MALCATA : 45 ANOS DE LUZ

Luar em Malcata

Vamos recuar no tempo e recordar Malcata há 45 anos atrás. Em Julho de 1965 estava eu a chegar quase aos cinco anos de idade. Daí até hoje muita coisa se alterou na aldeia. Outras, graças a quem vive na aldeia, continuam como eram, como o ouvir os sinos da igreja e da torre do relógio.
Com a persistência do senhor Manuel Fernandes Varandas ( Ti Varandas ),Malcata celebrou a chegada da electricidade. Foi a 13 de Julho de 1965 que as lâmpadas se iluminaram e houve festa por toda a aldeia. Até então, as casas eram adornadas de candeias de azeite e petróleo, ou umas velinhas de cera...candeeiros de vidro, com um pavio que ficava embebido no petróleo e que subia. Acendia-se com um fósforo, encaixava-se a chaminé e iluminava a sala, a cozinha ou qualquer divisão interior das habitações. As candeias a petróleo, eram penduradas num sítio alto, normalmente num prego espetado na parede e davam luz para todos.
As ruas da aldeia eram iluminadas pela luz da lua ou das "pilhas" (lanternas) alimentadas com pilhas rectangulares ou redondas de 1,5 Voltes. Era nas noites de luar que a Lua se sentia orgulhosa e não havia vela, candeeiro de petróleo ou candeia que lhe retirasse o seu encanto.
Mesmo depois da electricidade ter chegado a Malcata, ainda demorou muito até que todas as pessoas acedessem aos seus benefícios. Só os mais abastados tiveram essa sorte. Os comércios da terra e as tabernas foram dos primeiros a deixar de acender candeeiros e candeias. Vieram as primeiras televisões, os frigoríficos, os rádios,etc. .A vida mudou muito, mas não tanto assim.
Dizia Eça:
"Na cidade nunca se olham, nem se lembram os astros - por causa dos candeeiros de gás ou dos globos de electricidade que os ofuscam. Mas na serra, sem prédios disformes de seis andares, sem a fumaraça que tapa Deus, um Jacinto, um Zé Fernandes, livres, bem jantados, fumando nos poiais de uma janela, olham para os astros e os astros olham para eles.
- Ó Jacinto, que estrela esta, aqui, tão viva, sobre o beiral do telhado?
- Não sei...E aquela, Zé Fernandes, além, por cima do pinheiral?
- Não sei!" 

 in "A cidade e as serras", Eça de Queirós, Edição de bolso, Jn, pág.103.   

Vale a pena pensar nisto!

Comentários

  1. João, não terá sido em 1969?

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  2. Fausto, segundo a informação que me deram os familiares do Sr.Varandas, foi em 1965. Mas não tenho a certeza absoluta...se por acaso tiveres alguma foto ou documento ( recibos da luz ...)gostava de digitalizar.
    Um abraço.

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  3. Lembro-me de quando fui para a primária,Outubro 1968 (prof.Maria do Carmo, logo na primeira sala), não haver luz. Como eu vinha de França já habituado a ela achei estranho. Depois na segunda classe, Outubro 1969 (prof. Purificação, a outra sala do rés-do-chão)já tinhamos. Isto é a minha memória a falar, mas com quase 49 já não é a mesma coisa.
    Grande Abraço amigo

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  4. Caros amigos, eu que sou um bocadinho mais velha, permito-me discordar da data ...Foi no verão de 1970.Ano em que eu completei o quinto ano do Liceu - lembro-me bem, porque tinha falecido o meu avô, razão pela qual não pude participar no baile, que teve honras de conjunto e tudo...não tenho documentos, mas quase garantiria que cheguei a ver fotos..

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  5. A dúvida mantém-se. Vou investigar e procurar documentação. A data de 13 de Julho de 1965 foi-me revelada pelo genro do Ti Varandas.
    Agradeço ao Fausto e à Gorete os comentários, dá mais ânimo para continuar por aqui.

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