COMO SE "ENGANAM" OS LINCES DA MALCATA?
Visita dos políticos a Odelouca
RESERVA NATURAL DA SERRA DA MALCATA SEM O CENTRO DE REPRODUÇÃO DO LINCE IBÉRICO
A notícia não é de hoje, nem de ontem. Mas dada a sua importância há que dar alguma atenção ao que tem acontecido durante este tempo de férias. Os políticos pensam que andamos todos cegos, surdos e mudos.
Então, não é que o Governo decidiu publicar no Diário da República a abertura do Concurso para a construção do Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro do Lince-Ibérico, orçado em 3,6 milhões de euros? Até aqui tudo bem. E onde decidiu construir esse centro? Nos terrenos, já adquiridos para esse fim, pelos responsáveis da Reserva Natural da Serra da Malcata, zona criada precisamente com a finalidade de preservar o lince ibérico, onde já se fizeram repovoamentos de coelhos bravos, criaram-se clareiras com pastos, reflorestou-se com árvores e os milhões que se gastaram nas campanhas, sendo a mais conhecida a "Salvemos o Lince e a Serra da Malcata"? NÃO. A Herdade das Santinhas foi o local escolhido."A Herdade das Santinhas foi escolhida pela sua adequação aos condicionalislos e especificidades inerentes à reprodução desta espécie." diz o Dossier distribuido aos jornalistas no passado dia28 de Julho, durante a visita do Primeiro Ministro e do Ministro do Ambiente, ao recomeço das obras da barragem de Odelouca.
E o que é que Odelouca tem a ver com a Herdade das Santinhas e com o Lince Ibérico? E a Reserva da Malcata foi esquecida porquê? Porque altos interesses se levantam lá para os lados de Silves e os turistas e caçadores que frequentam a Herdade das Santinhas aplaudem a opinião do "Comité de Criação em Cativeiro do Lince-Ibérico e do ICN" e a decisão dos governantes que para construirem a barragem de Odelouca, cujas obras estiveram paradas durante três anos e a União Europeia comprometeram-se a integrar medidas de "compensação e sobrecompensação" que incluem:
- Instalação de um Centro de Reprodução em Cativeiro do Lince-Ibérico;
- Fomento das populações do Coelho-Bravo;
- Recuperação e manutenção do habitat;
- Monitorização do Lince-Ibérico.
As medidas de compensação e sobrecompensação visam atingir os objectivos de conservação das espécies e habitats directamente afectados pelo empreendimento, em especial o Lince-Ibérico..." refere no dossier cedido aos jornalistas. Mais adiante diz "A Herdade das Santinhas será, então, convertida, num pólo de dinamização ambiental e de promoção da cultura regional."
Dá para entender? Qual é a intenção das àguas do Algarve em comprar a Herdade das Santinhas? A herdade foi comprada a que preço? Então e os terrenos já comprados e a necessitar de uma forte dinamização ambiental da zona que rodeia a Reserva Natural da Serra da Malcata?
A argumentação oficial de que a herdade está mais próxima de Espanha, do parque de Doñana a quem convence? Foi para" compensar a construção da barragem de Odelouca" diz o ICNB ao DN. E em Malcata não se construiu também uma barragem? Quais as compensações que recebemos pelos danos causados e pelo impacto ambiental provocado na zona? Tudo o que se prometeu, para além de terem pago ao desbarato os terrenos de cultivo que ficaram alagados pelas águas da albufeira, não há mais compensações e muito menos sobrecompensações.
Razão tem o Presidente da Câmara de Penamacor, porque o Presidente da Câmara do Sabugal anda a leste. O Presidente de Penamacor afirmou ao Diário de Notícias que "Não faz sentido construir este Centro fora da Malcata, tendo em conta os investimentos que o ICNB tem feito nesta região nestes últimos anos". E continuou:"Há 25 anos que temos a Reserva da Serra da Malcata que tem criado várias restrições, seja ao turismo e agora à instalação de energia eólica. E as contrapartidas que podemos tirar da zona protegida não vão para aqui".
Ao retomar-se a construção da Barragem de Odelouca, dizem os políticos, que o objectivo é "o de garantir água, destinada ao consumo humano, para servir as populações algarvias."
Mas segundo a Liga Protecção da Natureza, esta barragem "vem apenas encobrir o uso abusivo das águas subterrâneas para a agricultura intensiva e rega de um número crescente de campos de golfe e de jardins em zonas turísticas".
Outro dos argumentos apresentados pelos políticos do Governo "é a possível conectividade ao Parque Nacional de Doñana, em território espanhol, onde a população de lince ibérico se encontra mais estabelizada, conferindo por isso melhores possibilidades de ser ampliada para uma área contínua a zona de existência do lince ibérico".
Mas este argumento já tem alguns entraves. É que a Junta de Andaluzia não pretende ceder os linces que têm em cativeiro no Parque de Doñana. O nosso ministro do ambiente Nuno Correia, confrontado com esta posição dos espanhois, disse ao "Jornal Barlavento" que "o problema não é nosso, é deles. Que o resolvam."
Lanço um apelo ao Presidente da Câmara do Sabugal no sentido de se manifestar acerca deste assunto. Porque não solicita ao Ministério do Ambiente a divulgação do Relatório final de um estudo sobre a conservação do lince na Serra da Malcata, realizado no âmbito do Programa Liberne?
A Reserva Natural da Serra da Malcata, é partilhada por Penamacor e pelo Sabugal. Foi criada em 1981 na sequência da campanha "Salvemos o Lince e a Serra da Malcata".
E daqui para o futuro quais os "valores botânicos e faunísticos de incontestável interesse"?
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