10.3.24

O FUTURO DA ÁGUA EM MALCATA

Há que fazer alguma coisa para a água vir à tona
                         

   A forma de utilizarmos a água na nossa aldeia vai ter que mudar e deve ser uma das prioridades da autarquia melhorar o abastecimento de água para consumo humano à nossa freguesia, bem como a sua utilização na agricultura e nos espaços verdes da freguesia.
   Na nossa aldeia estamos acostumados à abundância deste recurso natural, mesmo durante os meses de mais calor não tem havido constrangimentos para ninguém.
   Mas os tempos são outros e o clima está a mudar. No que diz respeito à água para consumo humano, é do conhecimento de todos que os bombeiros voluntários têm transportado a água num camião-cisterna para encher o reservatório de água para a rede de abastecimento público
da nossa terra. Houve já necessidade de efectuar esse reforço duas vezes por semana. As causas da escassez da água estão relacionadas com as altas temperaturas e a falta de chuva que estão a secar as nascentes naturais.
   Na nossa freguesia há falta de planos para reaproveitar a água, para armazenar os milhões de litros que saem nas duas bicas da fonte, deixando fugir a água ruas abaixo. Podem dizer que não tem havido desperdício, que a água vai acabar por chegar à albufeira. Eu pergunto aos malcatenhos porque deixamos a água correr para a barragem em vez de a armazenarmos em reservatórios para futura utilização pela freguesia, pelos que necessitam dela para as regas?
   Já bastou a obra da barragem do Sabugal que sem dó nem piedade nos deixaram sem rio Côa!
   Não há nada que nos pague esse bem e esse recurso, como era o rio e as terras que o acompanhavam. Lembrem-se que na nossa região só existe água doce e investimentos para aproveitar a água do mar está fora de questão. Ora isso dá-nos argumentos para olharmos para a água que até é natural, de nascentes e também merecemos ajudas financeiras para manter
este recurso tão importante.
   Estes dias li que o concelho do Sabugal fazia parte dos municípios que mais desperdiçava água nas redes de abastecimento público. Os números estão escritos num relatório da entidade que regula a água em Portugal. Chama-se ERSAR e neste documento relatório da ERSAR ficamos a saber que o concelho do Sabugal desperdiçava, em 2022, 70,2% da água. Trata-se de água que existe e que não chega ao consumidor e por diversas razões: rupturas, avarias e desvios. Ora se há dois anos mais de metade da água era desaproveitada, logo não rendia um cêntimo, diz-nos que há muito trabalho a realizar.
   Então como será o futuro da água em Malcata?
   Será que a APAL-SIM (Águas Públicas em Altitude – Serviços Intermunicipalizados) vai resolver os problemas no concelho do Sabugal?
   Deixar de fazer alguma coisa não é opção! Pagar e continuar a pagar a água que se utiliza na rega? É uma possibilidade e sabemos que quem rega com a água dos tanques da Fonte da Torrinha, paga-se uma taxa por cada vez que se esvazia o tanque grande. E está certo que assim seja, pois eu não acredito que haja alguém que se recuse a pagar. Com certeza que na nossa freguesia não vamos brincar aos transvases para outras terras. Por curiosidade, li que os agricultores da Cova da Beira, que regam com a água da barragem do Sabugal, vão este ano pagar mais caro a água para rega! E em Fevereiro houve escaramuças e tubos cortados por desentendimentos por causa da água.
    Deixo aqui um alerta: olhem para as vossas próximas facturas da água e vejam o volume de água consumido e leiam também a segunda página. Digam o que viram e o que pensam.
   Obrigado


    

De 1937-2024 sem parar de deitar água





Ler a factura da água segundo a Deco
      

   

Trabalhos na nascente em Malcata 


                                        
                   Foto CMGuarda -Assinatura da constituição da Apal-Sim

    Saiba mais sobre a nova entidade das águas e saneamento:

   https://capeiaarraiana.pt/2024/02/19/sabugal-integra-sistema-intermunicipal-de-gestao-da-agua/


9.3.24

A NEVE BRANCA E FOFA EM MALCATA



Malcata já andou vestida de branco!
(Pequeno vídeo com neve na aldeia)

    No Inverno a chuva, o frio, o vento, o granizo, a geada e outros fenómenos meteorológicos eram normais em Malcata. E as pessoas da aldeia preparavam-se para estas condições adversas alterando as suas rotinas diárias. Quem ditava as regras do trabalho era o tempo. E que remédio havia se não aceitar trabalhar ao sabor do tempo. 
   A nossa região sempre foi chuvosa no Inverno e muito fria. A neve já caiu muito mais que actualmente. Nevão digno de muita neve há muitos anos que não se sentem nem veem na nossa aldeia.

Lembro-me dos grandes nevões na minha infância, tão grandes que chegavam a aguentar a neve durante semanas. Muita coisa ficava por arranjar, por fazer, não por não quererem trabalhar, mas porque a neve não permitia. A vida na aldeia levava uma reviravolta e só depois da neve derreter é que a normalidade regressava. Já se imaginaram a aguentar um Inverno rigoroso, com muita chuva, vento e neve ou geada ? Aguentar o frio e a chuva numa terra sem luz eléctrica, sem água nas casas, com algumas ruas em terra batida e as águas pluviais a correr valeta abaixo?! A neve chegava aos 50 cm de um dia para o outro. Alguns telhados abatiam com o peso da neve, o gado tinha que ficar encerrado e alimentava-se com feno seco, beterraba, nabos, botelhas...porque não havia condições para ir buscar alimento aos campos. 
                                             
Gelo na pia do chafariz na Rua da Moita.
Onde há água e frio, aparece naturalmente gelo.

