UMA RAÇA EM PERIGO


É uma corrida contra o tempo para que os últimos herdeiros de uma raça de origem beirã não desapareça por completo das encostas da Serra da Malcata. Há uns anos atrás, estes animais eram uma presença habitual nos montes da aldeia de Malcata. O ano passado ainda encontrei o Ti Horácio e a Ti Ana com as suas cabras “charnequeiras” a caminho das pastagens. Nessa altura, este casal pôs-me ao corrente do interesse manifestado pela Junta de Freguesia em arranjar maneira de voltar a aumentar a presença destes animais nos montes e vales da aldeia, pois, trata-se de animais oriundos de uma raça autóctone e que estava em risco de acabar.
   Como sabem, na nossa aldeia, a cabra sempre foi um animal amado por todos e para além dos rebanhos, todas as famílias possuíam 2 ou 3 animais, deles obtendo uma excelente carne, um leite de qualidade ímpar utilizado para o transformar em queijo. E é de salientar a grande importância que estes queijos têm hoje para o desenvolvimento sócio-económico  das pessoas da nossa aldeia.É um produto que quando bem explorado, por exemplo, com a queijaria tradicional de Malcata em pleno funcionamento, levaria à continuação e manutenção desta raça autóctone e servia para manter uma actividade agrícola com ganhos para todos. Para além destes benefícios, promovíamos a imagem da aldeia e até se criariam postos de trabalho.
   Numa das minhas últimas idas à aldeia, a Ti Ana informou-me que as cabras tinham sido vendidas ao Ramalhas. Mesmo sem eu perguntar as razões que a levaram a vender os animais, disse-me que a saúde já não era muita e os anos não param de andar, era chegado o momento de ter uma vida mais sossegada.
   Naquele dia não tive coragem para lhe perguntar mais razões da razão de se ter “desfeito” das cabras. Fiquei parado no meio da rua enquanto no meu pensamento saía uma pergunta: deixaram que vendesse as cabras charnequeiras assim sem mais nem menos? Souberam do negócio? Porque razão não avançaram com aquele projecto de vedar uns terrenos lá para a serra e por lá andariam as cabras? Mas afinal, eles tinham ou não interesse em preservar esta raça de cabras tão ligadas à história da aldeia e da serra?
   Acreditem, ainda hoje ando com estas dúvidas na minha mente. Continuo a pensar na enorme falta de oportunidade desaproveitada para se conseguir reintroduzir uma raça autóctone nos nossos montes da aldeia e na serra da Malcata.
  Ainda vamos ganhar esta corrida? 
  Eu gostava que sim.


 

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