Rio Côa |
Ainda não passou
muito tempo em que muitos dos nossos avós e pais eram analfabetos. Mesmo depois
de haver escola em Malcata, havia muitas crianças que não frequentavam a escola
e viveram a sua vida até ao último dia, sem saber ler e escrever.
Isto justifica ainda hoje o estado cultural
e económico do nosso povo. A subordinação dos mais fracos pelos mais fortes,
poderosos e que sabiam ler e escrever, que ao longo do tempo construíram barreiras
invisíveis, mas permanentes.
Alguns destes erros foram corrigidos
outros não tiveram remédio e também permaneceram durante muitos anos.
A aldeia de Malcata tinha uma única estrada
para entrar e para sair. O rio Côa era mais uma barreira e não unia os de cá
com os de lá. As pontes não existiam, só os pontões e poldras. Nenhuma destas
ligações permitia a circulação de automóveis ou mesmo carros puxados por uma
junta de vacas. Quando os lavradores se afoitavam a atravessar o rio para a
outra margem, faziam-no nos sítios de menor caudal de água e
com maior segurança nas épocas de maior calor.
E o povo de Malcata aguentou o
isolamento, uma única estrada e uma única ponte que unia as duas margens da ribeira
que passava pelas terras do Bradará, em direcção ao Rio Côa. Foi assim que a
nossa aldeia saiu do beco em que estava, porque as saídas que havia para
Quadrazais e Meimão, eram caminhos de passagem para as terras de cultivo e só
iam até certo ponto, seguindo depois pelos carreiros que os animais de carga
serpenteavam até chegar às duas povoações vizinhas de Malcata.
A abertura da estrada florestal,
conhecida também pelo nome de Caminho Rural, que liga Malcata ao Meimão e a
Quadrazais, acabou com o beco sem saída. Duas novas saídas que resolveriam as
dificuldades (na opinião geral), o isolamento, a vinda de pessoas de outras
terras, mais negócios e mais entreajuda, não passou de uma miragem.
Os tempos estão a mudar e agora quem não
for de Malcata e desejar casar com uma moça malcatenha, está livre de pagar o
dote de outros tempos. Não há fronteiras, nem portas fechadas com trancas e
qualquer pessoa que, venha a Malcata, se vier por bem,
venha ela e mais cinco dos seus amigos.
Caminho Rural para Quadrazais |