, a grade e se fosse preciso, até se utilizavam para fazer a nora do poço rodar e encher os copos de água que depois eram esvaziados para a caldeira e depois ia rego abaixo até onde fosse necessária.
    As famílias procuravam formas de combater a falta de máquinas. E a mais comum de todas era aumentar o número de filhos e colocá-los a trabalhar na agricultura. Os mais novos eram mandados a guardar os animais, podiam ser cabras, vacas e o burro, que sem grande esforço físico qualquer criança conseguia levar até aos lameiros e trazê-los de regresso a casa ao fim de umas horas.
                                                



   - “Ó João, está na hora de ir guardar a vaca e as cabras!” – dizia-me a Ti Benvinda, minha mãe, lá do cimo da varanda de casa.
   Olhei para ela e vi que estava a depenar uns feijões que tinha posto ao sol a secar, como estava calor tinha-os espalhado pelo chão da varanda e ali ia ficar sentada na cadeira a depenar feijões. Eu deixei as brincadeiras e lá fui à loja soltar o gado para o levar até ao Ozival, para o lameiro.
   Até que gostava de guardar a vaca e as cabras! A vaca nestas alturas levava uma vida de sonho, saíam para comer e depois de barriga cheia, regressava à loja. Havia alguns dias assim, leves, frescos, comer e beber e deitar a ruminar feno. Talvez a vaca soubesse que enquanto estivesse prenha, não seria junguida para nada, nem sequer para agradear o chão!
   Aquilo sim, era uma vida de trabalho e muito suor, mas as pessoas viviam contentes com a sua vida.
   Aqueles tempos fazem-me pensar na sorte que às vezes precisamos de ter na vida. Por exemplo, morar junto a um bom grupo de vizinhos, normalmente famílias de respeito e bom coração. Essa foi a sorte da minha família: viver ao lado da Ti Cilda e Ti Joaquim António, da Ti Ana e do Ti Domingos, da Ti Ana e do Ti João, do Ti Zé Triste e da mulher da qual não me lembro do nome, da Ti Rosa e do Ti Quim Nita, da Ti Ana e do Ti Horácio, da Ti Dorinda e do Ti João, da Ti Graça e do Ti Manel,  da Ti Lucinda, vivia sozinha, da Ti Delaide e Ti Quim…da Ti Irundina…do meuTi Zé Gravanço…a juntar a estes nomes um rol bem grande de rapazes e raparigas, davam vida ao Carvalhão. Há ainda dois casais vizinhos que não mencionei, nesse tempo que me estou a querer lembrar, estavam as duas habitações vazias durante todo o ano, pois só vinham à aldeia quando tinham “vacanças” e então sim, vinham aumentar o número de vizinhos. E estou a referir-me aos meus tios: Ti Dulce e Ti Zé Pires e ao Ti Felisberto e Ti Cilda Coxa e Carlos e Natália. Todas as famílias se davam bem umas com as outras, ajudavam-se cada vez que fosse preciso.

 
Barreira no Carvalhão

   



   Eram os anos 60, 70 e 80, tempos memoráveis e que hoje é património imaterial das nossas vidas, da aldeia e do lugar do Carvalhão. Os vizinhos do Carvalhão eram mais do que estes, ainda agora me lembrei doutro casal, o homem chamavam-lhe Ti Navalhinhas, perdoem, mas de momento esqueci-me do nome da sua mulher, da Lena, do Ti Firmino e da sua vizinhança, os pais da Marizé casada com o Amadeu. Se agora me lembrasse dos seus nomes…ai a minha memória, às vezes não ajuda. Não levem a mal, são muitos anos a viver longe da aldeia e das pessoas daí.
   Fico à espera da vossa ajuda para identificar esta gente amiga.
   Já agora, expressem a vossa opinião sobre o que leram.
  
