MALCATA: PROCURAM-SE NOVOS PASTORES
Há 50 anos havia vários rebanhos na nossa aldeia e eram uma
fonte de rendimento para as famílias.
Hoje já não há pastores e também já não
há praticamente quem tenha cabras. Conheço três famílias que possuem algumas
ovelhas e nenhuma delas vive exclusivamente desse trabalho.
As cabras e as ovelhas ajudaram a
manter os terrenos limpos à volta da nossa freguesia. O pastor saía todos os
dias com o rebanho e os animais percorriam montes e vales, alimentando-se das
muitas espécies que existiam. Sem que as pessoas se dessem conta, estes
ruminantes ajudaram a manter os terrenos limpos, mesmo naqueles lugares mais
difíceis para o homem, estes animais trepavam para todos barrancos porque lá
havia boa comida.
Nesses tempos, os pastores saíam de
manhã cedinho e regressavam ao fim da tarde aos bardos. Depois de muitos
quilómetros percorridos, tinham de arranjar forças para tratar das ordenhas,
das cabras prenhas e dos seus cabritos. Era uma actividade muito cansativa e
tinha que ser realizada todos os dias, mesmo naqueles que a vontade não era
nenhuma.
O pastor era muito respeitado na
aldeia e o seu trabalho foi sempre valorizado, mas nunca recompensado
economicamente. Ser pastor era trabalhar sem horários, sem férias, sem folgas
ou sem pausas para café. O pastor contentava-se com o bornal e a borracha
espanhola, pão e vinho para todo o dia.
A família tinha as cabras e a
obrigação era tratar do rebanho, aproveitar o leite, vender algum cabrito ou cabra
e conservar as peles para depois as vender no dia em que o comprador aparecesse
lá em casa.
Penso que é esta a imagem que as
pessoas de Malcata mantêm nas suas memórias e que ser pastor é mesmo assim.
Que dirão os mais velhos quando
ouvirem falar de jovens engenheiros zootécnicos, biólogos ou com outros cursos
universitários, que querem dedicar-se ao pastoreio de animais nas nossas
serras? Já pensaram quem e como se vai desenvolver o rebanho de cabras que a
junta de freguesia anda já a construir? É urgente e importante sensibilizar
toda a população para o que está a nascer. A instalação daquele rebanho não é
um passatempo, não é uma brincadeira e só fará sentido se for feito para criar novos
postos de trabalho, novas fontes de rendimento económico, se desenvolver o
próprio turismo rural, no fundo, o rebanho ser uma das alavancas do
desenvolvimento económico e social da freguesia, aumentando o bem-estar e a
felicidade dos malcatenhos, como comunidade e povo unido e não apenas a
alimentação de egos pessoais. A freguesia tem nas mãos uma forma de mostrar ao
mundo e aos senhores doutores de gabinetes que os malcatenhos aprenderam a investir,
a produzir e a acreditar no futuro.
José Nunes Martins
Comentários
Enviar um comentário
Comentários: