MALCATA: MEMÓRIAS E RAÍZES
MALCATA: MEMÓRIAS E RAÍZES DA IDENTIDADE
A Sexta Feira Santa era a noite mais triste do ano em Malcata. Ao princípio da noite todos iam ao enterro de Jesus Cristo. Lá dentro da igreja o ambiente ficava muito pesado, altares tapados de um tecido roxo,
sacrário aberto e vazio, um enorme caixão de madeira, em cima do altar era o foco central. Lá dentro jazia o corpo de Cristo, aquele que estava o ano todo no altar-mor da nossa igreja, nesta noite de Sexta-feira Santa, retiravam-no da cruz e era depositado dentro do caixão que seria transportado em procissão pelas ruas da aldeia. A procissão saía da igreja e entrava na Rua da Ladeirinha, seguia pela Rua da Moita, descia pela Rua da Tapadinha e ao chegar à Rua da Fonte, voltavam em direcção à Torrinha, Rua de Baixo e entravam na igreja. Tudo nestas cerimónias eram muito tristes, as mulheres vestiam-se de roupas escuras, pretas mesmo, cobriam a cabeça com lenços e até os cânticos eram de morrer.
Penso que a procissão parava duas ou três vezes para marcar alguns passos desta cerimónia. Numas escadas ao início da Rua da Moita, paravam o enterro e acontecia aquele doloroso encontro entre uma Mãe que vê o Filho a caminho do túmulo. Tudo era difícil e o povo sentia piedosamente aquela trágica e incompreensível morte, os homens que transportavam o caixão, tinham que descansar várias vezes com a ajuda de umas galhas de pau, dado o peso que levavam aos ombros.
Neste dia não há missa, não se tocam os sinos. As pessoas foram avisadas pelas matracas tocadas três vezes à volta do povo.
As pessoas saíam da igreja num silêncio assustador e sem grandes conversas recolhiam às suas casas. Ele morreu e há que respeitar!
Em Malcata, uma aldeia muito religiosa e tradicional, obedecia piamente às orientações do senhor prior.
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