ONTEM FUI À MISSA DO GALO

Fogueira de Natal em Malcata



 

   Aquela noite era marcada pela Missa do Galo, pela fogueira no adro da igreja, pelas filhoses e pelo frio fora das casas. As noites eram muito frias, algumas vezes chovia ou nevava e as pessoas procuravam aquecer-se antes de entrar na igreja. A porta ficava aberta, pois era com o calor da fogueira a arder no adro que se aquecia o Menino Jesus, que tinha acabado de nascer na manjedoura.
   A fogueira de Natal costumava ser da responsabilidade dos rapazes que nesse ano já tinham sido chamados à inspecção militar. Nos dias anteriores a 24 de Dezembro pediam os carros de vacas a quem tinha e iam para as tapadas arranjar troncos de castanheiros velhos e já secos, giestas, matos mais pequenos e traziam toda essa lenha para o adro da igreja. Nesses tempos não havia os tractores e a Junta de Freguesia também não tinha nenhum. O trabalho fazia-se todo manualmente e como havia muitas pessoas a viver na aldeia, os campos andavam muito mais limpos, o mato e os troncos escasseavam e os rapazes tinham alguma dificuldade em arranjar lenha em quantidade suficiente que desse para fazer uma fogueira grande e que aguentasse toda a noite a arder. Para ultrapassar essa dificuldade havia que ir à procura de paus e tudo o que ardesse. Na tarde de 24 à medida que as horas passavam os lavradores da aldeia tinham a preocupação de guardar as cargas de lenha que tinham nos currais e tratavam de a acautelar dentro da loja ou no palheiro, pois sabiam que os rapazes lhes iriam pedir para dar lenha para a fogueira. Sempre deixavam alguns paus para contribuir, mas guardavam a melhor. Mas quando a rapaziada pedia lenha e o dono da casa não dava, ou os enxotava, os rapazes iam embora dali para outra casa. Mais tarde, regressavam e encontravam sempre alguma coisa para levar, podia ser um portão de madeira, uma cancela, a rabiça do arado, umas tábuas velhas, pois as pessoas se queriam ter fogueira de Natal, tinham de contribuir com a oferta de lenha. Havia algumas zangas e troca de palavras, mas no fim todos compreendiam estas atitudes da juventude.
   Depois da Missa do Galo as pessoas rodeavam a grande fogueira e ali permaneciam a conversar, a recordar outros anos e outros natais. Os rapazes juntavam-se às raparigas e cantavam canções tradicionais acompanhadas do acordeão. Apareciam chouriças, morcelas, pão, vinho e seguia a festa que terminava com uma ronda a pé pelas ruas e sempre a cantar as populares músicas de Natal.
   Esta forma de celebrar a noite da Consoada ainda hoje acontece na aldeia. Ainda se faz a fogueira e pelo que sei, é tarefa para os rapazes e homens adultos, que com ferramentas e máquinas recolhem a lenha e numa tarde tudo fica prontinho para arder. Cá para mim, as mulheres não aparecem porque ficam em casa a fazer as filhoses…
   Que o Natal seja celebrado por todas as pessoas da nossa aldeia, também por todos os malcatenhos espalhados pelo Mundo. Que o Natal seja sinal de vida, de ternura, de amor e de esperança. Alegrem-se os céus e a terra…

 

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