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quinta-feira, 19 de junho de 2025

SÃO JOÃO NA CIDADE DO SABUGAL

 

                                                                     Obrigado a todos, todos todos.
                                                                           (Foto da internet)

      À medida que a cidade é transformada pelo homem que dá as ordens para executar as obras, sentimos que esquecem as tradições e o passado. E as Festas Populares, que também fazem parte da vida da cidade, não se reduzem à notoriedade dos grupos de bandas musicais ao tamanho do recinto onde tudo se desenrola. Ou seja, as Festas da Cidade do Sabugal estão cada vez mais animadas, mais promovidas fora do concelho e até já chegou aos espanhóis do outro lado da fronteira. Tudo está bonito e eu próprio vi o trabalho dos homens que, numa tarde escaldante de domingo, espalhavam passadas de areia sobre a terra e cobriam com “relvite” verde. É preciso muito amor à “camisola” e dedicação aos Santos Populares para alguém trabalhar naquelas condições. Esta foi a imagem que eu guardo das festas e do tão anunciado investimento do município que só acontece porque quem comanda os destinos do território sabugalense se esforça, pensa e planeia para outros executarem conforme manda quem pode.

   Se ao “investimento” deste ano, juntarmos os outros “investimentos” como o do Largo da Fonte, o que fizeram na Rua Cinco de Outubro, da Praia das Devesas, a Via pedonal (!!) lá para cima, o que podemos dizer é isto: vestimos a cidade e mandamos as pessoas festejar fora das suas muralhas. A festa passou para as mãos de quem se acha dono de todo o reino, quem tem vida na urbe antiga que apanhe o comboio da modernização…
   Umas Festas da Cidade tão compactadas e de costas voltadas para o passado, por mais dias que lhe acrescentem e nomes sonantes paguem para nela participar, por mais palavras bonitas de transformação da temática das festas populares, nem sequer aos calcanhares dos Açores e da Madeira nós chegamos. Até as cidades de Lisboa, Porto, Braga…perceberam que as Festas da Cidade são para ser feitas por toda a cidade! E chamar investimentos no concelho, é afirmar e querer convencer o eleitor que aprenderam a investir na promoção do território organizando as Festas da Cidade, que são 4 a 5 dias pagos a preço de ouro, sem controlo e sem contabilizar o retorno. Isso já não é importante, o povo vai de barriga cheia e alegre, nem se importa de onde veio e para onde vai. Nos arquipélagos gasta-se dinheiro na promoção do território, da sua história, gastronomia, paisagem, festas, investem criando nos visitantes a necessidade de ir conhecer e ficar uns dias a dormir, a passear, a comer, a apanhar flores ou sol ou saborear um cozido especial…sim é retorno financeiro que fica graças também às festas
espalhadas por todo o território.
   A Festa da Cidade do Sabugal – São João 2025 já começou. Os sabugalenses que vivem no concelho são os primeiros a desejar festejar. Também são eles que diariamente sentem as necessidades de que precisam e são eles que mandam nas suas próprias vidas e terras. Vivemos em democracia e estamos conversados. Isto não vai para lá do desabafo de quem também se sente sabugalense mesmo não residindo junto de vós.
   Viva o Sabugal e todos os que vão por bem.

Abertura das Festas da Cidade Sabugal 2025
(Foto da internet)


  

segunda-feira, 9 de junho de 2025

MALCATA: CONHECER A HISTÓRIA

 


      MALCATA  FOI NOTÍCIA HÁ 57 ANOS!



1- “Vai bastante adiantada a construção do nicho de Nossa Senhora dos Caminhos”
   A iniciativa veio das professoras D. Maria do Carmo Corrais, D. Isabel Borges Alexandrino. Um mês depois, a 7 de Julho do mesmo ano, foi solenemente inaugurado.

   Generosidade do sr. Joaquim Vieira, construtor e que desde 1964 vive na aldeia, oferecendo a direcção e a mão de obra do nicho e anexos.
  
   in Amigo do Sabugal, ano 7, nº23 de 09-06-1968


   O primeiro nicho construído na nossa freguesia era uma obra simples e ao mesmo tempo, rara de encontrar igual. E a sua primeira localização, à saída da aldeia e junto à estrada antiga, a uns 20 metros da ponte velha foi inaugurado em 1968.
   De acordo com o jornal “Amigo do Sabugal”, de Junho de 1968, que pode ser consultado na Biblioteca do Sabugal, a sua construção foi uma iniciativa das no âmbito professoras primárias, que com o apoio e o espírito da Mocidade Portuguesa propagandeava uma campanha nacional para construir nichos dedicados à Nossa Senhora dos Caminhos. Ainda, de acordo com o “Amigo do Sabugal”, a inauguração solene aconteceu a 7 de Julho de 1968.
   E a história vai continuar…estejam atentos! Houve muita colaboração do povo e algumas histórias após a inauguração...
   

