quinta-feira, agosto 14, 2025

UMA BIBLIOTECA EM MALCATA? NEM SABEM O BEM QUE FAZIA!

A Biblioteca da Freguesia de Malcata
é mesmo pobrezinha!


Ler e escrever é bom, dá-nos liberdade e ferramentas para viver melhor.
Quantos sabem ler e escrever, mas não leem e nem escrevem?
 

   A questão que aqui deixo é esta: mas chegará para que as pessoas intervenham e participem nos vários processos e chamadas que vão aparecendo na nossa aldeia?  Justificações abundam e apesar de saber ler e escrever, muitas pessoas raramente têm vontade em ler para ficar a saber o que os outros lhes querem dizer, como é o meu caso quando escrevo no blog Malcata.net -aqui: (www.aldeiademalcata.blogspot.com), Para além da falta de vontade, é preguiça de querer saber o que se escreve, ou então, sabem ler, escrever e contar e nunca tiveram um telemóvel nas mãos, quanto mais um computador em casa para se ligarem ao mundo através da internet. Toda a gente está viva e todos respiramos oxigénio que nos mantém
com vida. Mas, estamos a viver ou vivemos porque não temos outra saída, mesmo desinteressados do conhecimento e de nos enriquecermos mais e mais.
   A este desinteresse, na busca do conhecimento e do saber, há quem lhe chame iliteracia, novo analfabetismo que mantém muita gente na sua santa ignorância e que os oportunistas sabem aproveitar em seu favor.
   Há na nossa aldeia a necessidade de estimular as pessoas a ler, a escrever, a deixarem de ser menos ignorantes e aprender a conhecer os oportunistas, que nos embrulham coisas más em bonito papel de embrulho. Cada malcatenho tem a inteligência suficiente para se considerar importante, útil à comunidade e com ele podem contar para o bem da terra. A nossa junta de freguesia há muito que ignora esta área importante dos malcatenhos. Não me lembro, nestes últimos anos, de se ter levado a efeito um programa de incentivo e de combater o analfabetismo dos nossos dias. Será que as pessoas comuns da nossa terra se desinteressam verdadeiramente de saber, de ler e escrever? Eu assim não acho e é mesmo urgente melhorar o conhecimento e praticar a leitura e a escrita, mais agora que a candeia é melhor, com luz mais clara e segura, que os mais velhos aguentaram quando tinham que fazer os trabalhos da escola primária.
   Deixemo-nos de lágrimas e de lamentos, o passado já foi e voltar atrás, é impossível.
   Como curiosidade, convido os malcatenhos que tenham internet, entrar na página da internet da responsabilidade da Junta de Freguesia, aqui:
https://www.jf-malcata.pt/freguesia/imprensa  . A Biblioteca da freguesia é rica e merece 
uma visita ou não?

                                                         José Nunes Martins
   
   
   

                                                       

terça-feira, agosto 12, 2025

MALCATA É O MEU NINHO



 

