MALCATA : A MINA
Pá, picareta e muita força de braços foram necessários
para levar a água até à Torrinha!
Fonte da Torrinha |
Em 1935, as pessoas que viviam em Malcata, iam até à Fonte de Mergulho e aí enchiam as vasilhas de água para o sustento da família e do gado. Entre 1935 e 1937, a água escasseava e a população ia aumentando. Com a escassez de água potável, a população mobilizou-se e em conjunto com a Junta de Freguesia de Malcata, presidida na altura pelo senhor António Nita, arregaçaram as mangas e construíram manualmente uma mina e o respectivo canal para o transporte da água até ao povo. Viviam-se tempos difíceis, a aldeia ainda não tinha rede de electricidade, não havia rede de esgotos, criavam-se muitos animais. A água era indispensável para a vida de todos e as culturas necessitavam dela para se desenvolver. Portanto, a água dentro da povoação existia, mas não estava devidamente aproveitada. Havia poucos poços e a água servia mais para regar a horta ou as culturas como as batatas, o milho, os feijoeiros, precisando de burras (picotas), noras e mais tarde, motores a petróleo. Daí a importância de a água na povoação ser tão necessário a construção de fontes.
Amigo da Verdade - Malcata
António Nabais da Cruz ( Ti António Nita ) e a história da fonte
A construção de chafarizes e fontes foi uma das apostas do Estado Novo nos anos 40. O abastecimento de água fazia parte das obras importantes e era normal e vulgar a presença de gente do governo na inauguração de uma fonte numa das aldeias do nosso concelho. Nessa altura, o Sabugal foi daqueles que maior número de inaugurações fez no que respeita a chafarizes e fontanários. Entre 1930 e 1940 muitas foram as aldeias que ficaram com abastecimento público de água assegurado por fontes e chafarizes. A Câmara do Sabugal, sempre que podia, aproveitava a vinda das equipas de engenheiros e de técnicos a uma freguesia para executarem medidas, estudos, medidas e visitavam todas as obras, bem como a compra de materiais necessários, poupando em dinheiro e em tempo.
O caso das obras do abastecimento de água à
nossa freguesia tem alguns contornos que não são conhecidos de todos vós. A
construção da mina demorou e todo o trabalho foi feito à pá e picareta.
Contaram-me que quando surgiu a água, foi uma alegria e alguns pensavam que o
trabalho tinha terminado. Mas isso não foi o que o senhor António Nita pensou e
ainda quis continuar os trabalhos com a ideia de aumentar ainda mais o volume
de água a jorrar da nascente. Não foi fácil fazê-lo parar e avançar para a abertura
da vala para conduzir a água até ao povo. A distância que vai das Eiras à
Torrinha não é mais do que uns 3000 metros, mas sendo o trabalho todo feito à
mão, os homens tiveram que organizar-se em equipas. A forma encontrada pelo
presidente da junta foi a de ir uma equipa por cada rua e durante uma semana de
trabalho.
Foram semanas duras de muito trabalho,
muita terra, pedras e lama até chegar à Torrinha. A data “1937” que hoje se
pode ler numa das pedras da fonte, confirma que pelo menos a Junta de Freguesia
trabalhou há volta de dois anos até a obra ficar pronta. O velado (túnel) foi
com certeza a parte mais difícil de construir. A fonte, feita toda em cantaria,
foi desenhada com muita simplicidade, mas satisfazia as necessidades de fornecimento
de água potável a toda a freguesia. A fonte é um dos ex-libris da nossa aldeia,
que nem sempre tem sido bem cuidado. Foi um lugar importante durante muitos
anos, um lugar que guarda inúmeras histórias de namoro, de lutas pela água do
tanque, de algumas indisposições nos dias de muito calor, etc.
(continua...)
José Nunes Martins
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