QUANDO OS SINOS TOCAM EM MALCATA

    

  Os sinos da minha aldeia continuam a ouvir-se, apesar de já não terem a importância que tinham no passado. Na nossa freguesia há os sinos da igreja e o sino da Torre do Relógio. Não se confundem os seus toques e cada um tem a sua função e quando tocam a mensagem é enviada para todos os cidadãos.
  Os toques dos sinos da igreja mudam-se conforme a mensagem que se pretende transmitir. Sempre que o sino grande tocava a rebate desordenadamente, sem jeito e as badaladas soavam repetidamente sem parar, era sinal que estava a acontecer uma situação de perigo, de alguém que necessitava urgentemente de ajuda. Podia ser um fogo numa habitação, num palheiro ou numa meda de pão e o "toque a rebate" era a forma de clamar por auxílio. Nos casos de fogo, fosse lá quem estivesse aflito, todo o povo largava o que estava naquele momento a fazer e com baldes e caldeiros nas mãos, corria até ao local da tragédia e imediatamente formavam uma fila, passavam de mão em mão as vasilhas cheias de água para apagar as chamas e salvar os pertences que o fogo consumia. A prontidão e a rapidez era de tal ordem que, alguns casos de fogo, quando os bombeiros chegavam, já o povo tinha o fogo apagado ou sob controlo.
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  No que respeita a assuntos ligados à igreja e às práticas religiosas, o sacristão tinha a tarefa de tocar os sinos e chamar os fiéis para a igreja. Aos domingos, tocava três vezes antes da missa começar, no final de cada vez que tocava, o badalo do sino grande batia uma, duas ou três vezes, dando assim a conhecer aos fiéis o tempo que faltava para o padre se pusesse ao altar e começar as cerimónias religiosas. Todo o povo conhecia e entendia as badaladas dos sinos da igreja. Quando ouviam tocar as três badaladas do sino grande, era sinal que o padre estava a dirigir-se para o altar-mor e a partir desse momento quem ainda não se encontrava no interior da igreja, ia chegar atrasado e havia que despachar-se para valer a pena ir à missa.
  Isto de avisar o povo, com as três badaladas, que a missa ia começar, às vezes serviam de sinal para aquelas almas desejosas das coisas do alheio, pois sabiam que estavam todos dentro da igreja e portanto, podiam entrar na propriedade alheia com mais tempo e mais à vontade...
  Nos dias festivos também se tocavam os sinos e muitas vezes era dessa forma que o povo ficava a saber da cerimónia de um casamento, baptizado, funeral, etc.
  A história ensinou-nos que o som dos sinos era importante e respeitado por toda a gente. Tal como hoje as mensagens do telemóvel, outrora, nos tempos em que havia dois telefones na freguesia, não havia luz eléctrica e poucos tinham relógio em casa e muito menos no bolso ou no pulso esquerdo, os sinos enviavam as mensagens de interesse público e como hoje, o cidadão depois de ouvir a mensagem, tomava a sua decisão. 
  
  Continua...

                                                                                José Nunes Martins




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