Nicho dedicado a Nª Senhora dos Caminhos
na antiga estrada da aldeia de Malcata. 
  

Fotos de Maria Lourenço )

A ALDEIA JÁ FOI ASSIM


 

Escola Primária da aldeia encerrada!

   Nasci numa aldeia e lá passei toda a minha infância. Andei pelas ruas a brincar e a respirar os aromas campestres. Na casa dos meus pais aprendi o que era trabalhar a terra, a importância dos animais, como o burro e as vacas, as cabras, coelhos, galinhas e porcos. Foi na Escola Primária que havia na aldeia que aprendi a ler e a escrever. Depois do exame da 4ª Classe, para continuar a poder estudar, tive de sair e fui parar bem longe. Nas férias, voltava à aldeia porque ali viviam os meus pais, a minha família e os meus amigos de infância. Que bem me fazia aquele regresso!
   A aldeia era pequena e tinha sempre saudades e vontade de estar uns dias naquele paraíso, com pessoas a ir e a vir, uns carregavam coisas e outros carregavam os carros de vacas e os burros com tudo e mais alguma coisa, até acharem que estava com a carga completa. A aldeia tinha vida de dia e de noite. Começava a fervilhar ao nascer do sol e sossegava ao fim da noite. Moravam muitas pessoas e pareciam felizes, mesmo com pouco, não havia muita coisa, portanto, não fazia falta nenhuma, logo chegariam dias melhores e vida mais desafogada era bem-vinda.
   Hoje, ainda há gente à espera que algo de diferente aconteça!




                                                       NOUTROS TEMPOS...



A ponte era uma passagem
Igreja de São Barnabé

sexta-feira, 30 de maio de 2025

BEM VINDOS A MALCATA

 

Rio Côa



   Ainda não passou muito tempo em que muitos dos nossos avós e pais eram analfabetos. Mesmo depois de haver escola em Malcata, havia muitas crianças que não frequentavam a escola e viveram a sua vida até ao último dia, sem saber ler e escrever.
   Isto justifica ainda hoje o estado cultural e económico do nosso povo. A subordinação dos mais fracos pelos mais fortes, poderosos e que sabiam ler e escrever, que ao longo do tempo construíram barreiras invisíveis, mas permanentes. 
   Alguns destes erros foram corrigidos outros não tiveram remédio e também permaneceram durante muitos anos.
   A aldeia de Malcata tinha uma única estrada para entrar e para sair. O rio Côa era mais uma barreira e não unia os de cá com os de lá. As pontes não existiam, só os pontões e poldras. Nenhuma destas ligações permitia a circulação de automóveis ou mesmo carros puxados por uma junta de vacas. Quando os lavradores se afoitavam a atravessar o rio para a outra margem, faziam-no nos sítios de menor caudal de água e
com maior segurança nas épocas de maior calor.
    E o povo de Malcata aguentou o isolamento, uma única estrada e uma única ponte que unia as duas margens da ribeira que passava pelas terras do Bradará, em direcção ao Rio Côa. Foi assim que a nossa aldeia saiu do beco em que estava, porque as saídas que havia para Quadrazais e Meimão, eram caminhos de passagem para as terras de cultivo e só iam até certo ponto, seguindo depois pelos carreiros que os animais de carga serpenteavam até chegar às duas povoações vizinhas de Malcata.
   A abertura da estrada florestal, conhecida também pelo nome de Caminho Rural, que liga Malcata ao Meimão e a Quadrazais, acabou com o beco sem saída. Duas novas saídas que resolveriam as dificuldades (na opinião geral), o isolamento, a vinda de pessoas de outras terras, mais negócios e mais entreajuda, não passou de uma miragem.
   Os tempos estão a mudar e agora quem não for de Malcata e desejar casar com uma moça malcatenha, está livre de pagar o dote de outros tempos. Não há fronteiras, nem portas fechadas com trancas e qualquer pessoa que, venha a Malcata, se vier por bem,
venha ela e mais cinco dos seus amigos.


