3.3.24

MALCATA: AS TRADIÇÕES NA QUARESMA

 


   Estamos na Quaresma, tempo que antecede a celebração da Páscoa.
   São 40 dias de jejum e penitência que os cristãos iniciam na Quarta-Feira de Cinzas e termina na quarta-feira da Semana Santa.
   Durante a Quaresma era proibido realizar bailes e outras actividades que provocassem muito barulho, quem não respeitava estes preceitos, estava a pecar, era apontado como pecador e se não parasse, o seu destino final estava traçado, ia para o inferno ou purgatório. Para o céu estava fora de questão…
   Eu ainda gostava de compreender como viviam a Quaresma antigamente. Há na nossa aldeia gente que se recorda dos costumes nesta quadra carregada de enorme paixão, dor e sofrimento. O que vos marcou mais? Têm saudades desses dias e dias de jejum, só a pão e água? Antigamente, durante a Quaresma, a minha mãe pedia para ir às cruzes, rezar as 14 Estações da Via Sacra. Para mim o ter que ouvir por 14 vezes, o mesmo rosário, numa igreja escura e iluminada só com as luzes das velas de cera, as pessoas vestidas da cabeça aos pés, com roupas negras, lenços pretos nas cabeças, xailes pretos pelas costas, dava mais para chorar que rezar…
   Dos tempos, em que a nossa aldeia pertencia ao Concelho de Sortelha, já não há quem possa testemunhar como passava a Quaresma. Talvez as rezas e orações passassem de geração em geração e é certo que em Malcata, como na maioria das outras terras, a Quaresma celebrava-se mais ou menos da mesma maneira. Seria bom que alguém partilhasse aqui as suas “Quaresmas”, os rituais em que ainda participaram. Não só os costumes e rituais religiosos, mas também os outros costumes, como não podia realizar-se o baile ao Rossio, alguma coisa faziam para passar o tempo!
   Alguém se lembra como era a encomendação das almas? Quem podia ir?
   E que cerimónias mais ficavam marcadas?
   Já quanto aos párocos (senhor prior) do Padre José Miguel não tenho qualquer memória. Seguiu-se o Pe. Lourenço que acompanhei até falecer, pois paroquiou
a paróquia de São Barnabé de Malcata durante a minha infância e juventude, tenho recordações dos rituais quaresmais e outros. Uma tradição muito enraizada nas paróquias do Norte do país e que nunca presenciei em Malcata, foi a Visita Pascal.
   Mesmo depois de terem passado muitos anos, mesmo que o que se faz hoje já nada tem a ver com as tradições antigas, mesmo assim, seria bom reunir estas coisas e tradições, que durante muitos anos foi o orgulho dos nossos antepassados, dos nossos avós e pais. É que se não se fizer nada, lá se vão as tradições para o cemitério e daqui a alguns anos já ninguém se lembra de nada disto. Há coisas que importa preservar, mesmo que seja para arquivo e memória futura, pois devemos continuar a guardar o legado que nos foi transmitido.





 

COMPADRES À CONVERSA

 

Adro da igreja de Malcata

- Então, compadre, donde vens a esta hora?!
- Donde hei-de vir?! Da igreja! Então estamos na Quaresma…e fui cumprir o meu dever, estou a preparar-me para a festa da Páscoa.
- Ui ui, mas ainda falta tantos dias, ainda tens tempo para pensares nessas coisas.
- Pois, tens razão, compadre, mas eu gosto de fazer as coisas com tempo e sem pressas!
- Olha quem anda numa roda-viva e sem paranças, são os políticos. Eles podem dizer o que quiserem, mas o que eles dizem eu nem perco tempo! Somos todos iguais e todos querem o mesmo, tachos, poleiro é onde querem estar, nem que para o conseguir, se apresentem no domingo à missa.
- Esses já eu conheço. De católicos têm pouco, são uns fingidos.
- Assim estamos, compadre. E se quer que lhe diga, estou-me marimbando para o circo que montaram. A minha missa é outra!
- Compadre, mas que diferente está agora o mundo! Até a Quaresma mudou e hoje riem de quem faz jejum. O senhor prior bem se farta de dizer para nos preparamos. Mas qual quê?! Ao menos o compadre ainda respeita a tradição.
- Tantas renúncias que a gente pode fazer, mas tá quieto! Sacrifícios, mais ainda…
- É verdade compadre!
- Bem, vamos à vida, porque a morte é certa.
- Então, até logo, se Deus quiser!

13.2.24

REABILITAÇÃO DE COLECTOR DE SANEAMENTO EM MALCATA

 

                        MALCATA: ESTÁ DIFÍCIL GOSTAR DISTO!

