EU NÃO SOU ESCRAVO DO MEU PENSAMENTO


   Quem acha que vale a pena denunciar as situações que nos desagradam?   Ou é melhor olhar, escutar e seguir calado, ignorar e deixar as coisas como estão?
   Ninguém de nós gostará de andar incomodado com muitas daquelas situações com que não estamos de acordo. Conheço pessoas que perante uma situação com que não concordam ficam caladas porque têm medo das críticas, têm receio de serem rejeitados e chutadas para canto ou terror de engrossar as “listas negras” e não querem viver constantemente com medo dos males e sob as ameaças aos seus bens materiais, a algum familiar ou à sua própria vida.
   Cada um de nós, penso eu, tem o dever e a responsabilidade de falar das coisas ou situações que incomodam. Ficar calado e deixar de expressar a minha opinião sobre uma situação em que não concordo, é o mesmo que me dizerem para que “deixa-te dessas coisas”, ou “os outros não se incomodam, andas tu a incomodar-te com isso"; “faz como eu, não ligo a nada”.
Infelizmente, com tristeza minha, sinto que vivo numa comunidade onde vivem pessoas com medo de expressar verdadeiramente o que pensa, querendo fazer crer que não liga e não quer saber e escolhe o silêncio. Santa ignorância, essas pessoas não têm é a coragem de denunciar porque temem pelas consequências e é mais fácil engolir um sapo vivo do que correr o risco de ser posto ainda mais de lado.
   No meu caso pessoal, perante as várias situações já vividas aqui na aldeia,  passei estes dias a pertencer a duas “listas negras” e até que me seja desmentido a sua existência e demonstrar-me que não passou de uma atitude irreflectida e agora merecedora de arrependimento, sinto-me marcado pelos  homens que reagem e mostram incapacidade de lidar com pessoas que não concordam com algumas das suas acções.
    Assim, decidi reflectir com muita seriedade e tranquilidade o que vou fazer a seguir.
   Considerando-me eu um cidadão responsável e sem interesses políticos, com fortes ligações sentimentais e emocionais a esta terra, preocupo-me com tudo o que tenha a ver com o bem-estar das pessoas, do meio ambiente que rodeia este lugar e o futuro que os nossos descendentes podem viver. E para mim denunciar as coisas que acho incorretas, para além de ser uma obrigação moral e um dever cívico, é tão legítimo como quem acha que é dono disto tudo. E denunciar ajuda a desfazer comportamentos irreflectidos e a respeitar mais a “coisa” pública, o património edificado e imaterial que apesar da sua simplicidade, merece ser defendido e preservado nas melhores condições, honrando a herança que nos deixaram os nossos antecessores.
   Hoje as tecnologias de comunicação estão a contribuir para aproximar os continentes, os países, as freguesias, as instituições, as famílias e os amigos. Mesmo distantes dos cidadãos, até os Governos e os diversos poderes existentes mudaram as práticas de funcionamento e de difusão das suas mensagens.
   Infelizmente, quando tenho a (in)feliz ideia de denunciar (diferente de caluniar), sou logo ameaçado, injuriado e irresponsável e ficando marcado como prevaricador e não autor da denúncia. Ou seja, não é a minha liberdade que acaba onde começa a dos outros, mas sim a dos outros que começa quando a nossa acaba, quando acaba… agir não tem o mesmo significado de pactuar. Nunca fui pessoa de viver e alimentar a família recorrendo ao leite tirado da vaca comunitária.
   Cada um de nós é único e comporta-se de forma diferente uns dos outros. Eu assumo que preciso de mudar o meu comportamento. E essa mudança é da minha responsabilidade. Estão as outras pessoas também na disposição de me assegurar publicamente que também vão mudar e cumprir e responsabilizarem-se pelos seus actos?

A autêntica derrota
é quando eu me dou por vencido
          M.Cornejo

                                                                                                                                               José Nunes Martins




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