AS OPORTUNIDADES SÃO PARA TODOS
Era uma vez, um homem que era sacristão na igreja de São Paulo, em Londres.
Um dia, por motivos burocráticos, foi-lhe pedido que assinasse um documento e, para
espanto de todos, o sacristão não sabia ler nem escrever. Um sacristão da igreja de São Paulo analfabeto era coisa inadmissível - e ele foi despedido.
Abatido, sem saber o que fazer à vida, andou o pobre homem ali pelas imediações quando lhe apeteceu, desesperadamente, um cigarro. Olhou em volta, mas não viu por ali nenhum lugar onde pudesse comprá-lo. Andou mais um pouco e nada. "Se calhar era boa ideia abrir aqui uma pequena tabacaria", pensou. E, com algum dinheiro que tinha guardado e outro que pediu emprestado, foi o que fez. A tabacaria foi um sucesso. De tal maneira que, logo a seguir, abriu outra. E depois mais outra. E mais outra, e mais outra e , algum tempo depois, tinha-se transformado no dono de uma rede de lojas espalhadas pelo país.
Um dia o director do banco chamou-o. Queria conhecer pessoalmente aquele cliente tão importante e, ao mesmo tempo, propor-lhe que diversificasse o investimento, que não tivesse dinheiro parado,etc. A coisa ia no bom caminho quando, ao ver o seu cliente assinar de cruz os documentos, o director fez um enorme ar de espanto e nem queria acreditar que estava diante de um analfabeto. "O senhor não sabe ler nem escrever? Espantoso! O senhor é hoje o que é, com toda esta fortuna, sem saber ler nem escrever! Já pensou no que seria, se tivesse estudado?" "Já", respondeu o homem, "seria sacristão da igreja de São Paulo".
Autor da história:Somerset Maugham, e lida no Jornal de Notícias de 29/04/2007 no artigo escrito pela escritora Alice Vieira. A esta história a escritora portuguesa dedica-a aos autores dos cartazes publicitários da campanha "NOVAS OPORTUNIDADES" e que não terminaram os estudos e escreve "A ideia de que o saber é muito bonito é, evidentemente, uma ideia louvável- mas não é achincalhando os outros que ela se defende. Gostava de saber como viveríamos se não houvesse quem recolhesse o lixo, ou engomasse a roupa, ou nos atendesse num restaurante, ou, ou, ou...(E já agora-o que não dariam muitos doutores, de curso acabado e sem emprego à vista, por um lugarzito de porteiro?)"
Isto dá que pensar!...
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