Caminho Rural para Quadrazais

terça-feira, 27 de maio de 2025

A PISCINA DE MALCATA

 

No princípio foi assim em Malcata
                                                                         

   O caso que vos trago aqui é o que diz respeito à praia fluvial. Sim, e bem, a Junta de Freguesia teve a ideia de construir uma praia fluvial. Então porque se deixou a ideia de “praia fluvial” e ser Zona de Lazer? O que falhou? A piscina flutuante foi saudada por toda a gente e até 2019 era a estrela da “praia fluvial de Malcata”.
Deve ter acontecido coisa muito gravosa para desde a pandemia não regressar às águas da albufeira. Aconteceu o que aconteceu e daquilo que eu conheço, ou seja as pessoas da aldeia, lamentam, e com razão, já que a piscina foi abandonada à sua sorte, como as imagens mostram. Ora o que se passa é que, de uma forma resumida aquilo não se trata de uma praia fluvial, mas sim de uma Zona de Lazer, porque o Plano de Ordenamento da Albufeira do Sabugal não permite estruturas sobre as águas naquela área próxima da ponte porque é uma área de protecção
às estruturas e à segurança das pessoas.
   Infelizmente, os habitantes da nossa aldeia não se interessam e delegam todas as decisões e discussões na Junta de Freguesia. Há muitos anos que esta regra está estabelecida na freguesia e ninguém parece preocupar-se, nem sequer se manifestam publicamente do seu descontentamento sobre a forma de trabalhar dos senhores da Câmara e da Junta. Até hoje, todas as minhas análises e todos os alertas que lancei, não deram em nada e não mudou para melhor. E sendo um espaço maravilhoso, que todos elogiam, tudo podia ser diferente com a construção do tão falado e já prometido paredão. Com essa obra feita com responsabilidade,
Malcata passava a desfrutar de um lago com água permanente, as estruturas de segurança da barragem ficariam fora desse lago, logo desapareceriam as restrições e a piscina flutuante podia ser instalada de novo.
   Termino com a publicação de uma das promessas que foi feita publicamente aos malcatenhos em 2021. Leiam devagar e tirem as conclusões.

Promessa de Vítor Proença em 2021


quarta-feira, 14 de maio de 2025

MALCATA: A PROCISSÃO VAI NO ADRO

                                                               Igreja Paroquial e adro em Malcata
 

   A requalificação do adro penso que é pacífica para a maioria das pessoas de qualquer aldeia. E no caso do nosso adro da igreja paroquial, vai ficar mais amplo, mais desafogado e mais aberto e coloca a nossa igreja mais em harmonia com o espaço envolvente.  Para que isso seja assim, os familiares que eram os donos legítimos da casa que vai ser demolida, por muitas saudades e nostalgias possam ainda sentir, merecem um agradecimento e consideração de todos.
   Quando foi apresentada a ideia da requalificação do adro, todos os que participavam na reunião concordaram e apoiaram a iniciativa. A intenção e as ideias para as obras que ali irão decorrer, devem ser coordenadas por pessoas credíveis e com experiência na área de planeamento e arquitectura. Um dos elementos que vai fazer parte das obras é uma escultura alusiva aos carvoeiros de Malcata. Esse elemento tanto pode ser uma estátua, como até um painel exposto e integrado num suporte, por exemplo, na parede da casa que vai ali
continuar a existir e que tem entrada pela Rua da Ladeirinha. Assim se pode transformar o adro valorizando o património da freguesia. Como sabem, o adro noutros tempos era o palco das festas, da arrematação de bens para as pagar, era lugar de encontro e conversas. Hoje é um espaço vazio, confinado e sem grandes vistas para o horizonte. Tal como no passado, acreditamos que depois das obras,
voltaremos a ter ali um espaço de encontro, de conversas, de manifestações culturais.
   O adro para além do seu símbolo religioso que representa, ao ter melhores acessibilidades das pessoas à igreja, à Casa Mortuária e sanitários, vai também servir de homenagem aos carvoeiros, uma das actividades que tanta dinâmica e importância trouxeram à freguesia.
    O primeiro passo já foi feito com a compra da casa que vai ser demolida. O local já mereceu a visita de uma arquitecta credenciada e bem-conceituada neste género de obras. Depois de reunir com a AMCF e a Fábrica da Igreja, estando presentes todos os membros, incluindo o sr. Padre Eduardo, mesmo debaixo da chuva, fomos visitar o lugar e recolheu informações e imagens, que mais tarde a ajudarão na elaboração do projecto. Falta só dizer o nome da arquitecta que, achamos ser uma boa escolha: Andreia Garcia Rodrigues.

