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sexta-feira, 30 de maio de 2025

BEM VINDOS A MALCATA

 

Rio Côa



   Ainda não passou muito tempo em que muitos dos nossos avós e pais eram analfabetos. Mesmo depois de haver escola em Malcata, havia muitas crianças que não frequentavam a escola e viveram a sua vida até ao último dia, sem saber ler e escrever.
   Isto justifica ainda hoje o estado cultural e económico do nosso povo. A subordinação dos mais fracos pelos mais fortes, poderosos e que sabiam ler e escrever, que ao longo do tempo construíram barreiras invisíveis, mas permanentes. 
   Alguns destes erros foram corrigidos outros não tiveram remédio e também permaneceram durante muitos anos.
   A aldeia de Malcata tinha uma única estrada para entrar e para sair. O rio Côa era mais uma barreira e não unia os de cá com os de lá. As pontes não existiam, só os pontões e poldras. Nenhuma destas ligações permitia a circulação de automóveis ou mesmo carros puxados por uma junta de vacas. Quando os lavradores se afoitavam a atravessar o rio para a outra margem, faziam-no nos sítios de menor caudal de água e
com maior segurança nas épocas de maior calor.
    E o povo de Malcata aguentou o isolamento, uma única estrada e uma única ponte que unia as duas margens da ribeira que passava pelas terras do Bradará, em direcção ao Rio Côa. Foi assim que a nossa aldeia saiu do beco em que estava, porque as saídas que havia para Quadrazais e Meimão, eram caminhos de passagem para as terras de cultivo e só iam até certo ponto, seguindo depois pelos carreiros que os animais de carga serpenteavam até chegar às duas povoações vizinhas de Malcata.
   A abertura da estrada florestal, conhecida também pelo nome de Caminho Rural, que liga Malcata ao Meimão e a Quadrazais, acabou com o beco sem saída. Duas novas saídas que resolveriam as dificuldades (na opinião geral), o isolamento, a vinda de pessoas de outras terras, mais negócios e mais entreajuda, não passou de uma miragem.
   Os tempos estão a mudar e agora quem não for de Malcata e desejar casar com uma moça malcatenha, está livre de pagar o dote de outros tempos. Não há fronteiras, nem portas fechadas com trancas e qualquer pessoa que, venha a Malcata, se vier por bem,
venha ela e mais cinco dos seus amigos.


Caminho Rural para Quadrazais

terça-feira, 27 de maio de 2025

A PISCINA DE MALCATA

 

No princípio foi assim em Malcata
                                                                         

   O caso que vos trago aqui é o que diz respeito à praia fluvial. Sim, e bem, a Junta de Freguesia teve a ideia de construir uma praia fluvial. Então porque se deixou a ideia de “praia fluvial” e ser Zona de Lazer? O que falhou? A piscina flutuante foi saudada por toda a gente e até 2019 era a estrela da “praia fluvial de Malcata”.
Deve ter acontecido coisa muito gravosa para desde a pandemia não regressar às águas da albufeira. Aconteceu o que aconteceu e daquilo que eu conheço, ou seja as pessoas da aldeia, lamentam, e com razão, já que a piscina foi abandonada à sua sorte, como as imagens mostram. Ora o que se passa é que, de uma forma resumida aquilo não se trata de uma praia fluvial, mas sim de uma Zona de Lazer, porque o Plano de Ordenamento da Albufeira do Sabugal não permite estruturas sobre as águas naquela área próxima da ponte porque é uma área de protecção
às estruturas e à segurança das pessoas.
   Infelizmente, os habitantes da nossa aldeia não se interessam e delegam todas as decisões e discussões na Junta de Freguesia. Há muitos anos que esta regra está estabelecida na freguesia e ninguém parece preocupar-se, nem sequer se manifestam publicamente do seu descontentamento sobre a forma de trabalhar dos senhores da Câmara e da Junta. Até hoje, todas as minhas análises e todos os alertas que lancei, não deram em nada e não mudou para melhor. E sendo um espaço maravilhoso, que todos elogiam, tudo podia ser diferente com a construção do tão falado e já prometido paredão. Com essa obra feita com responsabilidade,
Malcata passava a desfrutar de um lago com água permanente, as estruturas de segurança da barragem ficariam fora desse lago, logo desapareceriam as restrições e a piscina flutuante podia ser instalada de novo.
   Termino com a publicação de uma das promessas que foi feita publicamente aos malcatenhos em 2021. Leiam devagar e tirem as conclusões.

