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Tocar os sinos da igreja
Ouvem-se por toda a aldeia. A tradição está a perder-se e isso nota-se na diminuição da importância que muitos de nós damos a este fantástico meio de comunicação. Sempre que os sinos da igreja tocam, vêm-me muitas memórias da minha infância e do respeito que as pessoas tinham quando tocavam.
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No que diz respeito aos sinos das igrejas, encontrei algumas curiosidades interessantes, como a de ver uma mulher a tocar os sinos. Isto porque as pessoas acreditavam que a mulher que se atrevesse a tocar o sino, ficaria condenada à esterilidade até que casasse e o marido cravasse os dentes num badalo. Talvez aqui esteja explicado o facto de, em Malcata, a tarefa de tocar os sinos, fosse sempre a cargo de um rapaz ou homem. Antigamente, os fundidores e os modeladores de sinos, trabalhavam junto à igreja, ermida ou catedral e ali permaneciam até terminar o serviço contratado. Naquele tempo, não havia meios de transporte capazes de poderem transportar os sinos e os acessórios, ferramentarias e todo o material que precisavam para instalar os sinos. Foi o desenvolvimento dos transportes que estes trabalhadores começaram a trabalhar em espaços maiores e com todas as condições. | |
Hoje, em Malcata, ainda se continuam a tocar os sinos, mas já se nota um desinteresse generalizado da sua importância. Toda a gente tem relógio de pulso, telemóveis, internet...e as horas das celebrações religiosas deixaram de ser marcadas apenas pelos sinos. Actualmente, o sineiro usa uma técnica um pouco diferente quando tem de tocar os sinos do campanário. Depois das obras de recuperação efectuadas na igreja, mudaram os suportes dos dois sinos e hoje há que fazer rodá-los para que toquem, deixando aquela forma de antigamente de agarrar no badalo e tocar com ele no sino. |
Legenda: Os sinos da igreja de Malcata da actualidade são de origens diferentes, mas ambos provenientes de fundições com prestígio mundial, Rivera Campanas(Espanha) e Fundição do Porto(Rio Tinto).
Os sinos são muito mais importantes que nós pensamos.
São de um valor elevado e constituem parte do património da nossa aldeia, da
nossa paróquia. É que o seu valor não está só no valor da liga de metal em que
foram fabricados, eles são uns verdadeiros instrumentos de música e têm a força
de enviar mensagens, eles comunicam com o povo.
Nos últimos tempos conheci paróquias
que quiseram modernizar o toque dos sinos. Para que isso fosse possível, substituíram
o homem pela instalação de uma caixinha electrónica que faz
os sinos tocar sem ser necessário uma pessoa. Qualquer um de nós pode
simplesmente clicar num botão daquela caixinha e os sinos começam a tocar.
Simples, fácil, mas muitos já estão arrependidos por terem tomado esta decisão.
Os sinos tocam e bem, mas não é bem a mesma coisa. Apesar do descanso que dá à
Fábrica da igreja, a caixinha toca sempre da mesma maneira e quando é um homem
a tocar e se o tocador for bom, vai fazer toda a diferença.
Tenho a certeza que há em Malcata quem tenha histórias e curiosidades à volta dos sinos da nossa igreja. Que bom seria ficarem registadas para memória futura!
José Nunes Martins
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