OS CASTANHEIROS DA MINHA INFÂNCIA

  



 "Pelo São Martinho, 
   vai à adega e prova o vinho"
                                   Ditado popular

   Hoje é o tal dia dedicado ao São Martinho, aquele soldado romano que dividiu a sua capa com o mendigo que, cheio de frio e cansado, lhe estendeu a mão pedindo esmola. O cavaleiro ia a caminho de casa, o dia estava frio e cinzento, um bom agasalho era o que mais ajudava nessa viagem pela serra.
   Quando o pobre se sentiu amado, o milagre aconteceu, o sol brilhou, as nuvens esfumaram-se e até parecia um dia normal de Verão...o Verão de São Martinho!
   
   O mundo não parou e chegado a 2025, aí está o Verão de São Martinho. As tradições perduram e passam de geração em geração, algumas conservam a fama de sempre, outras são esquecidas e substituídas porque as pessoas já não sabem a origem e as razões da tradição e dos rituais a seguir. 
   O vinho novo é cada vez menos, água-pé e jeropiga daquela verdadeira é cada vez mais difícil de encontrar num magusto. 
   Nos meus tempos de garoto da aldeia, neste dia de São Martinho, toda a aldeia cheirava a castanha assada e o sol espreitava por entre a fumaça da caruma onde estavam as castanhas a assar. No meio da rua, do largo ou no recreio da escola, acendiam o monte da caruma onde se tinham lançado as castanhas cruas e sem qualquer corte, por isso, a partir de certa altura, ouviam-se algumas castanhas a rebentar. 
   À medida que o tempo passava as castanhas lá se iam retirando do lume com a ajuda de um pau que também ajudava a que  não se queimassem demasiado. Saíam pretas por fora e douradas depois de descascadas. Ninguém escapava a uma farruscadela na cara ou na testa e ninguém levava a mal. 
   Neste dia dos magustos, com as coisas mais simples e à mão de todos, a festa durava a tarde toda e o povo dormia uma das noites mais tranquilas do ano. 
                   

                                                      José Nunes Martins
    

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