O HOMEM PRIMEIRO NASCE E DEPOIS CRESCE

Dr.Levi Guerra

UMA GRANDE FALTA DE DESCERNIMENTO!

Vejo a “intelligentia” portuguesa dividida e confusa! Dum lado e do outro vejo juristas, historiadores, cientistas, filósofos, teólogos, médicos (mesmo obstetras), jornalistas, políticos, cristãos, e muitos outros... Isto é uma enorme confusão, e causa a perplexidade das gentes. Impõe-se, pois, um discernimento colectivo que é a sensata atitude de todos se centrarem no problema nuclear em questão e esse problema é o do direito da vida humana e, portanto, arrasta a inevitável e decisiva necessidade de se definir quando é que essa vida humana começa, o que equivale a dizer quando é que aparece a pessoa humana no percurso do seu desenvolvimento para ter uma “duração”. Ora toda a“duração” tem um começo e um fim! Ninguém melhor que o médico com formação biológica cientificamente bem alicerçada poderá perceber porque é que a vida começa com a fecundação do óvulo da mulher pelo espermatozóide do homem, a formação do ovo, onde essa vida, traduzida numa espantosa actividade celular, como que irrompe com um dinamismo único, e contendo ao mesmo tempo todo o património biológico que se vai imediatamente desdobrar na multiplicação celular que não mais termina enquanto o novo ser durar, até à morte, antes ou depois do nascimento. Não são os critérios exteriores da forma (o montão das células vivas que um médico disse não ser um ser vivo!), nem das dimensões, nem, na precocidade da idade, da ausência de funções as mais diversas –das racionais às motoras como bem acontece na altura do nascimento e durante muito tempo ainda – que define a natureza do ser em desenvolvimento mas os seus caracteres intrínsecos, quer corporais, como é o seu património genético, quer espirituais, concretamente a sua alma que está lá desde o início, senão não haveria vida!Todos sem excepção tem a obrigação de partirem deste ponto central: há vida desde o Ovo ou Zigoto, essa vida é humana porque nem é dum vegetal nem de um qualquer outro animal, e existe na totalidade do ser que, a partir desse estádio, apenas precisa de se alimentar para se desenvolver, crescendo e exprimindo progressivamente as suas faculdades ao ritmo da diferenciação das estruturas específicas para cada função e que não aparecem todas ao mesmo tempo. Por isso, há, aí no Ovo, vida humana num ser que já é corpo vivo, com Alma, um corpo diminuto porque é uma célula! Portanto, UMA PESSOA HUMANA! Quem pensa que assim não é? Os físicos que não contestam que os átomos também são matéria? Lamento que haja médicos e cientistas que digam o contrário disto. Afirmo. A discussão seria para outros tablados! E depois há o lugar para a discussão com os outros agentes intelectuais para se evitar a confusão que reina e é inadmissível! Digo que, postas as coisas no cerne nuclear apontado, deixaria de haver a discordância entre juristas ilustres nas suas posições públicas, no que se passou de dissonante, para não dizer fracturante, na votação do Tribunal Constitucional. O problema da despenalização da mulher, desprotegendo o ser humano mais frágil, o filho, é liberalizar o aborto, ou seja, dar o direito a alguém de pôr fim a uma vida humana.
ORA O FUNDAMENTO DE TODOS OS VALORES É A VIDA HUMANA. Esperaria que os teólogos cristãos, por outro lado, penetrassem nas fontes bíblicas e da tradição cristã e falassem do que lá se contém e de lá deriva, e o revelassem enquanto sabedores disso, ou devendo sê-lo. Mais naturalmente para os que, sendo teólogos católicos, respeitassem a posição da Igreja também nesta questão pensando que Ela, mais que eles próprios, toma sempre seriíssimos cuidados de aconselhamento biológico nas matérias sobre que se pronuncia, e nunca actua de forma arbitrária e leviana, muito menos obsessiva ou fanática. Não fazendo assim, esses teólogos revelam um mau espírito de desamor, de desconfiança e de desrespeito à Igreja, e um abuso infundado de se pronunciarem sobre o que não podem por eles próprios saber, para mais não revelando fontes credíveis de informação. São uma contradição viva e lamentável! Aos filósofos, reprovo que tomem a definição da vida à sua conta. Seria de sua matéria sim discutirem sobre a natureza da alma humana, e sobre o conceito de “duração”; seria adequado, e certamente útil, que aprofundassem essa noção de “duração e a aplicassem ao problema do início da vida, porque ajudariam a reflectir sobre essa noção que é importante. Virem, porém, falar de que “um embrião às dez semanas ainda não é um ser humano por incompletamente formado”, é um erro de concepção aberrante e reprovável. Para mais sendo-se professor universitário e padre católico. Ora esta grande fractura na “intelligentia” nacional sobre matéria tão grave quanto decisiva – o respeito pela vida humana – obriga a um acto de discernimento imediato sobre como é gravíssimo desprezar-se a vida de um novo ser humano, pequenino e indefeso, e dando-se, ao mesmo tempo, a outro ser igualmente humano, a mãe, o direito de o matar com toda a impunidade. Discernimento sobre o respeito ao fundamento de todos os valores que é a Vida Humana, repito. Discernimento que será sempre o procedimento adequado, em qualquer assunto, para se descobrir o exacto juízo sobre a questão essencial em causa e poderem assim ser modedos os arrufos de raciocínios pseudo-lógicos, de academismos frios e penetrantes mas falaciosos, de impulsos afectivos sensíveis mas inaceitáveis e condenáveis - aliás solucionáveis por via duma solidariedade social oportuna e eficaz, a grande medida da responsabilidade do Estado-, por conceder o direito à mulher de, mesmo indiscriminadamente, poder matar o filho que em si está, sem ter de dar qualquer justificação. A falta de discernimento foi na história humana a base do cometimento das maiores loucuras. Salvemos o nosso País, desta! Debrucemo-nos todos sobre o que se passa nos países onde a liberalização do aborto foi legislada. Avaliem-se as tragédias lá acontecidas. E, espanto dos espantos! Haverá, depois, quem ainda afirme que seguir-lhes o exemplo na despenalização do aborto é um acto civilizacional?! Disse bem aí um reputado historiador ao referir há dias que Portugal foi sempre um País de imitadores, e deu a isso um pendor bem negativo! Mas agora caiu no mesmo “pecado” que condenou. Por isso vai pelo Sim. Afinal, ele também é português! O homem é um mistério. Sobretudo os inteligentes, e vaidosos!
In,OPrimeirodeJaneiro,4/02/2007
Dr.Levi Guerra,médico Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Médico de Medicina Hospitalar

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