terça-feira, 13 de maio de 2025

MALCATA É O REFLEXO DE SI MESMA


  

   Não basta chegar a presidente, a secretário ou tesoureiro da junta de freguesia ou ser membro da assembleia de freguesia. E não basta ir às sessões da Assembleia de Freguesia. Há que fazer mais do que marcar a presença física nas reuniões. É preciso estar motivados para resolver os problemas da nossa comunidade. E entre os vários problemas que hoje enfrentam os cidadãos é a falta de informação nas redes da internet. Não há forma de ignorar a sociedade em que vivemos. Hoje, a internet é o veículo que tem capacidade de levar as boas e as más notícias às comunidades. A ausência das Juntas de Freguesia na internet deve ser motivo de protesto dos cidadãos da freguesia. As instituições políticas e administrativas públicas, como são as autarquias, são mais importantes e mais fortes que as acções dos que exercem os lugares do Poder Local Administrativo, nomeadamente as Juntas de Freguesia.
   A confiança e a transparência são essenciais para garantir que todos se sintam bem representados e informados. Uma Junta de Freguesia é essencial para a construção de uma sociedade democrática, livre e deve construir pontes que aproximem os cidadãos. E nas freguesias como Malcata, a Junta de Freguesia continua a ser uma instituição respeitada por todos. Da mesma forma, quem nela trabalha, está ao serviço dos cidadãos. Na minha opinião, um dos melhores exemplos de confiança na Junta de Freguesia é confiar nas pessoas que se voluntariaram para servir a comunidade. E nunca deve ser banalizada e devia ser
uma preocupação constante manter os caminhos e as pontes ao serviço da democracia participativa.
   A verdade é que em Malcata, e mais precisamente nos últimos mandatos, o que acontece é que se ignora o papel da informação, o valor da transparência e banaliza-se tudo ou quase tudo aquilo que não nasça no berço do poder. Facilmente esquecemos o papel da Junta de Freguesia e até parece que não existem caminhos e pontes que nos permitem viver em liberdade.
   O povo merece ser respeitado e quem governa esse povo tem de se dar ao respeito. Como cidadão e malcatenho não posso aceitar tanta falta de comunicação e informação de interesse geral para quem vive na freguesia e quem vive mais distante. Os valores alcançados com o 25 de Abril de 1974 têm de ser valorizados e praticados todos os dias. 

   Quando é que Malcata tem motivos para sorrir?
   Quando é que em Malcata vamos ter uma Junta de Freguesia empreendedora, sonhadora e cortês, transparente, a governar com empatia e elevação?
                                               
                                                     José Nunes Martins

sábado, 3 de maio de 2025

O GRANDE APAGÃO

                             


   A vida das pessoas está dependente de muitas interligações e comunicações. Todos gostamos de ver o chão que calcamos, seja de dia ou de noite, num quarto de hotel ou na sala lá de casa.
O que aconteceu, no passado dia 28 de Abril, foi que a luz eléctrica falhou e todo o país ficou em choque, sem electricidade, tudo foi falhando c desmoronando com se fosse um castelo de cartas. Fui à rua saber as razões de não podermos acabar de estufar a carne que eu já havia provado e que ainda precisava de mais cozedura até ficar no ponto rebuçado.
   Portugal estava sem energia eléctrica, quem a tinha é porque estava ligado a um gerador ou carro eléctrico com 100% de carga nas baterias. Os corredores de casa e o WC entrávamos devagarinho aos apalpões até sentir que já nos orientávamos. Os vizinhos, coitados, um casal jovem, que vinha com as sacas cheias de compras do supermercado, olharam para as portas
dos dois elevadores e viram o sinal vermelho, ambos avariados e ali parados no rés do chão. E agora? Perguntaram um ao outro. Sem elevadores, há que ganhar vontade e força para chegar ao 5º Esquerdo Frente. Não tinham outra alternativa e iniciaram a subida sem mais comentários.
    Há muito que não vivia coisa igual, mas se a máquina do tempo pudesse voltar aos anos de 1968, 1969. 1970, em muitas aldeias deste nosso país, que hoje tanto se orgulha das energias verdes, seja produzidas pela velocidade dos ventos e o calor dos raios solares, apagões eléctricos, eram tantos que não têm conta e nem sequer ficaram registados. No Inverno, o frio, a chuva, a neve e o vento forte ou um trovão mais forte, era suficiente para apagar as lâmpadas e nada do que estivesse ligado às tomadas funcionava. Como nesse tempo não havia telemóveis, não havia internet, o povo da aldeia aguardava que a luz voltasse. Estes apagões não eram assim tão assustadores como o do 28 de Abril. As lâmpadas não acendiam e durante o tempo que demorasse a chegar a luz, as pessoas descansavam, sentavam-se ao lume e faziam caraba uns aos outros, iam continuar o trabalho no chão e no pior dos cenários, ao fim do dia quando chegassem a casa, quem sabe a luz já tinha voltado. Os constrangimentos causados pela falha da luz aceitavam-se como normais e até compreendiam que quando estavam os emigrantes na aldeia, o consumo aumentava logo e sobrecarregava a linha que não aguentava, queimava os fusíveis da cabine, a única que distribuía a luz para toda a aldeia.
   Até nestas coisas, nas falhas de luz, quem vive ou viveu numa aldeia do interior do nosso país, foi achando normal isso acontecer.
   Se a luz faltava, a vida na aldeia continuava e tudo ficava igual, só não acendiam as lâmpadas. Muitos nem deram conta que houve um grande apagão, trabalharam como noutro dia qualquer.