   As andorinhas costumam chegar ao nosso país na Primavera, quando o frio do Inverno dá lugar a temperaturas mais amenas. Elas chegam sem avisar e voltam normalmente ao ninho onde já procriaram nos anos passados. Vêm sem saber se está tudo igual, voam para a aldeia confiantes nos bons ventos, na convicção que encontrarão casa para descansar e passar os meses de mais calor.
   O silêncio e as pessoas não incomodam, regressam porque se sentiram bem das outras vezes. O importante é conseguir voltar.
   Muitos dos malcatenhos partimos da aldeia e vivemos durante anos, longe da terra. Alguns foram com os bolsos vazios e o cérebro cheio de sonhos e promessas. O trabalho que encontravam nunca custava tanto como aquele que faziam nos campos, agarrados ao arado, à charrua para lavrar as terras. Os dias de trabalho eram mais bem divididos. Tinham horas para começar e para terminar a jornada, não estavam dependentes da luz do sol, apesar de alguns começarem muito cedo ou trabalharem durante toda a noite.
   Lembro algumas das cartas que recebia dando conta de que “as andorinhas já chegaram” ao ninho da varanda do Tio Zé Pires. Eu sorria e imaginava a varanda da casa dos meus tios povoados de andorinhas. Ainda este ano elas regressaram ao ninho. Quem já não regressa mais a esta casa são os meus tios, os dois voaram livremente para outros mundos infinitos, levando consigo as memórias das andorinhas.
   Quando este ano cheguei à aldeia, as casas estavam ainda mais velhas, vazias, sem vidros nas janelas e com as portas entre abertas, nada impedia que eu entrasse. O que eu vi nalgumas dessas casas, não foram pessoas, foram andorinhas. Nos beirais das casas, do minimercado Armindo, lá andavam elas de um lado para o outro. Chilreavam como se estivessem a conversar umas com as outras, pareciam todas da mesma família e raramente desciam ao chão, lá se equilibravam nos beirais e cabos que atravessam o espaço aéreo e em todas as direcções.
   Ao passar pela Torrinha, lá estavam os rostos de gente que se habituou às andorinhas.    
    Aceno com a mão e abro um sorriso a um grupo de gente que não esconde as rugas do rosto que testemunham cada ano de vida. Depois de subir a rua, cheguei à casa da minha infância, ao ninho onde nasci. Porque as minhas memórias também voam e o meu coração sabe o caminho, lá vou enfrentando os ventos e as pedras que me vão aparecendo quando ando pelas ruas e caminhos da aldeia. Tal como as andorinhas, sou pequeno em tamanho, mas teimoso o suficiente, persistente e enfrento aqueles pássaros que se acham donos de tudo e lutam por manter o seu domínio sobre os mais frágeis. Que nunca me falte a coragem para regressar, porque também pertenço ao ninho onde nasci e se as andorinhas são capazes de regressar, eu também nunca terei medo de voltar, porque as minhas asas sabem sempre onde pousar.

  

                                                          José Nunes Martins

domingo, agosto 10, 2025

MALCATA 1963-A GRANDE FESTA FOI EM SETEMBRO

 

Recorte do jornal A Voz do Sabugal 1963
   Realizou-se no dia 9 a festa em honra do Sagrado       Coração de Jesus.
   A festa foi precedido de tríduo de preparação e no     domingo de manhã ouviu-se a alvorada de foguetes   que despertou toda a aldeia e recordou às pessoas   que era dia 
de festa.
 Enquanto acontecia a alvorada, a banda de música   percorria as ruas da aldeia, 
parando em frente às casas dos mordomos.

   A primeira procissão, que começou às 9:30 da   manhã, percorreu as ruas habituais, com todos os   santos da igreja, indo os estandartes maiores à frente e os mais pequenos, uns passos à frente do respectivo andor. Logo de seguida celebrou-se a missa e as crianças fizeram a comunhão.
   À uma da tarde (!!! apesar do calor…) celebrou-se a Missa Solene, com pregação, seguida da procissão com o Santíssimo (o padre fazia todo o percurso da procissão debaixo do pálio, que meia dúzia de homens sustentavam através de seis varas, três de cada lado).
   Terminadas as cerimónias religiosas, o povo foi para as suas casas com pressa, já era tempo, mais que tempo, para as famílias se sentarem à volta da mesa da sala de jantar, que estava preparada e bem composta, tudo do bom e do melhor.
   Quando o pôr do sol estava próximo e o ambiente mais fresco, todo o povo aparecia ao Rossio-Torrinha para participar no “Ramo” da festa. Nos intervalos, a banda de música tocava umas músicas para animar o baile.
   A igreja paroquial neste ano, foi alvo de obras de melhoramentos que eram necessários que se fizessem. O padre e a Comissão foram elogiados pelo trabalho ali
realizado.
   Este texto foi inspirado na notícia publicada em 1963, no Amigo do Sabugal de Setembro
deste mesmo ano.

Este senhor das amêndoas, era sempre bem-vindo às festas



Início da procissão no adro da igreja em Agosto 2008



Festa de São Barnabé em Agosto 2025
(Foto de Alberto)


E assim se recordam os nossos antepassados. Bem-haja a todos.


