2.8.24

MALCATA: UMA ALDEIA EM FESTA

 


   Pelas ruas e cafés de Malcata durante o oitavo mês, fala-se francês por várias razões.
   Os dias e as noites são demasiadamente longos e são muito poucos os que respeitam as horas de quem precisa de dormir.
   Há carros com matrícula francesa em qualquer nesga de rua ou curral.
   A aldeia parece ter sido invadida por gente de bem com a vida, com tempo e dinheiro para gastar. Afinal, a maioria das pessoas estão em tempo de férias, chegaram cansadas da viagem e chegados à aldeia, há que aproveitar todos os segundos para respirar os ares e esquecer as rotinas de ir todos os dias trabalhar.
   O maior grupo de emigrantes vem das terras francesas. A França foi e continua a ser o destino de eleição. Argentina e Brasil penso ser outros dos destinos dos malcatenhos.
   A freguesia durante um mês muda da água para o vinho. Tudo é a triplicar e algumas infraestruturas não foram concebidas para tanta procura e sucumbem ou esbracejam por todos os lados e de todas as maneiras para satisfazer os desejos e os prazeres.

   O Mundo mudou e os emigrantes da nova geração escolhem viajar de avião até ao Porto e Lisboa e chegam a Malcata em carro alugado. Os de mais idade, continuam a viajar nas carrinhas de transporte de passageiros e com a vantagem de poder trazer mais bagagem e a comodidade de descer à porta de sua casa.
  
      Malcata é uma terra, dizem, onde há tudo e por vezes falta muita coisa porque a procura é maior que a oferta. E Malcata é também uma terra onde não há talho, peixaria, padaria ou pastelaria. Estas coisas do “cabaz essencial” compram-se nos dois minimercados e aos vendedores que percorrem a aldeia com vários produtos.
     A Festa, que por costume, se celebra no 2º Domingo de Agosto, alegra-se muito mais com a presença dos emigrantes e das pessoas que trabalham e vivem fora da terra.
     Esta semana, há festa em Malcata. O programa já foi divulgado e há esperanças que vai correr bem, com muita gente, muita alegria, principalmente nos mais jovens. A animação não vai parar e não podia ser de outra forma.
   Assim, no próximo dia 11 de Agosto, segundo Domingo, irá realizar-se a Festa em Malcata, com banda de música, missa solene e procissão, ramo e bailes.



   



19.7.24

APROVEITEM A VIDA

 

                                    




   Neste dia apresento a toda a família, os meus sentimentos de profundo pesar à leitora do meu blog Malcata.net (www.aldeiademalcata@blogspot.com) pelo falecimento do seu estimado marido, também ele leitor do blog, José Maria Antunes Maio.
  Qual é a probabilidade de morrer na véspera de celebrarmos o nosso aniversário de nascimento?
   Foi esta pergunta que me deixou a pensar depois de saber da morte de José Antunes. Três anos mais novo que ele, faz-me pensar que posso ser um dos próximos. Todos sabemos que não ficamos neste mundo para sempre e ninguém sabe antecipadamente o momento desse fim. Às vezes acontecem-nos ou assistimos a situações que, não nos parecem naturais, não são normais e até pensamos que Deus estava a dormir ou distraído, pois ninguém imagina que no dia seguinte já não possa celebrar o dia do seu nascimento. Ah! Bom era que houvesse uma forma, acessível a todos, para adiar a nossa morte.
   

12.7.24

MALCATA: HISTÓRIA DO NICHO

   Tudo tem por trás uma história. 

   Hoje vou dar-vos a conhecer um pouco duma dessas coisas com história que qualquer malcatenho vai gostar de saber. Aconteceu há 56 anos, portanto, vamos viajar na máquina do Tempo até ao ano de 1968, num dia de festa em Malcata. Imaginem-se no dia 7 de Julho de 1968 a participar na inauguração do nicho da Senhora dos Caminhos
(ou de Nossa Senhora dos Caminhos) na Fonte da Cal (Fontacal).
   A ideia do nicho e depois a iniciativa surgiu do grupo de três professoras que nessa época ensinavam a ler e a escrever às crianças da nossa terra. Os seus nomes:
   D. Maria do Carmo Corrais,
   D. Isabel Ramos Barroso,
   D. Dulce Borges Alexandrino.

