AS CASTANHAS E OS CANIÇOS
Os segredos de assar castanhas |
Os dias de hoje já são diferentes de
antigamente. A época que estamos a viver que envolve a apanha das castanhas é
vivida de forma diferente dos anos 60 ou 70. Nas aldeias onde havia
castanheiros, por esta altura do ano, viviam-se momentos de alegria e festa. Em
Malcata ainda há bons castanheiros que nos fazem recordar outras tradições que
o povo vivia. Mesmo as pessoas que não tivessem castanheiros, não ficavam sem
as castanhas. Depois da apanha das castanhas vinha o tempo do “rebusco”.
Durante esses dias toda a gente tinha o direito de ir apanhar castanhas onde as
houvesse, sem receio de ser repreendida ou acusada de roubo.
Nesta altura do ano juntavam-se aos
grupos de amigos, de vizinhos ou famílias e faziam o magusto, por vezes faziam
a fogueira mesmo no meio da rua ou dos largos da aldeia. Não faltava castanha
assada com caruma e uma copa de jeropiga para ajudar a empurrar.
Mas a castanha nesses tempos de miséria
tinha um importante lugar na alimentação. Então havia que guardar e poupar para
ter castanha durante todo o ano. Durante o tempo frio e neve, nada como pegar
num punhado de castanhas e metê-las num púcaro com água e deixá-las cozer para
comer, para juntar ao caldudo, muitas vezes a refeição mais forte do dia.
E para guardar as castanhas durante
tanto tempo, os meus pais despejavam-nas no caniço que havia por cima da
lareira. Os caniços não era mais do que um estrado de varas direitas e
suspensas horizontalmente, mantendo-se afastadas entre elas, mais ou menos um
centímetro, a distância suficiente para não deixar furar as castanhas e elas
caíssem no chão da cozinha ou em cima da cabeça de alguém. O caniço enchia-se
com as castanhas e ali permaneciam a receber o calor do lume até ficarem secas
e rijas. Dali iam para um cesto de vergas, o meu pai calçava os tamancos e
entrava para dentro do cesto baloiçando o corpo e os pés até a casca sair. O
par de tamancos eram especiais e estavam preparados para executar a tarefa de
descascar a castanha, que por estar seca e dura, os cravos que preenchiam toda
a sola do tamanco, por muito aço que tinham, apenas retiravam a casca às
castanhas. Após o tempo da dança dos tamancos, a minha mãe chegava com uma saca
de pano para a encher e guardar num lugar seco lá de casa até que um dia
chegasse a oportunidade de fazer um daqueles caldudos.
As pessoas da minha idade,
provavelmente como acontece a mim, também se recordam destas coisas de
antigamente. Será que ainda existem caniços na aldeia?
Vivemos num mundo cheio de inovações e
de tecnologias. Tenho orgulho das minhas
origens e para mim, escrever estas memórias que eu vivi, são uma singela
homenagem a toda essa gente boa da nossa aldeia, que mesmo não entendendo de
computadores e telemóveis, nem andam pelas redes sociais, têm segredos e
saberes que os ajudaram a viver. Saibamos nós encontrar formas de guardar todas
estas memórias e sabedoria dos nossos avós e pais. Dar maior atenção e
importância ao espólio e às tradições mais antigas, para que as gerações
presentes e futuras nunca esqueçam as suas raízes, é o mínimo que podemos
fazer.
Nota: Dia 13 de Novembro vai ter lugar o Magusto 2021, na Associação Cultural e Desportiva de
Malcata. Os meus desejos são de que seja uma tarde de festa e são convívio.
Comentários
Enviar um comentário
Comentários: