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13.11.21

AS CASTANHAS E OS CANIÇOS

 

Os segredos de assar castanhas

  Os dias de hoje já são diferentes de antigamente. A época que estamos a viver que envolve a apanha das castanhas é vivida de forma diferente dos anos 60 ou 70. Nas aldeias onde havia castanheiros, por esta altura do ano, viviam-se momentos de alegria e festa. Em Malcata ainda há bons castanheiros que nos fazem recordar outras tradições que o povo vivia. Mesmo as pessoas que não tivessem castanheiros, não ficavam sem as castanhas. Depois da apanha das castanhas vinha o tempo do “rebusco”. Durante esses dias toda a gente tinha o direito de ir apanhar castanhas onde as houvesse, sem receio de ser repreendida ou acusada de roubo.
  Nesta altura do ano juntavam-se aos grupos de amigos, de vizinhos ou famílias e faziam o magusto, por vezes faziam a fogueira mesmo no meio da rua ou dos largos da aldeia. Não faltava castanha assada com caruma e uma copa de jeropiga para ajudar a empurrar.
  Mas a castanha nesses tempos de miséria tinha um importante lugar na alimentação. Então havia que guardar e poupar para ter castanha durante todo o ano. Durante o tempo frio e neve, nada como pegar num punhado de castanhas e metê-las num púcaro com água e deixá-las cozer para comer, para juntar ao caldudo, muitas vezes a refeição mais forte do dia.
   E para guardar as castanhas durante tanto tempo, os meus pais despejavam-nas no caniço que havia por cima da lareira. Os caniços não era mais do que um estrado de varas direitas e suspensas horizontalmente, mantendo-se afastadas entre elas, mais ou menos um centímetro, a distância suficiente para não deixar furar as castanhas e elas caíssem no chão da cozinha ou em cima da cabeça de alguém. O caniço enchia-se com as castanhas e ali permaneciam a receber o calor do lume até ficarem secas e rijas. Dali iam para um cesto de vergas, o meu pai calçava os tamancos e entrava para dentro do cesto baloiçando o corpo e os pés até a casca sair. O par de tamancos eram especiais e estavam preparados para executar a tarefa de descascar a castanha, que por estar seca e dura, os cravos que preenchiam toda a sola do tamanco, por muito aço que tinham, apenas retiravam a casca às castanhas. Após o tempo da dança dos tamancos, a minha mãe chegava com uma saca de pano para a encher e guardar num lugar seco lá de casa até que um dia chegasse a oportunidade de fazer um daqueles caldudos.
  As pessoas da minha idade, provavelmente como acontece a mim, também se recordam destas coisas de antigamente. Será que ainda existem caniços na aldeia?
  Vivemos num mundo cheio de inovações e de tecnologias.  Tenho orgulho das minhas origens e para mim, escrever estas memórias que eu vivi, são uma singela homenagem a toda essa gente boa da nossa aldeia, que mesmo não entendendo de computadores e telemóveis, nem andam pelas redes sociais, têm segredos e saberes que os ajudaram a viver. Saibamos nós encontrar formas de guardar todas estas memórias e sabedoria dos nossos avós e pais. Dar maior atenção e importância ao espólio e às tradições mais antigas, para que as gerações presentes e futuras nunca esqueçam as suas raízes, é o mínimo que podemos fazer.

Nota: Dia 13 de Novembro vai ter lugar o Magusto 2021, na Associação Cultural e Desportiva de Malcata. Os meus desejos são de que seja uma tarde de festa e são convívio.



10.11.21

COMPARTES DOS BALDIOS DE MALCATA DELEGAM CONSELHO DIRECTIVO NA JUNTA DE FREGUESIA



ASSEMBLEIA DE COMPARTES 
DOS BALDIOS 
DA FREGUESIA DE MALCATA 
Delegou poderes de gestão na Junta de Freguesia

   

Freguesia de Malcata



   A Junta de Freguesia de Malcata assumiu os destinos dos baldios da freguesia. Este ano, foram convocadas duas Assembleias de Compartes, a fim de tudo ficar devidamente delegado. Com o início de mais quatro anos de mandato, a actual junta de freguesia iniciou um ciclo novo como gestor dos baldios da freguesia.

  Como não estive presente nas assembleias anunciadas, supõe-se que as coisas correram como o descrito nas convocatórias. E como não foi divulgada qualquer informação da forma como decorreram as duas assembleias de compartes, creio que a presidência do Conselho Directivo estará sob a responsabilidade do senhor presidente da Junta de Freguesia. Nada a que o povo já não esteja acostumado, pois já antes o Conselho Directivo dos Baldios era dirigida pela junta de Freguesia.
   Agora o importante é trabalhar com os olhos focados no futuro, nomeadamente na concretização da instalação da exploração pecuária que está a ser construída em terrenos baldios. O grande objectivo será fiscalizar esse arrojado projecto das “cabras da serra”, criando assim condições à Assembleia dos Compartes para gerar riqueza e desenvolver a economia local. O facto de se ter convocado uma assembleia de compartes destinada exclusivamente para a delegação da gestão na Junta de Freguesia, é um claro sinal que foi dado no que respeita aos procedimentos normais e legais que havia a fazer. Neste momento o projecto das cabras é uma prioridade e acredito que tudo será feito para dar certo e ser um instrumento apropriado para desenvolver a economia local. Já agora, deixo aqui um pedido de esclarecimento por parte da Assembleia de Compartes: qual o tempo de duração da delegação de competência na Junta de Freguesia como responsável do Conselho Directivo dos Baldios da Freguesia de Malcata?
   Obrigado.
                              
José Nunes Martins

5.11.21

CASTANHAS QUENTES E BOAS

 


   CASTANHAS
   QUEM QUER QUENTES E BOAS?

   A castanha já teve mais importância na alimentação de muitas famílias de Malcata. Noutras épocas, a nossa terra orgulhava-se dos castanheiros e da qualidade da castanha. Eram árvores adultas, de tronco bem grande e uma copa que ia até aos 30 metros de altura. O castanheiro, sempre foi e continua a ser, uma espécie de árvore que dadas as suas características e o seu desenvolvimento, não é espécie de árvore para o jardim de casa, mas que muitas pessoas não se importariam de ter perto. A sua copa frondosa nos dias de calor fascina qualquer amante da sombra.
   No Outono, as folhas amarelecem e os ouriços mudam dos tons verdes para acastanhados. São os sinais da aproximação da apanha da castanha longal, judia, negral, martainha ou avelã, conforme a variedade que a árvore produz.
   Eu gosto de castanha assada. Mas há pessoas que gostam mais de castanha cozida, seca ou pilada, na sopa ou em caldudo, num assado de carne com batata assada e castanha, ou seja, é um alimento muito versátil na cozinha.
   A castanha assada pede um acompanhamento de jeropiga, água-pé ou vinho do Porto. Dizem que se digere melhor!
   Lembro aqueles magustos que se faziam na escola primária e também pelas ruas da aldeia. Com a caruma e as castanhas no meio, deitava-se o lume e esperava-se que assassem as castanhas.  Eram tardes alegres e a criançada brincava ao redor da fogueira e entre duas ou três castanhas assadas, molhava-se a garganta, enfarruscava-se o amigo, o avô ou o pai...uma enfarruscadela não fazia mal e não podia faltar!
   Eu cresci a ver castanheiros por todos os sítios da aldeia. Hoje a paisagem é diferente e esses velhos castanheiros desaparecem e como já são velhos, há que deitá-los abaixo. Esquecemo-nos com muita facilidade os tempos em que davam muitas e boas castanhas.  E elas, as castanhas, são hoje apreciadas como sempre foram. É um fruto que faz bem ao nosso organismo, tem é que se consumir com moderação.
   Boas lembranças...
   Quem quer quentes e boas?
   Quentes e boas!
                             José Nunes Martins