Promessa de Vítor Proença em 2021


quarta-feira, 14 de maio de 2025

MALCATA: A PROCISSÃO VAI NO ADRO

                                                               Igreja Paroquial e adro em Malcata
 

   A requalificação do adro penso que é pacífica para a maioria das pessoas de qualquer aldeia. E no caso do nosso adro da igreja paroquial, vai ficar mais amplo, mais desafogado e mais aberto e coloca a nossa igreja mais em harmonia com o espaço envolvente.  Para que isso seja assim, os familiares que eram os donos legítimos da casa que vai ser demolida, por muitas saudades e nostalgias possam ainda sentir, merecem um agradecimento e consideração de todos.
   Quando foi apresentada a ideia da requalificação do adro, todos os que participavam na reunião concordaram e apoiaram a iniciativa. A intenção e as ideias para as obras que ali irão decorrer, devem ser coordenadas por pessoas credíveis e com experiência na área de planeamento e arquitectura. Um dos elementos que vai fazer parte das obras é uma escultura alusiva aos carvoeiros de Malcata. Esse elemento tanto pode ser uma estátua, como até um painel exposto e integrado num suporte, por exemplo, na parede da casa que vai ali
continuar a existir e que tem entrada pela Rua da Ladeirinha. Assim se pode transformar o adro valorizando o património da freguesia. Como sabem, o adro noutros tempos era o palco das festas, da arrematação de bens para as pagar, era lugar de encontro e conversas. Hoje é um espaço vazio, confinado e sem grandes vistas para o horizonte. Tal como no passado, acreditamos que depois das obras,
voltaremos a ter ali um espaço de encontro, de conversas, de manifestações culturais.
   O adro para além do seu símbolo religioso que representa, ao ter melhores acessibilidades das pessoas à igreja, à Casa Mortuária e sanitários, vai também servir de homenagem aos carvoeiros, uma das actividades que tanta dinâmica e importância trouxeram à freguesia.
    O primeiro passo já foi feito com a compra da casa que vai ser demolida. O local já mereceu a visita de uma arquitecta credenciada e bem-conceituada neste género de obras. Depois de reunir com a AMCF e a Fábrica da Igreja, estando presentes todos os membros, incluindo o sr. Padre Eduardo, mesmo debaixo da chuva, fomos visitar o lugar e recolheu informações e imagens, que mais tarde a ajudarão na elaboração do projecto. Falta só dizer o nome da arquitecta que, achamos ser uma boa escolha: Andreia Garcia Rodrigues.

terça-feira, 13 de maio de 2025

MALCATA É O REFLEXO DE SI MESMA


  

   Não basta chegar a presidente, a secretário ou tesoureiro da junta de freguesia ou ser membro da assembleia de freguesia. E não basta ir às sessões da Assembleia de Freguesia. Há que fazer mais do que marcar a presença física nas reuniões. É preciso estar motivados para resolver os problemas da nossa comunidade. E entre os vários problemas que hoje enfrentam os cidadãos é a falta de informação nas redes da internet. Não há forma de ignorar a sociedade em que vivemos. Hoje, a internet é o veículo que tem capacidade de levar as boas e as más notícias às comunidades. A ausência das Juntas de Freguesia na internet deve ser motivo de protesto dos cidadãos da freguesia. As instituições políticas e administrativas públicas, como são as autarquias, são mais importantes e mais fortes que as acções dos que exercem os lugares do Poder Local Administrativo, nomeadamente as Juntas de Freguesia.
   A confiança e a transparência são essenciais para garantir que todos se sintam bem representados e informados. Uma Junta de Freguesia é essencial para a construção de uma sociedade democrática, livre e deve construir pontes que aproximem os cidadãos. E nas freguesias como Malcata, a Junta de Freguesia continua a ser uma instituição respeitada por todos. Da mesma forma, quem nela trabalha, está ao serviço dos cidadãos. Na minha opinião, um dos melhores exemplos de confiança na Junta de Freguesia é confiar nas pessoas que se voluntariaram para servir a comunidade. E nunca deve ser banalizada e devia ser
uma preocupação constante manter os caminhos e as pontes ao serviço da democracia participativa.
   A verdade é que em Malcata, e mais precisamente nos últimos mandatos, o que acontece é que se ignora o papel da informação, o valor da transparência e banaliza-se tudo ou quase tudo aquilo que não nasça no berço do poder. Facilmente esquecemos o papel da Junta de Freguesia e até parece que não existem caminhos e pontes que nos permitem viver em liberdade.
   O povo merece ser respeitado e quem governa esse povo tem de se dar ao respeito. Como cidadão e malcatenho não posso aceitar tanta falta de comunicação e informação de interesse geral para quem vive na freguesia e quem vive mais distante. Os valores alcançados com o 25 de Abril de 1974 têm de ser valorizados e praticados todos os dias. 

