A vida das pessoas
está dependente de muitas interligações e comunicações. Todos gostamos de ver o
chão que calcamos, seja de dia ou de noite, num quarto de hotel ou na sala lá
de casa.
O que aconteceu, no passado dia 28 de Abril, foi que a luz eléctrica falhou e
todo o país ficou em choque, sem electricidade, tudo foi falhando c
desmoronando com se fosse um castelo de cartas. Fui à rua saber as razões de
não podermos acabar de estufar a carne que eu já havia provado e que ainda precisava
de mais cozedura até ficar no ponto rebuçado.
Portugal estava sem energia eléctrica,
quem a tinha é porque estava ligado a um gerador ou carro eléctrico com 100% de
carga nas baterias. Os corredores de casa e o WC entrávamos devagarinho aos
apalpões até sentir que já nos orientávamos. Os vizinhos, coitados, um casal jovem,
que vinha com as sacas cheias de compras do supermercado, olharam para as
portas
dos dois elevadores e viram o sinal vermelho, ambos avariados e ali parados no
rés do chão. E agora? Perguntaram um ao outro. Sem elevadores, há que ganhar
vontade e força para chegar ao 5º Esquerdo Frente. Não tinham outra alternativa
e iniciaram a subida sem mais comentários.
Há muito que não vivia coisa igual,
mas se a máquina do tempo pudesse voltar aos anos de 1968, 1969. 1970, em
muitas aldeias deste nosso país, que hoje tanto se orgulha das energias verdes,
seja produzidas pela velocidade dos ventos e o calor dos raios solares, apagões
eléctricos, eram tantos que não têm conta e nem sequer ficaram registados. No
Inverno, o frio, a chuva, a neve e o vento forte ou um trovão mais forte, era
suficiente para apagar as lâmpadas e nada do que estivesse ligado às tomadas
funcionava. Como nesse tempo não havia telemóveis, não havia internet, o povo
da aldeia aguardava que a luz voltasse. Estes apagões não eram assim tão
assustadores como o do 28 de Abril. As lâmpadas não acendiam e durante o tempo
que demorasse a chegar a luz, as pessoas descansavam, sentavam-se ao lume e
faziam caraba uns aos outros, iam continuar o trabalho no chão e no pior dos
cenários, ao fim do dia quando chegassem a casa, quem sabe a luz já tinha
voltado. Os constrangimentos causados pela falha da luz aceitavam-se como
normais e até compreendiam que quando estavam os emigrantes na aldeia, o
consumo aumentava logo e sobrecarregava a linha que não aguentava, queimava os
fusíveis da cabine, a única que distribuía a luz para toda a aldeia.
Até nestas coisas, nas falhas de luz,
quem vive ou viveu numa aldeia do interior do nosso país, foi achando normal
isso acontecer.
Se a luz faltava, a vida na aldeia
continuava e tudo ficava igual, só não acendiam as lâmpadas. Muitos nem deram
conta que houve um grande apagão, trabalharam como noutro dia qualquer.