3.4.17

QUANDO SE NASCE FORA DO COLO AUTÁRQUICO


 

O Jornal Cinco Quinas, na sua edição do mês de Abril de 2017, acabado de chegar aos leitores na sua versão em papel, publica e destaca uma entrevista com José Escada da Costa, presidente da direcção da Associação Malcata Com Futuro (AMCF).
   Sendo o entrevistado a pessoa que dirige a AMCF, é importante poder destacar algumas das suas ideias e respostas .  Lembro que a AMCF foi constituída em Julho de 2015, é uma associação sem fins lucrativos, para a economia cívica. É uma associação independente em relação ao Estado, ao poder autárquico e os associados filiam-se voluntariamente. Esta foi uma das ideias deixadas pelo presidente da AMCF, ao afirmar que “nascemos fora do colo do poder autárquico”.
   “A gota de água foi a ampliação do parque eólico de 19 para 25 turbinas. Aí, o tal grupo de cidadãos disse basta e passou à acção, através do Movimento Malcata Pro Futuro. Esse movimento aproveitou a consulta pública obrigatória e desenvolveu um processo reivindicativo, mediático e dialeticamente bem suportado”,
respondendo ao jornal quando lhe perguntam a origem da AMCF.
   A conversa segue e nestes quase dois anos, José Escada falou das actividades realizadas e do futuro. Começou por dizer que “ao trabalharmos sobretudo no domínio do imaterial, iniciámos um projecto ambicioso, com reduzidas possibilidades de ser, de imediato, plenamente entendido pela grande maioria da população”.
   Neste curto tempo de vida a AMCF já realizou muitas actividades e a informação é disponibilizado no site da associação. Contudo, o presidente da AMCF quis salientar a realização da I Audição Pública em Malcata, dia da apresentação à população da instituição e que foi muito participado, pois nunca tal tinha acontecido com outras associações. Quanto a 2016, disse José Escada que “a actividade mais importante foi relacionada com a floresta. Malcata tem uma ampla mancha florestal. Tem baldios florestados; tem uma ZIF (Zona de Intervenção Florestal);tem uma equipa de sapadores florestais; tem um grande consumidor de energia, o Lar. O que lhe falta então? Falta colocar todos esses recursos a funcionar coordenadamente, com racionalidade económica. Falta demonstrar, objectivamente, que é possível criar economia e gerar riqueza para todos”.
   Pergunta o jornalista: Como se demonstra isso? Resposta pronta do José Escada: “A equipa de Sapadores é uma mais-valia e funciona com eficácia, considerando os parcos recursos que lhe estão afectos. Quanto ao resto impera o desconhecimento, a falta de informação, a ausência de mobilização. É fundamental informar e demonstrar. Nessa perspectiva a Entidade Gestora da ZIF foi motivada a realizar várias reuniões, que foram muito esclarecedoras. Ainda no âmbito da fileira florestal ensaiámos a aplicação na aldeia de Malcata o conceito de economia circular. Promovemos um pré-estudo de eficiência energética nas instalações do Lar que previa a substituição das caldeiras a gás por caldeiras de biomassa. Contudo, apesar das substantivas economias reveladas, apesar da possibilidade de recurso a fundos de apoio, o projecto ainda não avançou.
A actuação da fileira florestal culminou numa parceria com o Município do Sabugal na organização da ENERTECH Sabugal 2016. Organizámos o 1ºConcurso Internacional de Fotografia da Malcata, o Concerto de Música Clássica comemorativa do 1ºaniversário da AMCF, em parceria com a Bendada”.
   Ficamos então a conhecer algumas das actividades da AMCF em 2016. Não tem sido fácil mobilizar a população de Malcata para uma intervenção cívica mais dinâmica. Mais uma vez, o presidente da AMCF justifica esta atitude explicando que “O Sabugal confronta-se, hoje em dia, com uma realidade socioeconómica que não fixa, nem gera, massa crítica. A pouca ainda existente tende para a desmotivação, para a descrença em iniciativas que visem a capacitação, o associativismo, o empreendedorismo. O que não é material não existe. Não é fácil mobilizar para além da festa, da capeia e do convívio gastronómico.
   Em Malcata, depois de uma audição pública auspiciosa, passou a imperar a contra-informação, a contra-corrente, a areia na engrenagem. Os actores políticos sentiram a ameaça e reagiram da pior maneira possível. A AMCF não tem tido vida fácil, sem dúvida. Vamos prosseguir com a nossa estratégia de comunicação, partilhando informação, dando tempo ao tempo”.
  
E a entrevista continua com mais umas perguntas, mas vou terminar este meu recorte da longa entrevista, com a pergunta, talvez a mais aguardada por alguns malcatenhos e a resposta dada pelo presidente da AMCF. Então a pergunta foi esta:
“Cinco Quinas”- Vamos a contas: de onde vêm as receitas e quais são as despesas da AMCF?” A resposta foi dada com clareza:
“ As receitas e as despesas da AMCF são públicas e estão publicadas no seu site. As receitas provêm das quotas dos seus membros ( colectivos e singulares ). O Membro Colectivo nº1 (fundador) é a Tecneira e a sua contribuição representa mais de 95% do valor total das quotas. No culminar do processo reinvindicativo sobre a ampliação do Parque Eólico, a Tecneira acabou por reconhecer a iniquidade da situação. Ou seja, um parque com 19 eólicas pertencentes, na sua maioria, ao Concelho de Penamacor, que impactava quase exclusivamente sobre Malcata. As contrapartidas iam sobretudo para Penamacor. Malcata aguentava com os malefícios, que sempre existem. Em consequência, a Tecneira, no seu amplo sentido de responsabilidade social, e em plena liberalidade, que muito enaltecemos, reforçou as contrapartidas para Malcata repartindo-as entre a AMCF e a Junta de Freguesia, cabendo a esta última a parte maior. A Junta optou por aplicar logo metade desse valor em calçadas e na recuperação da Fonte Velha. O restante será entregue è Junta em dez tranches (diferenciadas) durante os próximos dez anos. A AMCF, por seu turno, optou por obter da Tecneira o compromisso de, durante 15 anos, ser Membro Colectivo pagando a quota anual acordada. Os mais curiosos podem retirar o valor da quota anual nas contas publicadas”.
  
A entrevista continua e nela são abordados mais assuntos de interesse, tanto para Malcata como para o concelho do Sabugal. O Jornal Cinco Quinas é vendido por um euro e para mim é dinheiro bem gasto. Espero que com esta última resposta aqui trazida acabe duma vez por todas com as dúvidas aos que espalham informações erradas, para não ir mais longe nas palavras.

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