   Quando é que Malcata tem motivos para sorrir?
   Quando é que em Malcata vamos ter uma Junta de Freguesia empreendedora, sonhadora e cortês, transparente, a governar com empatia e elevação?
                                               
                                                     José Nunes Martins

sábado, 3 de maio de 2025

O GRANDE APAGÃO

                             


   A vida das pessoas está dependente de muitas interligações e comunicações. Todos gostamos de ver o chão que calcamos, seja de dia ou de noite, num quarto de hotel ou na sala lá de casa.
O que aconteceu, no passado dia 28 de Abril, foi que a luz eléctrica falhou e todo o país ficou em choque, sem electricidade, tudo foi falhando c desmoronando com se fosse um castelo de cartas. Fui à rua saber as razões de não podermos acabar de estufar a carne que eu já havia provado e que ainda precisava de mais cozedura até ficar no ponto rebuçado.
   Portugal estava sem energia eléctrica, quem a tinha é porque estava ligado a um gerador ou carro eléctrico com 100% de carga nas baterias. Os corredores de casa e o WC entrávamos devagarinho aos apalpões até sentir que já nos orientávamos. Os vizinhos, coitados, um casal jovem, que vinha com as sacas cheias de compras do supermercado, olharam para as portas
dos dois elevadores e viram o sinal vermelho, ambos avariados e ali parados no rés do chão. E agora? Perguntaram um ao outro. Sem elevadores, há que ganhar vontade e força para chegar ao 5º Esquerdo Frente. Não tinham outra alternativa e iniciaram a subida sem mais comentários.
    Há muito que não vivia coisa igual, mas se a máquina do tempo pudesse voltar aos anos de 1968, 1969. 1970, em muitas aldeias deste nosso país, que hoje tanto se orgulha das energias verdes, seja produzidas pela velocidade dos ventos e o calor dos raios solares, apagões eléctricos, eram tantos que não têm conta e nem sequer ficaram registados. No Inverno, o frio, a chuva, a neve e o vento forte ou um trovão mais forte, era suficiente para apagar as lâmpadas e nada do que estivesse ligado às tomadas funcionava. Como nesse tempo não havia telemóveis, não havia internet, o povo da aldeia aguardava que a luz voltasse. Estes apagões não eram assim tão assustadores como o do 28 de Abril. As lâmpadas não acendiam e durante o tempo que demorasse a chegar a luz, as pessoas descansavam, sentavam-se ao lume e faziam caraba uns aos outros, iam continuar o trabalho no chão e no pior dos cenários, ao fim do dia quando chegassem a casa, quem sabe a luz já tinha voltado. Os constrangimentos causados pela falha da luz aceitavam-se como normais e até compreendiam que quando estavam os emigrantes na aldeia, o consumo aumentava logo e sobrecarregava a linha que não aguentava, queimava os fusíveis da cabine, a única que distribuía a luz para toda a aldeia.
   Até nestas coisas, nas falhas de luz, quem vive ou viveu numa aldeia do interior do nosso país, foi achando normal isso acontecer.
   Se a luz faltava, a vida na aldeia continuava e tudo ficava igual, só não acendiam as lâmpadas. Muitos nem deram conta que houve um grande apagão, trabalharam como noutro dia qualquer.