   O gelo é um dos grandes contratempos na aldeia. Um descuido e os acidentes acontecem. E escorregar no gelo é perigoso para pequenos e graúdos e qualquer animal. 
   Depois de nevar durante toda a noite a aldeia acordava vestida com um manto branco de neve. Os telhados, as árvores, as ruas transformavam o espírito humano e toda a gente aceitava a situação. Era normal, estávamos no Inverno!
   Como mudou o clima! Continua a chover e a fazer muito frio, mas há muitos anos que em Malcata a neve se tornou mesmo passageira e leve, tão leve que não dá para brincar. Já a geada e o gelo continua a justificar os avisos para se ter cuidado ao sair de casa, ao conduzir viaturas na estrada...porque uma escorregadela em cima de gelo, é meio caminho para uma pessoa se partir todinha!
   Tantas são as memórias de nevões! 

   



3.3.24

MALCATA: AS TRADIÇÕES NA QUARESMA

 


   Estamos na Quaresma, tempo que antecede a celebração da Páscoa.
   São 40 dias de jejum e penitência que os cristãos iniciam na Quarta-Feira de Cinzas e termina na quarta-feira da Semana Santa.
   Durante a Quaresma era proibido realizar bailes e outras actividades que provocassem muito barulho, quem não respeitava estes preceitos, estava a pecar, era apontado como pecador e se não parasse, o seu destino final estava traçado, ia para o inferno ou purgatório. Para o céu estava fora de questão…
   Eu ainda gostava de compreender como viviam a Quaresma antigamente. Há na nossa aldeia gente que se recorda dos costumes nesta quadra carregada de enorme paixão, dor e sofrimento. O que vos marcou mais? Têm saudades desses dias e dias de jejum, só a pão e água? Antigamente, durante a Quaresma, a minha mãe pedia para ir às cruzes, rezar as 14 Estações da Via Sacra. Para mim o ter que ouvir por 14 vezes, o mesmo rosário, numa igreja escura e iluminada só com as luzes das velas de cera, as pessoas vestidas da cabeça aos pés, com roupas negras, lenços pretos nas cabeças, xailes pretos pelas costas, dava mais para chorar que rezar…
   Dos tempos, em que a nossa aldeia pertencia ao Concelho de Sortelha, já não há quem possa testemunhar como passava a Quaresma. Talvez as rezas e orações passassem de geração em geração e é certo que em Malcata, como na maioria das outras terras, a Quaresma celebrava-se mais ou menos da mesma maneira. Seria bom que alguém partilhasse aqui as suas “Quaresmas”, os rituais em que ainda participaram. Não só os costumes e rituais religiosos, mas também os outros costumes, como não podia realizar-se o baile ao Rossio, alguma coisa faziam para passar o tempo!
   Alguém se lembra como era a encomendação das almas? Quem podia ir?
   E que cerimónias mais ficavam marcadas?
   Já quanto aos párocos (senhor prior) do Padre José Miguel não tenho qualquer memória. Seguiu-se o Pe. Lourenço que acompanhei até falecer, pois paroquiou
a paróquia de São Barnabé de Malcata durante a minha infância e juventude, tenho recordações dos rituais quaresmais e outros. Uma tradição muito enraizada nas paróquias do Norte do país e que nunca presenciei em Malcata, foi a Visita Pascal.
   Mesmo depois de terem passado muitos anos, mesmo que o que se faz hoje já nada tem a ver com as tradições antigas, mesmo assim, seria bom reunir estas coisas e tradições, que durante muitos anos foi o orgulho dos nossos antepassados, dos nossos avós e pais. É que se não se fizer nada, lá se vão as tradições para o cemitério e daqui a alguns anos já ninguém se lembra de nada disto. Há coisas que importa preservar, mesmo que seja para arquivo e memória futura, pois devemos continuar a guardar o legado que nos foi transmitido.





 

COMPADRES À CONVERSA

 

Adro da igreja de Malcata

- Então, compadre, donde vens a esta hora?!
- Donde hei-de vir?! Da igreja! Então estamos na Quaresma…e fui cumprir o meu dever, estou a preparar-me para a festa da Páscoa.
- Ui ui, mas ainda falta tantos dias, ainda tens tempo para pensares nessas coisas.
- Pois, tens razão, compadre, mas eu gosto de fazer as coisas com tempo e sem pressas!
- Olha quem anda numa roda-viva e sem paranças, são os políticos. Eles podem dizer o que quiserem, mas o que eles dizem eu nem perco tempo! Somos todos iguais e todos querem o mesmo, tachos, poleiro é onde querem estar, nem que para o conseguir, se apresentem no domingo à missa.
- Esses já eu conheço. De católicos têm pouco, são uns fingidos.
- Assim estamos, compadre. E se quer que lhe diga, estou-me marimbando para o circo que montaram. A minha missa é outra!
- Compadre, mas que diferente está agora o mundo! Até a Quaresma mudou e hoje riem de quem faz jejum. O senhor prior bem se farta de dizer para nos preparamos. Mas qual quê?! Ao menos o compadre ainda respeita a tradição.
- Tantas renúncias que a gente pode fazer, mas tá quieto! Sacrifícios, mais ainda…
- É verdade compadre!
- Bem, vamos à vida, porque a morte é certa.
- Então, até logo, se Deus quiser!