  
  
  
Beco da Corela
(Carlos e Natália)



Vizinhos a conversa
(Isilda e Ascensão)

                      

   



quarta-feira, 2 de abril de 2025

ONTEM FOI O DIA DAS MENTIRAS SUAVES E SEM MALDADE

Malcata escondida

 

   Certamente que os leitores já se aperceberam que a informação sobre os candidatos âs próximas eleições autárquicas não eram verdadeiras, tudo não passou de uma brincadeira do dia das mentiras. Foi só uma pequena provocação (espero que me perdoem a brincadeira ).
  
   Brincadeiras à parte, seria interessante a comunidade da nossa freguesia
dialogasse sobre o tema das próximas eleições, não ter medo de apresentar em público as pessoas que se irão candidatar… e porque não fazer desse dia um dia da Verdade?!



terça-feira, 1 de abril de 2025

CHEGA QUER GANHAR EM MALCATA

 



  

 ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

   Deixo-vos com as notícias sobre as próximas eleições autárquicas no concelho do Sabugal e também da nossa freguesia.
    Chegou-me às mãos a informação que o CHEGA 
vai candidatar Carla Sofia Fernandes à Junta de Freguesia de Malcata. 
   O PSD escolheu Vítor Fernandes, candidato
 que já esteve três mandatos no cargo. 
   E o PS também já tem uma lista formada; 
o cabeça de lista ainda vai ser escolhido
numa reunião marcada para o próximo dia 4 de Abril.


                                                                                         
  


domingo, 30 de março de 2025

MALCATA: 1ª MÃO DA TAÇA "ALMA RAIANA" NO ARENA MALCATA

 

Malcata-Benquerença 2024

   Durante muitos anos na nossa aldeia os rapazes que gostavam de jogar à bola reuniam-se e iam para as tapadas jogar. Nas férias da escola, chegavam a reunir uma equipa para jogar com as aldeias vizinhas, ou então um daqueles jogos “solteiros contra casados”.
   Na nossa terra o desporto resumia-se ao jogo da bola. Como havia muita juventude, surgiu a Associação Cultural e Desportiva de Malcata que passou a realizar as actividades desportivas e culturais de forma mais organizada e programada ao longo de todo o ano.
   A Associação passou por maus momentos e chegou mesmo a ficar inactiva durante algum tempo, pois a juventude abalou para fora e não havia quem assumisse a direcção. Quando reabriu apareceu renovada, organizada e com novidades: atletismo federado. Foram tempos em que a aposta foi no atletismo para os mais pequenos e podemos agora dizer, foi uma aposta ganha e que enquanto se manteve a equipa técnica, honrou a modalidade, a associação e a freguesia. A bola não foi esquecida, apenas por falta de atletas, a associação voltou-se para o futsal e chegou a participar com uma equipa no torneio do município torneio "Inter-freguesias do Sabugal”, sempre com resultados modestos.
    O ano de 2017 ficou assinalado pela eleição de novos corpos sociais, um mapa de actividades diferente e verdade seja dita, tudo o que inclua comer e beber, é êxito pela certa. Já quanto ao desporto e à cultura, muitas dificuldades para formação de uma equipa de futsal, futebol de 11 só com a “contratação” de reforços externos e vestem o que cada um tem em casa ou do que ainda há dos antigos equipamentos da associação.
   Hoje, 30 de Março de 2025, pelas 16H30, está marcado um jogo de bola contra a Benquerença. Tal como aconteceu no ano passado, a Benquerença vem a Malcata para disputar um jogo de futebol de onze.
   O cartaz foi divulgado através da internet, esta semana também foi publicitado na página oficial da Freguesia de Malcata, na da Associação Cultural e Desportiva nem uma letra!!!! Muito diferente da promoção do ano passado, em que a ACDM e a JFM se apresentaram como patrocinadores do encontro realizado no campo da bola. Este ano numa versão mais “in” e com transmissão directa na internet, batizado com o nome “TAÇA da ALMA RAIANA” não tem patrocínios?
   Há tanta coisa a acontecer na aldeia e o vento nada me diz!
   Se puder e conseguir ver, vou ver numa janela aberta.
   Boa sorte Malcata.
                                                                                José Nunes Martins

