AOS QUE PARTIRAM E AOS QUE PARTEM DE MALCATA BUSCANDO A SORTE NOUTRAS PARAGENS
GENTE QUE AMA A SUA TERRA
Vou dirigir-me
aos malcatenhos emigrantes. A sua presença na aldeia durante a semana da festa
verificamos que os emigrantes continuam a marcar presença e então no domingo da
festa fazem questão de passar o dia na aldeia. Quem não vem à festa, segue o
desenrolar da festa através da internet. Quem vem, já não é como nos primeiros
anos, vêm de carro, de avião ou apanham lugar nas carrinhas de transporte de
passageiros, conduzidas por conhecidos e que também são da mesma terra.
São os emigrantes que fazem
transbordar a aldeia. Muita animação, boa disposição, enchem os cafés, a Zona
de Lazer e há filas nos minimercados. No dia de mercado, vão todos para o
Sabugal e os feirantes vendem tudo o que têm. O mês de Agosto é o melhor mês
para quem tem um negócio. As comissões de festas anseiam pela chegada dos
emigrantes e de bom tempo.
Na nossa aldeia cada família teve ou
tem gente emigrante. Os mais idosos já gozam a sua reforma francesa, bem mais
recheada que os que não foram para longe trabalhar. Há dias no café os três
homens falavam sobre a importância que os emigrantes tiveram e têm no
desenvolvimento do nosso país, em particular da nossa freguesia. Longe vão as
partidas à pressa, pela calada da noite e um meio retrato no bolso. Iam a “salto”
e quando chegassem a França, procuravam a pessoa que tinha na sua posse o outro
meio retrato e juntando as duas partes a pessoa via que tudo estava certo.
Tinha valido a pena tantos sacrifícios para chegar ao destino. Há casos de
pessoas que não tiveram a mesma sorte, foram apanhadas pelas autoridades e se
não foram presos, eram recambiados para o buraco onde nasceram. Muitos
emigrantes fugiam da guerra que Portugal estava a levar a cabo na África. Ou
quem se casava, não conseguia enriquecer mesmo que trabalhassem de sol a sol.
Tinham que sair da terra e procurar nas grandes cidades do país, indo a maioria
para o estrangeiro em busca de uma vida melhor, onde pudessem ganhar dinheiro e
mandá-lo para os bancos em Portugal. Os emigrantes dos anos 50, 60 e 70, tinham
poucos estudos ou mesmo nenhuns. Uma das maiores dificuldades foi o não
entender a língua francesa, depois também nem sonhavam como era a casa onde iam
morar e com que companhia a partilhavam. Mas a razão que os levou a chegar à
França, foi tão forte que aguentaram tudo. E foi focados nessa “vida melhor”
para a família, aumentavam as possibilidades de oferecer educação aos filhos,
construir uma casa e viver a vida sem depender das saias dos pais, que tantos
decidiram emigrar.
É para estes malcatenhos que vai a
minha homenagem, o meu sincero abraço e mesmo que hoje tudo seja diferente para
melhor, venham mais vezes à aldeia, fiquem por aqui mais uns dias porque quem
vive na aldeia, gosta da vossa presença e do vosso
interesse pelas tradições e costumes da terra.
Termino com um pedido feito em nome
dos bons conterrâneos: rezem a Oração de São Francisco, também conhecida pela
Oração da Paz…que lembra:
Senhor, fazei de mim um
instrumento da Vossa Paz.
Onde houver ódio, que eu
leve o amor.
Onde houver discórdia, que
eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu
leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que
eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida
eterna. Amén!
Porque uma aldeia e um povo é muito mais que uma festa!
José Nunes Martins
Muito lindo ! Obrigada beijinhos
ResponderEliminar