   A obra ficou por conta do senhor Joaquim Vieira, construtor civil, que também ofereceu a mão de obra, materiais para a sua construção e foi incansável enquanto a obra se construiu.
   Neste dia 7 de Julho a aldeia viveu um dia de festa, com muita alegria e religiosidade.
   Lembro-vos estas palavras:
   “ Tudo correu da melhor maneira e outra coisa não era de esperar das pessoas de Malcata. É por isso que aqui ficam para todos vós os nossos agradecimentos, parabéns
e uma prece muito fervorosa a Nossa Senhora: que a Senhora dos Caminhos nos
abençoe e nos proteja em todos os caminhos da vida”, foram as bonitas palavras da professora Dulce Alexandrino.

                                                                                  José Nunes Martins

Continua...



11.7.24

O QUE ESTÃO A FAZER COM A FESTA EM MALCATA?

 


   Estamos a um mês da festa em Malcata. O mês que terminou há poucos dias serviu de estágio de preparação para o mês de Agosto, que não fica atrás do mês dos santos populares. O mês de Agosto é aquele mês que todos os domingos se celebram festas em honra de santos e santas.
   Eu também gosto de festejar, mas confesso que não é no mesmo estilo e género como a maior parte da gente gosta. Muitas pessoas, multidão toda aos empurrões, mesmo até nas filas do bar, das carnes, dos carrosséis, das farturas ou das pipocas. Conviver sim, mas num estilo mais tranquilo, mais calmo e não me sentir mais do que sou, exibindo para os amigos as mãos a agarrar no copo cheio de cerveja e aos pulos andar em volta da caixa de minis. Muitos dos festivaleiros é assim que gozam nas festas, pois são todas iguais umas das outras e as diferenças só o local dos festejos. Nestes últimos anos a programação das festas é mais do mesmo só que em dias e lugares diferentes, na sua maioria, abençoados por pessoas santas.
   E como já é costume, a festa na nossa freguesia têm-se realizado no 2ºDomingo de Agosto. Normalmente são três dias de festa organizada pela comissão de mordomos. As cerimónias religiosas estão sob a responsabilidade do pároco da freguesia. Todos os outros eventos que se fazem, há muitos anos que saíram da esfera da Fábrica da Igreja e são os mordomos que se ocupam e assumem a organização de tudo.
   Ultimamente na nossa terra o desconhecimento e a incompreensão do território, dos nossos valores e também de pessoas com alguma falta de sensibilidade, noto uma crescente falta de sentido crítico quando os factos acontecem. Por desconhecimento, por receio de ser incómodo e de ser incomodado, há silêncios que são gritos.
   Na aldeia a terra é da comunidade, nela vivem todos os que querem lá estar em permanência ou nos tempos disponíveis para poder estar. Nesta terra muitas pessoas construíram a sua habitação ou herdaram. Por ser assim, há que cuidar bem dela.
   A aldeia que eu chamo minha não é uma ilha, mesmo que a vejamos rodeada por muita água. Vivemos num território agrícola, com muitos usos e costumes bem enraizados. E a festa no mês de Agosto é um desses costumes. Mesmo com as mudanças, em que o profano tomou conta do que mais rende, do bar e do ramo.
   É com bastante preocupação que escrevo, mas sinto que muitas pessoas estão a passar uma esponja pelas festas mais antigas, da forma como os mordomos trabalhavam e organizavam. Numa comissão de mordomos nem todos eles sabiam ler e escrever. As responsabilidades de tesouraria ficavam a cargo dos que liam e escreviam. Havia sempre a preocupação de encontrar alguém dos mordomos que se dedicasse às contas do deve e do haver, do saldo e da dívida, pois quando o dinheiro não chegava, eram os mordomos que assumiam o fecho das contas.
   Não estou a pôr em causa a seriedade das mordomias, pois tenho certo de que para mim todos tentam fazer o melhor e todos querem que seja uma festa grande, forte e que todos se divirtam. É assim que o povo espera que aconteça em todas as festas.
   O ano passado, a festa foi boa e divertida, quem lá esteve viu as pessoas a sorrir e a dançar, a beber e a aplaudir. Correu sempre tudo muito bem, tão bem que não tinham tempo para tomar apontamentos e transcrever para o livro as várias fontes de receitas e as despesas. No fim de tudo, sabe-se hoje que, alegadamente, aconteceram coisas estranhas que deixaram o povo enfadado.
   É caso para perguntar: o que estão a fazer com a festa de Malcata?