FESTAS DE MALCATA: OS TEMPOS SÃO OUTROS
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As festas da nossa
freguesia têm de ser rijas, barulhentas, com muita música, diversão e bar
aberto.
Têm sido assim as Festas de Malcata
nestes últimos tempos, bem diferentes das festas que eu vivi na minha infância.
Nesses anos 60,70 e 80, era uma festa simples, humilde, em que participavam os
moradores da nossa aldeia e os filhos que trabalhavam fora, mas que queriam
marcar a sua presença na festa. Dias de festa e de muita devoção, muito trabalho
para os mordomos e as suas famílias, as contas só se faziam no fim, mas havia duas
ou três coisas que não podiam faltar: alvorada de foguetes, banda da música e procissão, missa solene e outra procissão, as duas em volta da aldeia. E ainda havia outra coisa que era fundamental ser feita e bem: o Ramo, com música de concertina e da banda da música, que muito contribuíam para animar-nos e o sucesso da arrematação das ofertas das pessoas. Pouco importava se a rua era de terra batida ou de pedra polida e gasta ou o Rossio se mostrasse com o chão aos remendos, nada impedia a animação, não havia palco, bastavam uns bancos de madeira para os músicos tocarem sentados e uma cadeira para o acordeonista poder tocar sem se cansar. As gargantas dos homens gritavam alto e bom som os lances das pessoas, faziam-se ouvir bem na fonte e não precisavam de microfone, tinham era de ir bebendo para manter a forma.
Toda a aldeia vivia e sentia os dias que antecediam a festa. Era uma festa grande, a maior da nossa aldeia, sempre com muita gente.
Mudam os tempos, mudaram as vontades e hoje a nossa aldeia mais parece uma terra que se quer aproximar de Lisboa. Tenho a sensação de caminharmos para uma espécie de Rock In Rio, ou NOS ALIVE em formato muito mais reduzido.
A fé e a devoção já pouco interessa e as Festas Malcata no segundo domingo de Agosto, são apenas um pretexto para uma semana de diversão, de farra e olhos inchados da falta de descanso nocturno. A tradição, os costumes autênticos e o descanso que todos têm direito a gozar, não são tidos em consideração, pois festa é festa e enquanto houver um festivaleiro na praça, a festa não acaba.
E não adianta nada dizer contra os programas das festas ou como elas são programadas, pagas, apresentadas e no fim mostrar a factura, o lucro e o destino a dar ao dinheiro que sobrou.
Cada comissão de mordomos faz como quer, todos os mordomos são responsáveis e por isso nem é preciso atribuir os cargos de “presidente”, de “secretário” ou de “tesoureiro”, muito menos de “fiscal”, pois tudo tem de correr bem. Estão a esquecer-se da história e do passado. Uns conseguiram, mas outros meteram a mão onde não era suposto. Ainda hoje há coisas e comportamentos por explicar.
Tendo em conta a realidade da nossa aldeia, importa preservar e procurar manter as tradições de pé e sempre que for possível de forma transparente e que prestigie a nossa gente, a nossa freguesia.
Ajudar, colaborar, com certeza que sim. Mas sempre com a apresentação da festa, da prestação clara das contas e isto é o mínimo que se pode exigir. As pessoas da freguesia não devem disporem-se a pagar a festa sem qualquer controlo e pagar alguns desmandos.
Isto é a minha opinião, porque aos mordomos não lhes é atribuído liberdade total para organizar e realizar a festa, é-lhes confiado naquele ano a missão de servir e estar ao serviço do povo.
Apesar de tudo, sabendo eu, que os tempos de hoje são diferentes, ainda há muito de positivo na nossa grande festa. Continua a ser uma semana que anima e que chama as pessoas à nossa terra. Portanto, aos mordomos da Festa, desejo que continuem a sentir orgulho da missão que têm nas mãos e que se sintam com vontade e força de trabalhar, na certeza de que, não agradando a toda a gente, tudo farão por isso e se dedicarão com empenho e compromisso à organização da próxima festa.
José Nunes Martins
José Nunes Martins


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