sábado, 19 de abril de 2025

NA PÁSCOA EM MALCATA TOCAVAM AS CAMPAINHAS E OS SINOS:ALELUIA!

 

   O mês de Abril tem sido bastante chuvoso, com ventos fortes nos montes e grande ondulação no mar. Neste Sábado de Aleluia o sol já deu um pequeno ar da sua graça. Agora mesmo, ouço a água da chuva a bater com força nas vidraças das janelas, um final de dia bastante invernal. Para assustar só falta ouvir os trovões.
   Lembra outras Páscoas que passei na aldeia, com muita chuva e relampejos que assustavam toda a gente. Na Páscoa, as pessoas , mesmo as que estavam longe, apareciam na aldeia para assistir às cerimónias religiosas e passar o domingo de Páscoa com a família.
    A Páscoa era antecedida da quaresma e os três dias anteriores ao Domingo da Ressurreição, eram vividos como se estivéssemos a participar num funeral, com cantos e rezas tristes, as pessoas andavam os dias mais recolhidas, com roupas escuras sobre o corpo, de lenço preto na cabeça e xailes pretos, todas as mulheres eram iguais, dificultando imenso saber-lhes os nomes sem falar com elas.
   As minhas lembranças de criança guardo-as como se fossem um filme a preto e branco, das cerimónias dos Passos do Senhor e da Procissão do Enterro do Senhor, que despia por completo o interior da igreja paroquial. Não ficava um santo, todos eram retirados e a luz das velas criavam um ambiente que a mim me metia medo. Detestava o som das matracas, aquilo não era nada bom de ouvir, nada a ver com o som dos sinos, mas o sacristão estava proibido de subir ao campanário, tinha que andar a tocar as matracas, os sinos só depois da missa da Aleluia, a missa da vigília pascal, em que levávamos para a missa campainhas e chocalhos para fazer barulho assim que o senhor prior desse o sinal lá do altar! Aquilo sim, campainhas e chocalhos, sinos e sinetas anunciavam a Vida, a Ressurreição e cantava-se Aleluia, Aleluia.
   Os rapazes, no final da missa de Sábado de Aleluia, corriam para o campanário e esperavam a sua vez de agarrar nos dois badalos e tocar os sinos até dar a vez a outros. O tocar dos sinos da igreja era a forma mais audível de anunciar a Ressurreição, a vitória da Vida sobre a Morte.
   Nas minhas memórias de infância não se encontram cenas da Visita Pascal ou do Compasso. Essa tradição que, é antiga em muitas terras, na nossa aldeia não assisti e penso que nunca fez parte das celebrações da Festa da Páscoa. Mas a propósito do Compasso ou da Visita Pascal, tenho
lembranças de um Domingo de Páscoa em que vesti a batina e com mais dois homens que me acompanharam, durante o dia entrámos nas casas das pessoas desejar boas festas. E lembro-me que o homem da cruz, a certa altura, já o dia ia a meio, saiu-se com estas palavras para mim: “Ó sr. Padre,
tenha cuidado porque pode tombar”. E em minha defesa veio o dono da casa e disse: “Parece-me que ali o Manel Coxo já não se equilibra lá muito bem! Olha se tendes que ir todos ao balão…
   De facto o homem já andava com alguma dificuldade e às vezes notava que ele perdia o equilíbrio, mas ele replicou e disse:
_ Ó Kim, fica tranquilo e descansado porque eu já sou coxo há muitos anos…                          


quinta-feira, 17 de abril de 2025

AS MATRACAS QUE NOS ASSUSTAM

 


