11/02/2019

A VISITA DA SAGRADA FAMÍLIA EM MALCATA

Sagrada Família 1



   Vem de muito longe a tradição em Malcata, em que as imagens de São José, de Nossa Senhora e do Menino Jesus, devidamente resguardados num pequeno oratório, percorrem as casas da aldeia numa verdadeira manifestação de fé.
  

 “No princípio havia só uma imagem. Como muitas pessoas queriam ter a “Sagrada Família”, decidiram comprar outra. Há menos pessoas que pedem para receber as imagens, pois em Malcata ainda existem duas. Habitualmente a permanência da Sagrada Família em cada casa era de 24 horas e no seu percurso, as pessoas vão colocando esmolas num pequeno compartimento. Após ter circulado em todas as habitações, uma zeladora encarrega-se de recolher as ofertas que, por sua vez, as entrega à paróquia para obras de caridade.
   
Sagrada Família 2



   





Com a população a diminuir, com muitas casas fechadas por motivos de ausência dos seus proprietários e ainda por muitas das pessoas não mostrarem interesse em receber a Sagrada Família, a mesma acaba por estar dias seguidos na mesma casa.





Oração à Sagrada Família

   Em conversa com uma das pessoas que recebe a Sagrada Família vi que precisa de um restauro, é que os anos já são muitos e as imagens, principalmente a do S.José, tem que ser reconstruida. Dado a antiguidade destes dois santuários móveis e da sua importância
patrimonial e religiosidade merece que se cuidem deles. Quem sabe de alguém que possa resolver esta situação? As zeladoras agradecem.

                                                                         José Nunes Martins
                                                                      josnumar@gmail.com




07/02/2019

MALCATA: UM BÊCO SEM SAÍDA?



     


  A ideia foi apresentada à entidade parceira. Com ela pretendia-se que naquele dia fosse uma excelente oportunidade de negócio para quem os tem. A nossa aldeia necessita de vida, de visitantes, de iniciativas que tragam e acrescentem valor. Quando se planeia um projecto para a nossa aldeia, que vai envolver cerca de 80 pessoas, jovens estudantes universitários e seus professores, que vêm pela primeira vez conhecer o espaço e tudo aquilo que pode ser incluído no “trabalho universitário” e que contribua para uma nota de excelência, nós, os que nos dizemos malcatenhos, só temos de recebê-los bem, como se cada um desses jovens fosse à casa de cada um de nós. Mostrar alegria, convidá-lo para a mesa, conversar um pouco enquanto se vai comendo.
Sendo os malcatenhos bons anfitriões, sei que logisticamente falando, ía ser uma trabalheira para todos serem bem recebidos nas casas. Por isso, pensámos noutra ideia mais leve e mais vantajosa, principalmente para o comércio local da nossa aldeia. E a ideia do José foi-me revelada e com ela concordei, vindo até a enriquecê-la com umas achegas. O plano estava definido e apenas estava a faltar a aprovação por parte da outra entidade, com quem estava acordado, previamente e atempadamente, o seu apoio incondicional ao evento.
  Então qual era a ideia que tanto gostei de ouvir? Ora bem, fizemos uma análise ao que temos na aldeia e a conclusão foi que não há restaurante para dar de comer a tanta gente. Ora sabendo nós que existe um espaço com condições para a refeição, outras vezes já utilizado para almoços, jantares e outros convívios, o salão da freguesia ( e sede da ACDM) era uma boa escolha. Quanto à refeição propriamente dita, acordávamos com os comerciantes locais a forma de eles serem os fornecedores da comida, bebidas, sobremesas, cafés…num dia, trabalhando em rede, ganhávamos todos alguma coisa, principalmente os proprietários dos cafés e mini-mercado. Que bom, pensei eu para mim, isto é a “economia circular” a funcionar! Vamos então ao trabalho e dar corda aos sapatos para que tudo esteja pronto na data que for. Até o mês de Fevereiro já tínhamos apontado como o ideal para alunos e professores, ficou apenas o dia por confirmar pela universidade e os parceiros de Malcata encarregar-se-iam do transporte e toda a logística necessária (comes e bebes…).
  Que vos parece esta nossa ideia? Tem ou não pernas para andar? Tem ou não vantagens?
 