LINK PARA VER EM DIRECTO AQUI:

3 d  ·

1.ª MÃO DA TAÇA ALMA RAIANA: MALCATA vs. ADCR BENQUERENÇA

📺 Transmissão em direto pela Aduane Sports

https://www.youtube.com/live/MsK7otdYVJA

🗓️ 30-03-2025 - 1.ª mão da Taça Alma Raiana

🕑 16h30

🏟️ Arena de Malcata

⚔️ Malcata 🆚 ADCR Benquerença

sábado, 29 de março de 2025

AMIGOS PARA SEMPRE

 


Ter amigos é bom,
vê-los partir faz sofrer.

   A vida é o que é e muitas pessoas já esqueceram que, há cinco anos atrás, o mundo andava de pernas para o ar por causa do COVID-19. Muitas pessoas adoeceram, muitas delas morreram, outras ainda hoje sentem sequelas e vivem com a saúde afectada. Eu não me esqueci, faz hoje 5 anos perdi este ser humano da foto! Um riso único e que marcou a minha forma de viver, de compreender a vida. Foi sempre expressivo e os seus gestos e atitudes eram o reflexo verdadeiro do seu sentir e do seu relacionamento com os outros. Partiu em circunstâncias terríveis para ele e para a família. Foi ele e muitos outros, penso que nunca tinha havido tantos funerais na nossa aldeia e com tantas regras proibitivas. Este acontecimento deixou-me muito triste, nunca me passou pela cabeça que os acontecimentos seriam da forma que foram. 
   Bem tento fazer do presente o melhor que posso. Continua a ser difícil e ainda não ultrapassei aqueles dias do fim de Março, dois meses antes do seu aniversário. Mas a vida é o que é. Ou melhor, o que foi. Os amigos também já partiram e por cá, há muitas saudades. 
                                          José Nunes Martins





                                        

quarta-feira, 26 de março de 2025

MALCATA EM IMAGENS

 

     DESAFIO DE HOJE:         


   Encontrei esta fotografia nos meus arquivos pessoais. 
   Penso que muitas pessoas na nossa aldeia reconhecerão o local de onde fotografei a picota (burra). Conseguem identificar em que sítio da aldeia se encontra o engenho usado pela Ti Rosa Amara, para regar as batatas, os pimentos, tomates à força dos braços e de balde?
   O desafio de hoje é identificar este sítio, cujo cenário muitos de nós reconhecemos e conhecemos assim como mostra a imagem de há uns anos atrás!
   
   Nota: Cliquem com o ponteiro em cima da imagem para ver melhor!
   
   

                                                             José Nunes Martins

domingo, 23 de março de 2025

ARES DE MUDANÇA EM MALCATA?

 


   Malcata está a ficar diferente, está transformada numa aldeia onde há casas recuperadas, umas do agrado de todos, mas outras só os seus donos parece gostar. Também alguns dos monumentos da freguesia mudaram de feições, alguns mudaram também de poiso, como é o caso do Cruzeiro de São Domingos e o Nicho da Senhora dos Caminhos. Este último caso foi mesmo destruído, esbarrondado pelas máquinas que andavam a trabalhar nas obras da barragem da Sra. da Graça (muitos era este nome escolhido), mas a mando de quem estava na Junta de Freguesia, penso eu que assim foi! Ainda pensei que esse nicho tão invulgar e tão respeitado pela população, fosse deslocado do lugar onde foi construído para não se perder aquele património e respeitar as crenças religiosas dos habitantes da aldeia. Assim pensava eu, por isso, quando visitei a aldeia pela primeira vez depois das obras de desmatação e limpeza da futura albufeira, apercebi-me que o nicho da Senhora dos Caminhos tinha desaparecido do local onde sempre o vi, que era a uns metros antes da ponte, no lado direito da berma da estrada para quem sai da aldeia e vai em direcção ao Sabugal ou Santo Estevão.