   Malcata já foi uma aldeia cuja população era de pessoas remediadas, viviam daquilo que as suas terras produziam. A maioria da população passava os dias a trabalhar nos campos a que chamavam “chão” e se havia grandes lavradores, com grandes áreas de terra arável, a maioria cultivava pequenas leiras e até as juntas de vacas tinham dificuldade em fazer uma boa sementeira, dadas as pequenas dimensões do “chão”. As famílias mais abastadas precisavam de mão de obra e havia algumas pessoas que trabalhavam aos dias, ou à jorna, por isso lhes chamavam jornaleiros. Estas pessoas trabalhavam para outros porque não tinham terras como possuíam os lavradores.
   Além destas duas actividades, lavradores e jornaleiros, havia muitos pastores de cabras, carvoeiros, carpinteiros, sapateiros, moleiros, tecedeiras, costureiras…
   Hoje as coisas são bem diferentes e a festa que se fazia na Páscoa, por exemplo, vestir roupa nova, é um costume já esquecido. Umas semanas bem antes da Páscoa, as costureiras começavam a receber os pedidos para um vestido novo, uma saia ou um par de calças. O processo começava na compra do tecido nos comércios, na ida à costureira, nas duas provas, como se pode ver, era um processo demorado, mas o importante de tudo, era estar pronto a tempo de o vestir no dia da festa.
   Era assim o dia a dia dos habitantes da aldeia. E sempre que morre alguém, toda a aldeia comenta com tristeza a perda, mostram-se tristes pelo que aconteceu. Então durante a Semana Santa, quando amanheciam os dias a tristeza tomava conta dos rostos e das nossas próprias acções.
      As tradições de Páscoa em Malcata são carregadas de simbologias religiosas. De Quinta-Feira até Domingo, nos meus tempos de meninice e que eu vivia na aldeia noite e dia, a Procissão do Senhor dos Passos e a Procissão do Enterro do Senhor, que acontecia entre a igreja paroquial e percorria as principais ruas da freguesia, destaco aquele momento evocativo do encontro de Jesus “Senhor dos Passos” com a sua Mãe “Nossa Senhora das Dores”, que o pregador convidado, fazia de viva-voz durante uns 20 minutos, pelo menos.
   Guardo ainda na minha memória em que também participava nas cerimónias da Semana-Santa na aldeia. As procissões, as canções e as roupas negras escuras, ainda mais tristeza se sentia no ar, no olhar e falar das pessoas.
   Havia um som que ouvia pelas ruas da aldeia que só acontecia pela altura da Páscoa. O barulho era tão arrepiante que se ouvia ao longe, rompia o silêncio e a calma até dos gatos.
Lembram-se do tocar das matracas? E do sacristão que andava pelas ruas a chamar as pessoas para as cerimónias religiosas na igreja? Como é que as matracas conseguiam fazer tanto
barulho e muito estranho de ouvir? Por muito que o sacristão ensinasse como se deviam tocar, poucos lhe ganhavam o jeito para abanar um bocado de tábua e fazer bater o ferro na madeira.
Como não se tocavam os sinos, era ao som das matracas que o sacristão fazia aquele sacrifício de percorrer as ruas e no fim da terceira volta, o padre dava início às cerimónias na igreja.
   A Páscoa é celebrada em tempo de Primavera, com dias mais compridos, mais quentes, os campos começam a renascer do frio do Inverno, veem as flores, as papoilas e as árvores enchem-se de flores. Também a própria natureza costuma vestir roupa nova.
   Um olhar atento ao que se está a passar na natureza e a participação consciente e de desprendimento, podem ser sinais externos da nossa ressurreição. Basta olhar e captar o que Jesus nos quer dizer com a morte, o sofrimento, a paixão pela vida, pelas flores, pelos sinos a tocar em rebate festivo. Porque a vida na Terra se constrói com coisas simples…alegres e belas também. 
                                                                        José Nunes Martins