                                                                                  José Nunes Martins
                                                                                                                                         (josnumar@gmail.com)




04/02/2019

PARTICIPAR E RECLAMAR

Voar e sonhar é preciso

                                  

   A maior parte dos habitantes da nossa freguesia desconhece ou anda mal informado sobre as competências da nossa junta de freguesia. Basta pensar na participação dos cidadãos nas Assembleias de Freguesia, onde o povo não aparece, mesmo quando há assuntos importantes para a comunidade. Outro indicador desse desconhecimento e desinteresse é o elevado número de pessoas que não vota. Em 1976 dos 306 inscritos, votaram 183 e abstiveram-se 123, ou seja 40,20%. Quarenta e um anos depois, nas últimas eleições autárquicas, realizadas em 2017, dos 435 inscritos, votaram 237 e 198 abstiveram-se, fixando-se a abstenção nos 45,52%. Outro indicador que nos leva à conclusão que os malcatenhos desconhecem as competências da junta de freguesia diz respeito à baixa procura e às poucas reclamações escritas recebidas na junta. Até prova em contrário, penso que o número de reclamações é bastante inferior ao número de pessoas descontentes, insatisfeitos com o desempenho da autarquia. Simplesmente vivem afastados e resignados, deixando nas mãos da junta de freguesia a tarefa de olhar pelo bem comum.
   Este afastamento e desinteresse para com o poder local justifica-se pela falta de ligação entre os malcatenhos e a junta de freguesia. Esta, por seu lado, parece padecer da falta de sensibilização para aumentar a participação cívica dos seus fregueses. Mesmo depois de verificar a não participação dos cidadãos, por exemplo, nas Assembleias de Freguesia, nas inaugurações de exposições, nada faz para alterar essa situação, dando até a ideia de que até é bom que as coisas continuem assim. A cooperação e a participação da população devem ser estimuladas e cultivadas. Os órgãos do poder local devem procurar encontrar um caminho e estimular o cidadão a participar, a promover e a reclamar sempre que necessário.
   Os malcatenhos têm necessidades comuns e que todos gostariam de ver satisfeitas. A primeira coisa a fazer é saber quais são essas necessidades comuns a todos? Identificar essas necessidades é responder a estas perguntas: “Quem?” “O quê?”, ao “Como?”, a “Onde?” e ao “Quando?”.
   Portanto, caros malcatenhos, é tempo de identificarmos as necessidades da nossa freguesia e dar-lhes o seguimento devido.
   Os cidadãos de Malcata necessitam de sonhar que são capazes de voar, de ver na nossa aldeia aquilo que a define como “um lugar especial”, uma aldeia reconhecida pelo valor das coisas e das pessoas, é disso que mais necessitamos.

