Foi com satisfação
que vi a nossa freguesia de braços abertos a receber a iniciativa da Confraria
do Cabrito na Brasa do Sabugal. O pretexto é a realização do IV Capítulo da
Confraria, com sede no Sabugal e que hoje, 19 de Outubro, tem Malcata como
cenário.
Ora é conhecido por muitos da nossa
região que na freguesia de Malcata o cabrito sempre foi afamado e considerado
como o melhor cabrito da região. Não é de estranhar que nas conversas entre os
confrades que hoje estão em Malcata, contem várias histórias com cabritos que
vinham comprar aos taberneiros da terra. Havia cabras e cabritos em abundância
e satisfaziam a procura, principalmente nas épocas festivas do Natal, Páscoa e
os meses de férias dos emigrantes. E como era famosa a iguaria, todo o ano se
vendia.
Quando era ainda garoto, aos sábados
era cena habitual ver pessoas a chegar à Taberna do Ti Joaquim Ruvino e iam
acomodar-se lá ao fundo do corredor, onde a Ti Benvinda com a ajuda das filhas ultimavam
os preparativos para a refeição dos visitantes. Nunca vi ou ouvi anúncios a
publicitar este lugar, eu admirava-me como é que as pessoas apareciam ali,
entravam e todos dali iam satisfeitos, bem-dispostos e não se poupavam aos
elogios aos donos da taberna. Mais tarde entendi que o sítio era conhecido por
todo o país como um dos lugares de excelência para degustar um cabrito assado à
maneira e
o segredo ia-se passando de boca em boca. Estes prazeres ainda demoraram uns
bons anos, muitos repetiram a visita, outros levavam para casa, também levavam
para oferecer a um amigo, ao seu doutor do hospital ou a quem arranjou trabalho
a um familiar.
E na aldeia não faltava onde comprar
carne de cabrito. Lembro-me do Ti Apolinário e mais tarde do seu filho Fernando
que também muito cabrito eles criaram e venderam. Os pastores também faziam os
seus negócios e muitas das vezes, levavam o animal ao Ti Joaquim Ruvino para
que o preparasse e deixasse limpo de maneira a ser levado pelo comprador.
Há uns tempos e a propósito do cabrito
assado na brasa ou cozinhar carne nas panelas de ferro, dizia-me uma das filhas
do Ti Joaquim Ruvino que não esqueceu os ensinamentos da mãe nos tempos em que
o lume e as brasas produziam toda a energia necessária para cozinhar. Com os
olhar dirigido para as grelhas e as mãos a colocar pratos, talheres e copos
sobre a mesa, sem parar graças à dedicação e entrega que mãe e filhas sempre
punham naquelas ocasiões de bem servir.
Gostava de continuar a escrever, mas
vou ficar por aqui. Apetece ainda dizer que em relação à carne de cabrito
criado em Malcata, só posso ter esperança que algo de bom aconteça e depois ouvir
as pessoas a dizer de boca em boca que “o melhor cabrito é o de Malcata. Souberam
manter o legado e a qualidade é excelente”.
Que este dia 19 de Outubro seja
histórico para a História Gastronómica de Malcata.