      

      Pensava eu que a Câmara Municipal do Sabugal já se preocupava mais com a sua população e a sua qualidade de vida. Mudou o executivo, mudou o deliberativo e não mudaram os empreiteiros que nos vão fazendo sofrer cada vez que executam obras públicas nas freguesias do concelho do Sabugal. Eu até desculpava e compreendia que assim se continuasse a fazer as coisas como até aqui. O problema é os acidentes inesperados, que podem surpreender toda a gente, até os senhores empresários que dão trabalho a muitas pessoas e assim, não precisam de abalar para fora do concelho do Sabugal a fim de ganhar a vida.
   Será que a Câmara Municipal não tem nos seus quadros de pessoal as pessoas que fiscalizam as obras, mesmo que sejam empreitadas pagas pela Câmara? Há ou não regras obrigatórias que devem ser implementadas pelas empresas que executam as ditas obras públicas? Para que escrevem os Cadernos de Encargos, os Planos de Segurança, Saúde e Higiene e até a obrigação de afixar, em local visível, o Aviso referente à obra em causa com a informação do dono da obra, valor que vai custar, prazo de execução, empresa responsável dos trabalhos, etc.?
   É para mim uma autêntica falta de respeito aquilo que se está a passar na nossa freguesia. E as imagens que se seguem, levam-me a perguntar por que razão a Câmara Municipal não se preocupa com o bem-estar da nossa população e nem sequer pensa nas pessoas que nos visitam. Então ocorreu um inesperado colapso de um colector de saneamento na Rua Vale da Fonte e não se tomaram as medidas necessárias para avisar as pessoas que era perigoso passar ou circular por essa rua? As obras de restauro do colector estão a decorrer durante o horário normal de trabalho. O colector está situado quase no eixo da via, com terra, lama e água a envolver a área, andando as máquinas e trabalhadores atarefados em realizar bem os trabalhos. Tudo isto parece normal e sabemos todos que uma obra traz sempre transtornos a quem por elas tem de passar. O que já não é normal é a ausência de sinalização das obras e dos constrangimentos que provocam. Pior e mais grave é quando a rua tem dois sentidos e em nenhum deles existem avisos ou sinais de obras. Na nossa aldeia ouvi estes dias alguns desabafos e houve até quem fosse falar com os senhores da Câmara e lhes chamasse à atenção para o que estava a ocorrer na tal rua do colector de saneamento.
   Há quatro anos também ocorreu ali uma inesperada obra, por sinal, por causa do tal colector e dos tubos que não tiveram capacidade para aguentar tanta água, lixo e areia. Vi abrir uma vala e andaram a mexer nos canos e a fazer obras à volta do colector, com reposição de materiais ao seu redor e colocação da calçada. Desconheço o valor pago por esses trabalhos de há quatro anos, mas sei que vão ser pagos 16.000 euros pelas que agora estão a executar.

Alerta enviado em 2020


   Infelizmente pelo que me vou apercebendo, a falta de informação e avisos grassa por quase todas as obras e ninguém se preocupa nem protesta com os responsáveis.
   É obrigação do cidadão lutar contra este estado de coisas, pois um dia poderemos acordar dentro de um grande buraco porque não sabíamos que a fita vermelha e branca ou uns ferros foram lá postos para avisar.
    Seguem as imagens da obra:  

        



Imagem da documentação da CMS






Qual foi a principal causa do colapso inesperado do colector de saneamento na nossa freguesia?








   


AI ENTRUDO AI ENTRUDO

 

   O Entrudo é sinal de alegria, muita diversão e borga até às tantas. É uma festa de origem pagã e comemora-se sempre numa terça-feira, 47 dias antes do Domingo de Páscoa. No dia do Entrudo havia vários momentos de cariz comunitário e toda a gente assinalava o fim do Inverno e a chegada da Primavera. Mas depois, a religião veio mudar algumas coisas e uma delas foi encurtar os dias de festa.  Contudo, nunca conseguiu acabar com o Entrudo porque o povo o festeja antes do início da Quaresma. Assim o Entrudo festeja-se até à Quarta-Feira de Cinzas.


É uma alegria quando os entrudos entram no lar da aldeia.

   - Olha que entrudos! Ai mãe do céu, mas que acareios! 
   - Ó Maria, hoje é entrudo. Canta e ri, porque esta vida são três duas e o entrudo dois! 
   - Tens razão Manel Zé! Ai se fosse noutros tempos...quando eu era mais rapariga, 
      o entrudo era para a borga…

   A conversa foi interrompida pelos entrudos que entraram na sala. 
   - Olhem estes, quem são estes entrudos?
     
   Era assim o entrudo na nossa aldeia. Um dia de trapalhadas e trapalhões, o que procuravam era a alegria, a boa disposição, esquecer as amarguras do dia a dia e andar na farra até cansar.
   Nestes últimos anos lá vão aparecendo alguns mascarados, que combinam entre si o que vão fazer no dia de Entrudo. Um ou dois homens e meia dúzia de percorrem as ruas da aldeia, entram no lar de idosos e a alegria sente-se nas pessoas. 
   Tempos houve que neste dia a associação cultural e desportiva preparava um desfile de entrudo e durante a tarde animavam as ruas, os cafés e o lar da aldeia.  
   Agora, o entrudo mudou-se para a cidade do Sabugal e Malcata nunca mais sentiu o Carnaval! Desde que a Câmara Municipal propôs atribuir um subsídio às associações que participarem no desfile do Carnaval do Sabugal, o entrudo morreu e está praticamente desaparecido das tradições populares.