   Eu ainda pensei “se não está aqui, devem-no ter levado para outro lugar”.  Pensei ainda “foi mais para cima daqui”.

   Mas não, o nicho antigo desapareceu e foi mandado fazer outro nicho, novo mas completamente diferente, construído com pedra de xisto e granito, sendo a obra principal e central do novo jardim que ali nasceu. Este novo nicho foi uma oferta dos mordomos da Senhora dos Caminhos, que em 2004, se a memória não me falha, decidiram avançar com a obra e cuja inauguração veio a tempo da festa.

   Como tratam de ti, minha Malcata!

   O que havia na aldeia era simples, mas único e não conhecíamos coisa igual aquela. E não pensem que não gosto do novo nicho, é apenas a constatação de um facto que transformou para sempre a aldeia, neste caso, um mau exemplo daquilo que deve ser a preservação, manutenção e respeito por aqueles que nos precederam, pessoas dedicadas, trabalhadoras e crentes em fazer o melhor para todos.

                                                               José Nunes Martins

sexta-feira, 21 de março de 2025

MALCATA: SEXTA-FEIRA DE SAUDADE

  
Rua do Carvalhão em 1994

   Só quem mora longe do lugar
que sempre gostou, é que sente saudades. Quem está fora continua a levar a sua vida da forma que melhor é capaz. E andamos meses e semanas a pensar naquele dia em que, faça chuva ou sol, rumamos em direcção ao nosso pequeno mundo secreto e ao qual pertencemos. Foi nesse pequeno cantinho do mundo, longe do mar e perto da floresta, que a nossa vida começou. É nessa pequena aldeia serrana, protegida dia e noite dos ventos que sopram do lado da Espanha, que por amor,
pela água fresca, pela liberdade que se vivia, muito afastados das preocupações que muitas famílias tinham que ultrapassar, sempre com todos os cuidados e cumprindo todas as leis do regime, que as frágeis árvores que nós eramos, se agarraram à terra e cujas raízes nos mantêm
para sempre ligados e agradecidos.

Os meus dois amigos fieis


    Vivemos com essa ideia de chegar aquele dia em que nós regressaremos. E o que parece fácil e rápido de resolver, demora anos a concretizar esse desejo. E de todas as dores que uma pessoa pode sentir, as da alma são aquelas que custa mais a passar. Não sei se convosco acontece o mesmo, comigo é duro e difícil. E talvez seja por sentir o que sinto que guardo em casa tudo o que se identificar com a aldeia onde nasci e que cada vez estou a visitar menos.

  




Rua da Moita

  Eu sei que é uma aldeia igual ou pelo menos, com muitas parecenças a outras aldeias do nosso país, do nosso concelho.

   A vida é feita de mudanças. E o nosso mundo responde e abre as suas janelas para sermos criativos, trabalhadores e ainda arranjar tempo para contemplação. Esse cantinho da aldeia, na rua com carvalhos gigantes e figueiras de figos lambões, numa casa sem electricidade, sem água nem torneiras, com uma loja cheia de vivo e dois porcos no cortelho por baixo das escaleras, nasci eu, João, na Rua do Carvalhão e um mês depois registado com nome de José. Um dia conto esta história de fio a pavio. Sei que há estórias bem piores!!!

  

 

    Saúdo todos aqueles que, tal como eu, optaram por conhecer mais mundo, caminham por estradas e céus bem distantes e que às vezes apanham uma ensaboadela por terem vergonha de se apresentar e revelar as suas origens. O trabalho, a resistência e algumas réstias de brutalidade beirã, que vem e faz parte das características dos beirões, inconscientemente, funcionam muitas vezes como os códigos de barras ou dos dados biométricos e não vale a pena esconder. Somos malcatenhos. 

                                                                  José Nunes Martins