PODE UM MALCATENHO DEIXAR DE O SER?

 


  Nasci em Malcata, mais precisamente em casa, num dia de Outubro. E de Malcata, guardo memórias de infância marcantes e boas: tinha uma rua para brincar e hoje é uma coisa que já não existe. Ia a pé para a escola, vinha jantar a casa a pé e voltava a ir até às três ou quatro da tarde. Cresci perto dos meus avós maternos que me marcaram para a vida. Também tive sempre a minha mãe, o meu pai emigrou para a França no ano em que nasci.
  Para mim, Malcata é o meu mundo de brincar, de aprender a ler e escrever e é a minha aldeia, a minha princesa de estimação.
  Estou triste relativamente ao que se passa na minha terra natal. Malcata é mais uma terra sem rei nem roque, é um território desaproveitado e nem sabe ganhar com as vantagens que a natureza oferece há séculos. A freguesia tem uma mancha florestal extensa, há espaço para quase tudo, mas está de costas voltada para o céu, não beneficia com a água da albufeira, não aproveita a pastorícia, os percursos pelos caminhos e ribeiros.
  Já gostei mais de voltar a essa aldeia, e não deixo por completo porque as coordenadas do
sítio onde nasci não quero que sejam apagadas. Já fiz viagens sem parar para poder desfrutar da aldeia, da natureza e sentir o amor das pessoas. Há muitos anos que vivo a olhar para as ruas da cidade, mas nunca perdi o meu norte e sempre soube o meu ponto de partida. Eu fiz o que outros também tiveram de fazer, sair do ninho e aprender a voar. Aliás, tenho a perfeita consciência de que a maior parte dos malcatenhos com a mesma idade que eu, abalaram para a cidade.
   Vivo ligado a uma família de boa gente que nasceu, cresceu, aprendeu, trabalhou na aldeia que se chama Malcata. E eu acredito que os malcatenhos somos todos os que vivemos dentro e fora da aldeia. Há malcatenhos.
                                                      
                                                              José Nunes Martins


 

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