                                                                                José Nunes Martins

18/01/2019

CIDADANIA PARTICIPATIVA PRECISA-SE

Concerto de Natal 2018, igreja de Malcata


   A nossa aldeia deveria ser o orgulho de todos os malcatenhos e defendida como se fosse o nosso jardim de eleição entre todos os outros das outras aldeias do país.
   Cada roca tem o seu fuso, lá diz o povo. Eu diria que cada aldeia tem o seu próprio jardim, isto é, a sua própria história, os seus usos e costumes, o seu quintal mais bem arranjado e que todos gostam.
   Como acontece com os jardins e os quintais, quando não são devidamente cuidados, quando não colocamos amor e dedicação no nosso quintal, estamos a colocar em risco de perdermos o que resta da nossa terra, porque a estamos a abandonar à sua sorte. Malcata não está morta, mas está cada vez mais frágil, desprotegida, deserta de gente culta e trabalhadora.
   Constato que durante estes últimos anos, com muita tristeza e preocupação, que em Malcata reina o desconforto e o alheamento da participação das pessoas no que a eventos culturais diz respeito. Sinto que poucos são os interessados em participar nos vários eventos culturais que se vão realizando na nossa freguesia. Uns porque não lêem os cartazes distribuídos pela aldeia. Outros porque não têm computador, não têm telemóvel e muito menos internet. Mesmo quando se tem o cuidado de enviar ao pároco da freguesia o aviso dos (s) eventos culturais de pouco adianta, não se inscrevem, não participam e escolhem viver com o que já sabem!
   Expliquem-me por que razão ao longo destes últimos anos, sempre que se organizam eventos de diversão, de tradição sazonal (matança, festa da carqueja, baile de São João e Fim de Ano, etc.), a adesão e participação é tão alta? E mais me espanta as pessoas participarem em determinados eventos, quando a maioria da população residente na aldeia nem sequer foi informada da realização dessa actividade lúdica e com alguma cultura popular. Às vezes dou comigo a interrogar os meus botões em voz baixinha, que área cerebral, gustativa e olfactiva possui alguns malcatenhos ou que “cenoura” os atrai e deixa-os felizes e contentes.
   Todos conhecemos a frase que diz “Nem só de pão vive o homem”. E voltando ao nosso quintal (Malcata), há que cuidar dele com alegria, com amor e com sabedoria. Saibamos todos dar as mãos, uns com uma ferramenta outros com outra. Bom ano 2019.
  

02/12/2018

MALCATA: A FOGUEIRA DE NATAL ESTÁ A PERDER CALOR

  O Natal na minha aldeia sempre foi presépio grande na igreja e uma grande fogueira no adro da igreja. Ainda hoje se mantém essa tradição. A fogueira lembra-me a preparação para enfrentar o frio e a chuva do inverno rigoroso que se sente, mas também um velho costume que cabia aos jovens arranjarem a lenha para a fogueira. Acendia-se antes de começar a Missa do Galo e depois era ao seu redor que ali ficavam as pessoas a cantar, a comer e beber, principalmente jovens rapazes e homens. O ano passado observei durante algum tempo a construção da fogueira. Já não é como era, deixou de ter graça e passou quase a ser uma obrigação assumida pelos mais adultos, talvez para não deixar desaparecer a tradição da fogueira de Natal. Os jovens são ou não desafiados a participar na montagem da fogueira? Não compreendo a sua ausência e o seu pouco interesse em manter esta tradição.
   Antigamente juntavam-se os jovens e alguns, mas poucos adultos, manhã cedo, lá iam com os carros puxados com juntas de vacas em busca da lenha para a fogueira. O malcatenho José Rei escreveu no seu livro Malcata e a Serra esta passagem:
     "Noutros tempos competia aos mancebos que já tinham ido à inspecção militar arranjar os madeiros para a fogueira e garantir que a mesma ardia até ao nascer do sol. Habitualmente, os madeiros (grandes troncos e raízes de castanheiro) eram colocados no adro da igreja com antecedência, sendo a lenha de atear arranjada ao fim da tarde da noite da consoada. Uma vez que a lenha escasseava, quando a hora de fazer a fogueira se aproximava, os donos das casas tratavam de acautelar os paus que tinham nos currais, deixando apenas à vista o molho de lenha, palha ou carqueja que queriam dar. Caso o dono da casa não deixasse contributo, podia haver retaliações gravosas. Casos se contam em que foram arrancados portões de madeira, roubadas e queimadas cancelas, charruas e arados, assim como abatidas cerejeiras e nogueiras, árvores estimadas. A rapaziada também não admitia que alguém se assomasse à janela e ou viesse à porta. Quando tal acontecia, retaliava à barrocada
 
(pedrada)." José Rei defendia que "esta forma estranha de louvar o Menino Jesus integrava uma espécie de ritual de passagem dos mancebos para o estado adulto. Mostravam eles a sua força e determinação substituindo as vacas dos carros. Eles próprios puxavam o carro das vacas".
   Hoje, os reboques e tractores são conduzidos pelos seus donos e o trabalho faz-se num dia. Carne assada, pão e vinho ainda hoje ajudam a terminar a montagem da fogueira.Com o andar das coisas, a fogueira na véspera do dia de Natal terá o mesmo fim que a ribeira e os moinhos.
                             José Nunes Martins
                              
josnumar@gmail.com

TODOS TEMOS UM PONTO DE VISTA

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