                                                                José Nunes Martins    

HAJA ALEGRIA E BOA DISPOSIÇÃO-MALCATA EM FESTA

    Agosto é aquele tempo de festa na aldeia e noutros tempos não havia festa, se não houvesse quatro coisas: foguetes, banda da música, missa solene e procissão e bailarico.

  


Procissão 

 

   Na nossa aldeia, a festa maior e a mais importante, era celebrada no mês de Setembro.    Nos anos sessenta muitos malcatenhos saíram da terra e abalaram para as grandes cidades e para fora do país, sendo a França o destino mais concorrido.
   Nunca fui rapaz de bailes e namoricos, era criança e brincar era o que mais gostava. Para os garotos da minha idade, a festa era quando a minha mãe me levava à barraquinha onde se vendiam as amêndoas, as pandeiretas, pistolas de brincar e que tinham uma única bala de pau que assustava quando carregava no gatilho. Fazíamos de conta que ganhávamos a batalha, porque a guerra verdadeira estava a fazer-se nas províncias ultramarinas de Portugal. Mas doce e que todas as crianças adoravam exibir dependuradas ao pescoço por um fio, era aquele “medalhão” branco, muito docinho que nunca mais se acabava para pedir outro!





A procissão a chegar ao adro

                                            


    Ainda me lembro dos bailes que animavam a festa. O tocador da concertina sentado, numa cadeira da casa de alguém que emprestou, só começava o baile depois das cerimónias religiosas terminadas. Ao Rossio começavam a chegar os rapazes e os homens, depois iam chegando as raparigas em grupos ou na companhia das mães.
   E pouco a pouco, o tocador ia abrindo mais o fole da concertina para as pessoas ouvirem melhor as modas que tocava. Quanto mais tocava, mais as mãos aqueciam e se encantavam os dedos ao carregar nos botões das notas. Sem surpresa, o tocador era rodeado pela multidão que aos poucos iniciavam a dança.


Toca a banda na procissão



   Era assim que se faziam os bailes, muitos namoros assim começaram e também alguns regressavam a casa em lágrimas sem gota à vista e com o orgulho ferido.
   Nestes tempos das concertinas, a festa na nossa aldeia era feita em honra ou homenagem aos Santos. Estranhamente e ao contrário do habitual, na nossa paróquia
do lugar de Malcata, cujo padroeiro é São Barnabé, só muito recentemente a festa é realizada em seu nome. Faziam a festa à Senhora do Rosário e ao Sagrado Coração de Jesus. Mais tarde juntou-se a festa em honra de São Domingos e a festa da Senhora dos Caminhos. O São Barnabé continuou sem festa e por obra e “graça divina” passou a ser o rei da festa e assim tem sido.


   Malcata é uma aldeia relativamente pequena e no mês de Agosto triplica o número de pessoas, por isso e por causa das pessoas, os dias das festas são muito movimentados.

Doces caseiros
   

    Para realizar um evento é necessário angariar dinheiro, que é conseguido recorrendo a peditórios entre as pessoas da terra e também junto dos que vivem fora. Também é importante encontrar patrocínios de empresas, venda de diversas coisas, rifas, refeições, que grão a grão ajudam na angariação de dinheiro.
   Organizar a festa da aldeia é cá uma trabalheira! E tudo o que se faz contribui para a produção da festa, desejando todos que acabe num grande sucesso. O dinheiro não é tudo, mas um bom tesoureiro é bem necessário para garantir resultados satisfatórios.
   A tarefa de exercer controlo responsável das entradas e saídas de “caixa”, seja em que actividade for, tem de ser atribuída a um dos mordomos. A escolha tem de basear-se na seriedade, na responsabilidade e plena confiança na pessoa. E quando se tem de delegar noutras pessoas, aumentar ainda mais os sistemas de controlo.
   Este ano, mais uma vez Malcata vai viver a alegria da sua festa anual, em honra do seu padroeiro, São Barnabé. 

                        Alguns dos cartazes com o programa das Festas de Malcata:


                                                                   
                                                                                                          

                    Que este dia de festa seja repleta de alegria, boas conversas e que o calor do Verão aqueça todos os corações, mesmo que a vida não esteja a ir como gostariam que fosse. 
                                                        Boas festas aos da aldeia

            José Nunes Martins